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ANÁLISE
O Carnaval como metáfora de energia
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Começa quinta-feira (dia 13)
e vai até domingo (16) o "Mídia Tática Brasil", evento que reunirá artistas, ativistas de TVs livres e rádios-piratas, teóricos em
torno de performances e debates
que celebram a diversidade cultural e a generalização do acesso à
criação que novas tecnologias podem oferecer.
O festival de mídia alternativa
cataliza vários formatos de guerrilha simbólica, chamando a atenção para o fato de que televisão,
vídeo, música e rádio caminham
para a convergência na internet.
Experiências musicais, audiovisuais, ideológicas e teatrais reunidas lidam com um ideário libertário que retoma utopias dos primeiros socialistas, séculos atrás.
É como se formas ideais de produção do conhecimento, que
questionam a separação entre o
universo real e o virtual, a emissão
e a recepção, a razão e a emoção, o
popular e o erudito, se tornassem
verossímeis e disponíveis a quem
se dedicasse a enfrentar desafios
inerentes às novas linguagens.
A começar pela mesa de abertura, ocorrida na última sexta-feira,
"Mídia Tática Brasil" transpira o
ecletismo que marca as manifestações cultural/políticas/globais
contemporâneas.
O debate presencial improvável
entre dois titãs do pensamento
cyber, John Perry Barlow e Richard Barbrook -um americano
interneteiro enraizado, liberal
anarquista radical e um inglês
teórico acadêmico do novo mundo- foi enriquecido pelo cenário
brasileiro e pela mediação tropicalista-esclarecida de Gilberto Gil,
ministro da Cultura.
A conversa paulistana entre
Barbrook, autor do manifesto
"cyber comunista" e Barlow, crítico atroz do mesmo, interessa pela
atualização de um debate que pode não ser novidade para ativistas
da net, mas que é pouco conhecido do grande público.
Diante da platéia brasileira, os
dois estrangeiros de língua inglesa, ficaram mais parecidos do que
o usual. Diferentes pelo sotaque,
idade e postura, ambos se dedicam a realizar a sociabilidade descentralizada que a estrutura em
rede sugere. E ambos incorporaram o Carnaval como metáfora
sugestiva da energia que gostariam que a internet carregasse.
Barbrook chegou a mostrar uma
foto do bloco baiano Filhos de
Gandhy.
Pena que o encontro não tenha
sido transmitido ao vivo pela internet. Afinal a troca de idéias ao
sul do Equador, entre personalidades, usualmente vistas como
opostas, demonstra que há espaço para uma estrutura internacional de mídia, menos hierarquizada.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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