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São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2003

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ANÁLISE

O Carnaval como metáfora de energia

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Começa quinta-feira (dia 13) e vai até domingo (16) o "Mídia Tática Brasil", evento que reunirá artistas, ativistas de TVs livres e rádios-piratas, teóricos em torno de performances e debates que celebram a diversidade cultural e a generalização do acesso à criação que novas tecnologias podem oferecer.
O festival de mídia alternativa cataliza vários formatos de guerrilha simbólica, chamando a atenção para o fato de que televisão, vídeo, música e rádio caminham para a convergência na internet. Experiências musicais, audiovisuais, ideológicas e teatrais reunidas lidam com um ideário libertário que retoma utopias dos primeiros socialistas, séculos atrás.
É como se formas ideais de produção do conhecimento, que questionam a separação entre o universo real e o virtual, a emissão e a recepção, a razão e a emoção, o popular e o erudito, se tornassem verossímeis e disponíveis a quem se dedicasse a enfrentar desafios inerentes às novas linguagens.
A começar pela mesa de abertura, ocorrida na última sexta-feira, "Mídia Tática Brasil" transpira o ecletismo que marca as manifestações cultural/políticas/globais contemporâneas.
O debate presencial improvável entre dois titãs do pensamento cyber, John Perry Barlow e Richard Barbrook -um americano interneteiro enraizado, liberal anarquista radical e um inglês teórico acadêmico do novo mundo- foi enriquecido pelo cenário brasileiro e pela mediação tropicalista-esclarecida de Gilberto Gil, ministro da Cultura.
A conversa paulistana entre Barbrook, autor do manifesto "cyber comunista" e Barlow, crítico atroz do mesmo, interessa pela atualização de um debate que pode não ser novidade para ativistas da net, mas que é pouco conhecido do grande público.
Diante da platéia brasileira, os dois estrangeiros de língua inglesa, ficaram mais parecidos do que o usual. Diferentes pelo sotaque, idade e postura, ambos se dedicam a realizar a sociabilidade descentralizada que a estrutura em rede sugere. E ambos incorporaram o Carnaval como metáfora sugestiva da energia que gostariam que a internet carregasse. Barbrook chegou a mostrar uma foto do bloco baiano Filhos de Gandhy.
Pena que o encontro não tenha sido transmitido ao vivo pela internet. Afinal a troca de idéias ao sul do Equador, entre personalidades, usualmente vistas como opostas, demonstra que há espaço para uma estrutura internacional de mídia, menos hierarquizada.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP


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