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São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2003

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MÚSICA

Executivo explica por que gravadora fechou suas portas no último dia 28, após quatro anos e meio de atividades

"Pirataria é o câncer", diz Maynard, ex-Abril

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em quatro anos e meio de vida, a Abril Music chegou a conquistar picos superiores a 10% do mercado musical nacional. Mesmo assim, cerrou portas definitivamente no último dia 28.
Seu presidente, Marcos Maynard, 53, negociava desde dezembro sua venda à multinacional BMG, mas a transação ruiu em 31 de janeiro, quando o Grupo Abril, proprietário da gravadora, interveio e anunciou seu fechamento.
Controlando-se para não chorar durante a entrevista, Maynard falou à Folha um dia antes do fim, para explicar o que deu errado.
 
Folha - O Grupo Abril relacionou o fechamento da gravadora à concorrência das multinacionais e à pirataria. Qual é sua opinião?
Marcos Maynard -
Eles têm razão, falaram certo. Eu só poderia acrescentar que eles estão procurando redirecionar seus investimentos para as áreas em que são especialistas, que é o caso das revistas. Infelizmente, a Abril Music ainda era uma companhia em investimento. O plano era investir por cinco anos para que depois ela pudesse andar com suas próprias pernas. Não deu tempo. Como gravadora nacional não tem o grande colchão que é o catálogo internacional, todo dia tem que fazer marketing dos seus artistas. Em tempo de crise, não se pode esperar que esse catálogo "baby" vá segurar vendas no mercado.

Folha - Fazer uma gravadora nacional é um vôo suicida, mesmo com os bons resultados obtidos?
Maynard -
Não, não, não. Ninguém é louco de fazer vôo suicida. Quando o Grupo Abril me trouxe dos Estados Unidos, sabia que existia mercado. Todo novo negócio representa um risco, que é calculado. A Abril Music não deve nada a ninguém, ela não parou porque perdeu dinheiro.

Folha - Por que o mercado especula que a gravadora tinha uma dívida de R$ 18 milhões?
Maynard -
Não tenho a menor idéia de onde surgiu isso. Como se deve R$ 18 milhões e vai vender por US$ 5 milhões, que é o mesmo valor? Não era para sanar dívida, não existia dívida de nada.

Folha - Por que a venda para a BMG não se concretizou?
Maynard -
Surgiu um boato de que o presidente da BMG estaria indo para a Universal. Justamente por aqueles dias nós íamos fechar o negócio, estava tudo certo. Quando surgiu o boato, houve um rebuliço e uma parada de negociação. O Grupo Abril já havia feito as provisões todas para até 31 de janeiro, então resolveu tomar a atitude de mandar o comunicado.

Folha - O encolhimento mundial do mercado de disco é definitivo?
Maynard -
Nunca se deixará de vender música. Acho que a indústria de fabricantes vai acabar inventando um outro sistema de vender música. Mas a história está tão alastrada, como se faz quando o cara tem câncer no corpo inteiro? Tem que inventar um remédio para curar o câncer no futuro.

Folha - A indústria fonográfica está com câncer?
Maynard -
Não, o câncer é a pirataria, que ficou tão comum que não dá mais para prender todo mundo. Torcemos para que a impunidade seja combatida pelo governo Lula. Temos aí para nos ajudar o ministro da Cultura, que é nosso grande Gilberto Gil.



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