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MÚSICA
Executivo explica por que gravadora fechou suas portas no último dia 28, após quatro anos e meio de atividades
"Pirataria é o câncer", diz Maynard, ex-Abril
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Em quatro anos e meio de vida,
a Abril Music chegou a conquistar
picos superiores a 10% do mercado musical nacional. Mesmo assim, cerrou portas definitivamente no último dia 28.
Seu presidente, Marcos Maynard, 53, negociava desde dezembro sua venda à multinacional
BMG, mas a transação ruiu em 31
de janeiro, quando o Grupo Abril,
proprietário da gravadora, interveio e anunciou seu fechamento.
Controlando-se para não chorar durante a entrevista, Maynard
falou à Folha um dia antes do fim,
para explicar o que deu errado.
Folha - O Grupo Abril relacionou o
fechamento da gravadora à concorrência das multinacionais e à pirataria. Qual é sua opinião?
Marcos Maynard - Eles têm razão, falaram certo. Eu só poderia
acrescentar que eles estão procurando redirecionar seus investimentos para as áreas em que são
especialistas, que é o caso das revistas. Infelizmente, a Abril Music
ainda era uma companhia em investimento. O plano era investir
por cinco anos para que depois
ela pudesse andar com suas próprias pernas. Não deu tempo. Como gravadora nacional não tem o
grande colchão que é o catálogo
internacional, todo dia tem que
fazer marketing dos seus artistas.
Em tempo de crise, não se pode
esperar que esse catálogo "baby"
vá segurar vendas no mercado.
Folha - Fazer uma gravadora nacional é um vôo suicida, mesmo
com os bons resultados obtidos?
Maynard - Não, não, não. Ninguém é louco de fazer vôo suicida.
Quando o Grupo Abril me trouxe
dos Estados Unidos, sabia que
existia mercado. Todo novo negócio representa um risco, que é
calculado. A Abril Music não deve
nada a ninguém, ela não parou
porque perdeu dinheiro.
Folha - Por que o mercado especula que a gravadora tinha uma dívida de R$ 18 milhões?
Maynard - Não tenho a menor
idéia de onde surgiu isso. Como
se deve R$ 18 milhões e vai vender
por US$ 5 milhões, que é o mesmo valor? Não era para sanar dívida, não existia dívida de nada.
Folha - Por que a venda para a
BMG não se concretizou?
Maynard - Surgiu um boato de
que o presidente da BMG estaria
indo para a Universal. Justamente
por aqueles dias nós íamos fechar
o negócio, estava tudo certo.
Quando surgiu o boato, houve
um rebuliço e uma parada de negociação. O Grupo Abril já havia
feito as provisões todas para até 31
de janeiro, então resolveu tomar a
atitude de mandar o comunicado.
Folha - O encolhimento mundial
do mercado de disco é definitivo?
Maynard - Nunca se deixará de
vender música. Acho que a indústria de fabricantes vai acabar inventando um outro sistema de
vender música. Mas a história está
tão alastrada, como se faz quando
o cara tem câncer no corpo inteiro? Tem que inventar um remédio para curar o câncer no futuro.
Folha - A indústria fonográfica
está com câncer?
Maynard - Não, o câncer é a pirataria, que ficou tão comum que
não dá mais para prender todo
mundo. Torcemos para que a impunidade seja combatida pelo governo Lula. Temos aí para nos
ajudar o ministro da Cultura, que
é nosso grande Gilberto Gil.
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