São Paulo, sexta-feira, 10 de abril de 2009

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MoMA aproxima Mira Schendel e León Ferrari

Mostra inaugurada dia 5, com 1.400 visitantes, destaca pontos de contato entre a artista brasileira e o argentino

Exposição ocupa cinco salas do museu nova-iorquino; parte das peças pertence a colecionadores e são vistas pela primeira vez nos EUA

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

"Trenzinho", um cordel de folhas de papel japonês sustentadas por um fio de nylon, é um dos primeiros trabalhos a chamar a atenção de quem entra na exposição "Tangled Alphabets" (alfabetos entrelaçados), mostra conjunta da brasileira Mira Schendel (1919-1988) e do argentino León Ferrari, 89, aberta no último dia 5 no Museu de Arte Moderna (MoMA) em Nova York.
Primeira retrospectiva dos dois artistas nos EUA, a mostra expõe até 15/6 os paralelos e o foco na linguagem nas obras de ambos. Na noite de estreia, os cerca de 200 trabalhos atraíram 1.400 visitantes, entre eles as colecionadoras Patty Cisneros e Estrellita Brodsky, financiadora do acervo de arte latina do museu. Em dias normais, o museu chega a receber mais de 10 mil visitantes.
O cordel de papeis japoneses de Schendel, elaborado em 1965, fica à direita da primeira sala da exposição; do lado esquerdo, está "Gagárin", uma escultura de fios de metal criada em 1961 por Ferrari. Pelo posicionamento estratégico e sobreposição de peças está criado um diálogo inicial, a partir do qual as cinco salas reservadas à mostra seguem em ordem mais ou menos cronológica.
Os dois têm pontos de similaridade. Schendel nasceu na Suíça e se mudou para o Brasil aos 30 anos, fugindo do nazismo, depois de ter morado em Roma; Ferrari também morou na capital italiana e viveu exilado em São Paulo entre 1976 e 1991. Ela foi comparada a Hélio Oiticica e Lígia Clark; ele esteve na vanguarda da arte argentina nos 60.
Na mostra, a situação em que a proximidade fica mais evidente encontra-se na sala central, que reúne obras que exploram a escrita, seja no manuseio da palavra no papel ou nas incursões em busca da criação de uma espécie de alfabeto novo. É o caso da série "Letras Circunscritas", de Schendel, e da série "Códigos", de Ferrari, ambas da década de 1970.
"Muitas vezes a sintonia era tal que eu não poderia adivinhar qual dos dois era o autor das obras", disse a designer de flores americana Kristen Sabati, ao sair das salas.
Fica claro aqui, e em várias outras peças, o trabalho intelectual consistente por trás da trajetória dos dois artistas.
Muitos trabalhos têm em comum uma referência clara, como a temática de protesto religioso. É o que se vê na instalação "Ondas Paradas de Probabilidade" (1969), da brasileira Schendel, uma enorme estrutura de fios de nylon translúcidos que vão do chão ao teto. Para compô-la, a artista pendurou em um quadro de acrílico um texto do Antigo Testamento, que representa a "voz de Deus".
Ferrari tem ao lado "Juízo Final" (1994), uma colagem da imagem criada por Michelangelo na Capela Sistina que foi colocada ao fundo de uma gaiola de pombos -e ficou coberta de excremento.
A exposição, no sexto andar do museu, reúne cerâmica, pinturas, esculturas, instalações e desenhos que foram trazidos de coleções públicas e privadas de São Paulo, Buenos Aires, Londres e EUA. Várias fazem parte do acervo do MoMA, e algumas estão expostas no país pela primeira vez.


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