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MoMA aproxima Mira Schendel e León Ferrari
Mostra inaugurada dia 5, com 1.400 visitantes, destaca pontos de contato entre a artista brasileira e o argentino
Exposição ocupa cinco salas do museu nova-iorquino; parte das peças pertence
a colecionadores e são vistas pela primeira vez nos EUA
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
"Trenzinho", um cordel de
folhas de papel japonês sustentadas por um fio de nylon, é um
dos primeiros trabalhos a chamar a atenção de quem entra
na exposição "Tangled Alphabets" (alfabetos entrelaçados),
mostra conjunta da brasileira
Mira Schendel (1919-1988) e do
argentino León Ferrari, 89,
aberta no último dia 5 no Museu de Arte Moderna (MoMA)
em Nova York.
Primeira retrospectiva dos
dois artistas nos EUA, a mostra
expõe até 15/6 os paralelos e o
foco na linguagem nas obras de
ambos. Na noite de estreia, os
cerca de 200 trabalhos atraíram 1.400 visitantes, entre eles
as colecionadoras Patty Cisneros e Estrellita Brodsky, financiadora do acervo de arte latina
do museu. Em dias normais, o
museu chega a receber mais de
10 mil visitantes.
O cordel de papeis japoneses
de Schendel, elaborado em
1965, fica à direita da primeira
sala da exposição; do lado esquerdo, está "Gagárin", uma escultura de fios de metal criada
em 1961 por Ferrari. Pelo posicionamento estratégico e sobreposição de peças está criado
um diálogo inicial, a partir do
qual as cinco salas reservadas à
mostra seguem em ordem mais
ou menos cronológica.
Os dois têm pontos de similaridade. Schendel nasceu na Suíça e se mudou para o Brasil aos
30 anos, fugindo do nazismo,
depois de ter morado em Roma; Ferrari também morou na
capital italiana e viveu exilado
em São Paulo entre 1976 e 1991.
Ela foi comparada a Hélio Oiticica e Lígia Clark; ele esteve na
vanguarda da arte argentina
nos 60.
Na mostra, a situação em que
a proximidade fica mais evidente encontra-se na sala central, que reúne obras que exploram a escrita, seja no manuseio
da palavra no papel ou nas incursões em busca da criação de
uma espécie de alfabeto novo.
É o caso da série "Letras Circunscritas", de Schendel, e da
série "Códigos", de Ferrari, ambas da década de 1970.
"Muitas vezes a sintonia era
tal que eu não poderia adivinhar qual dos dois era o autor
das obras", disse a designer de
flores americana Kristen Sabati, ao sair das salas.
Fica claro aqui, e em várias
outras peças, o trabalho intelectual consistente por trás da
trajetória dos dois artistas.
Muitos trabalhos têm em comum uma referência clara, como a temática de protesto religioso. É o que se vê na instalação "Ondas Paradas de Probabilidade" (1969), da brasileira
Schendel, uma enorme estrutura de fios de nylon translúcidos que vão do chão ao teto. Para compô-la, a artista pendurou
em um quadro de acrílico um
texto do Antigo Testamento,
que representa a "voz de Deus".
Ferrari tem ao lado "Juízo
Final" (1994), uma colagem da
imagem criada por Michelangelo na Capela Sistina que foi
colocada ao fundo de uma gaiola de pombos -e ficou coberta
de excremento.
A exposição, no sexto andar
do museu, reúne cerâmica, pinturas, esculturas, instalações e
desenhos que foram trazidos
de coleções públicas e privadas
de São Paulo, Buenos Aires,
Londres e EUA. Várias fazem
parte do acervo do MoMA, e algumas estão expostas no país
pela primeira vez.
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