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Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br
A vida 'irregular' de Coco Chanel
Audrey Tautou interpreta a estilista quando jovem no filme da francesa Anne Fontaine; atriz também é estrela de publicidade da grife dirigida por Jean-Pierre Jeunet
Ela nasceu numa família
muito pobre. Quando sua mãe
morreu, a garota foi entregue
pelo pai a um orfanato comandado por religiosas. Ao chegar à
adolescência, as freiras arrumaram para ela um emprego de
balconista de loja. Mas a jovem
provinciana queria mais. Tentou a vida de cantora, dançarina
e atriz. Tornou-se uma cocote.
Por meio de um amante milionário, conheceu o mundo da
alta sociedade, que a olhava
com desprezo. Apaixonou-se
ferozmente por um jovem playboy inglês, que a ajudou a estabelecer um negócio de chapéus
em Paris. No auge da relação, o
rapaz morreu num acidente.
A moça mergulhou no desespero e se entregou ao trabalho.
De seu ateliê de costura saiu
um estilo inovador que revolucionou a moda. Aos 83 anos,
morreu em Paris, consagrada
como a estilista mais célebre de
todos os tempos.
Eis, em resumo, a história de
Gabrielle "Coco" Chanel (1883-1971). É uma vida bastante romanesca, pronta para ser
transferida para os livros ou o
cinema. Livros, já houve muitos. Agora, é a vez dos filmes.
Nesta semana, aconteceu em
Paris a première do aguardado
"Coco Avant Chanel" (Coco antes de Chanel), dirigido pela
francesa Anne Fontaine, com
Audrey Tautou (de "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain"). A estreia na Europa será
no próximo dia 22. No Brasil,
está previsto para chegar às telas em outubro.
O filme de Fontaine aborda
sobretudo o período menos
"requintado" da vida de Coco
Chanel, a sua atribulada juventude. Ele foi baseado na biografia "L'Irrégulière" (a irregular),
escrita por Edmonde Charles-Roux (autora de "A Era Chanel", ed. Cosac Naify).
O figurino é de Catherine
Letterier, conhecida pelo trabalho em "Prêt-à-Porter" (de
Robert Altman). Os 800 chapéus têm a assinatura de Stephen Jones e Pippa Cleator.
Em termos de moda, o foco é
o período em que a jovem Coco
se rebela contra os excessos da
vestimenta feminina. "Muita
maquiagem, muitos frufrus",
diz ela em uma das cenas.
Para Anne Fontaine, porém,
a moda não é o principal interesse do filme, mas sim a personalidade de Chanel. "Esta jovem saída do fim do mundo da
província, pobre, sem educação, mas dotada de uma personalidade fora do comum, está
destinada a fazer avançar a sua
época, quando as mulheres se
achavam presas a comportamentos alienantes", afirmou.
A estreia do filme precede em
poucos dias o lançamento da
nova publicidade da grife Chanel para o perfume nº 5, estrelada também por Tautou. "É
apenas uma coincidência", afirmou a empresa, que não participa da produção de "Coco Antes de Chanel".
Dirigido por Jean-Pierre
Jeunet (de "Amélie Poulain"), o
filme "Nº 5" é uma superprodução -de custo não revelado- e
levou cinco meses para ser feito. O lançamento será em maio.
Na première para a imprensa,
em março, em Paris (à qual a
Folha compareceu), a grife recriou nos escritórios da Chanel, na rua Cambon, o vagão
utilizado como cenário, que reproduz o trem Orient Express.
A "história", narrada velozmente, como em toda publicidade, fala de uma turista (Tautou) que viaja rumo à Turquia e
é flertada por um rapaz (o modelo Travis Davenport), atraído por seu perfume. À noite, o
desejo de Tautou aflora, enquanto o brilho do frasco do nº
5 percorre as paredes do seu
quarto solitário. O "happy end"
entre eles acontece numa estação em Istambul.
Para Jeunet, o filme "Nº 5" é
o final de sua trilogia com Tautou -que começou com "Amélie Poulain" (2001) e seguiu
com "Eterno Amor" (2004).
"Quando você faz uma publicidade, há muito de cinema nela", disse. No caso dele, o contrário também é verdadeiro.
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