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15ª É TUDO VERDADE
Crítica/"Capitalismo: Uma História de Amor"
Moore se embaralha na crise
Arrastado, novo documentário do cineasta e agitador trata crise norte-americana como conspiração
RAUL JUSTE LORES
EDITOR DE DINHEIRO
Michael Moore começa o documentário
"Capitalismo: Uma
História de Amor", com cenas
de um filme antigo sobre o Império Romano.
Ao explicar a decadência romana, insinua que a queda dos
Estados Unidos está próxima.
Alternando imagens do imperador Nero e do ex-vice de
George Bush, Dick Cheney,
Moore diverte e promete o seu
melhor: edição acelerada, pesquisa esperta de arquivo e humor escrachado e cartunesco.
Minutos depois, Moore pergunta a um amigo, o ator Wallace Shawn, o que é livre-iniciativa e capitalismo. O ator não dá
conta do recado e se embaralha
como Moore para explicar a
crise do modelo americano.
Faltou economista ou acadêmico com boas ideias para dar
luz a Moore. O filme tenta culpar o capitalismo (e a ganância
ou ambição) por todas as desgraças recentes do país. Entrevista padres e bispos que explicam que o capitalismo vai contra as leis de Deus e da Igreja.
A crise financeira de 2008,
que ceifou 8 milhões de empregos nos EUA e despejou milhares que não conseguiram pagar
a hipoteca, é tratada como uma
conspiração alarmista usada
para arrancar dinheiro público
para resgatar bancos.
O cineasta propõe sua versão
de "um outro mundo é possível". Mostra uma pequena empresa que funciona como cooperativa, em que CEO e funcionários recebem o mesmo, e elogia quem vive de acordo com
necessidades, e não ambições.
Cuba, Coreia do Norte e a
China de Mao Tsé-tung também tentaram obrigar massas
diversas a trabalhar e receber
de forma igual, mas Moore parece desconhecer os resultados
desses laboratórios.
Moore carrega nos elogios
aos modelos europeu e japonês
de bem-estar social. Nenhum
comentário sobre ambos os sistemas não terem produzido
crescimento nos últimos anos,
deixando milhões de jovens desempregados e com discursos
anti-imigrantes em alta.
Sociedade radicalizada
Para seus defensores, Moore
é fruto da radicalização da sociedade americana surgida
após os anos 60. Para se fazer
entender, ele precisaria usar a
mesma demagogia e simplificação intelectual de Sarah Palin.
Para atingir um público
maior que o da TV estatal PBS,
Moore adota recursos comuns
na emissora ultraconservadora
Fox News, como trilha sonora
melô e histórias humanas pungentes que, no Brasil, são tônica
de programas mundo-cão.
Ao ver a histeria antissolidária da classe média americana
contra a universalização do plano de saúde e a retórica "os pobres que se virem", é difícil não
achar que o cineasta seja um
mal necessário. Ele mostra os
efeitos do desmantelamento do
Estado promovido por Ronald
Reagan e os benefícios fiscais
generosos aos mais ricos instituídos pelos republicanos.
Ao contrário de filmes anteriores, como "Tiros em Columbine" (2002), o documentário é
arrastado, disperso e seus 127
minutos são inflacionados.
Moore sua para o filme não degringolar e não perde oportunidade para se colocar diante da
câmera. Há cenas em super-8
dele quando criança, uma entrevista com o pai dele e ele até
tenta invadir bancos e seguradoras para prender banqueiros.
Ele isola a fachada da Bolsa
de Valores de Nova York com
uma fita amarela que diz "não
passe, cena de crime" e estaciona um carro-forte diante de
bancos dizendo que quer "de
volta o dinheiro do contribuinte". No capitalismo de Moore, o
cinema é que levou o prejuízo.
CAPITALISMO: UMA HISTÓRIA
DE AMOR
Direção: Michael Moore
Quando: hoje (10), às 19h, e amanhã
(11), às 17h, no Espaço Unibanco, segunda (12), às 19h30, no Cinemark Eldorado, em São Paulo; terça (13), às
19h, no Unibanco Arteplex e quinta
(15), às 19h30, no Cinemark Downtown, no Rio
Classificação: não informada
Avaliação: ruim
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