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EXPOSIÇÃO
A retrospectiva da artista mexicana reúne quadros, desenhos e aquarelas na Fundação Martigny, na Suíça
Frida Kahlo retrata corpo torturado
FÁTIMA MIRANDA NUNES
da Suíça
A pintora mexicana Frida Kahlo
é hoje a escolhida do costureiro
Jean-Paul Gautier e a musa dos
maquiadores europeus.
Por que os criadores de moda
em Paris a fazem reviver nas passarelas desta temporada? A resposta se encontra em Martigny, cidade suíça distante 100 km de Genebra, nos quadros que cobrem as
paredes da Fondation Gianadda,
que acolhe até 1º de junho as obras
de Frida Kahlo e Diego Rivera.
A retrospectiva reúne quadros,
desenhos e aquarelas e também
uma amostra de fotos de época sobre a vida e os hábitos de Frida
Kahlo em cidadezinhas do México, o que esclarece os motivos de
sua pintura.
Frida Kahlo era uma mulher ligada às raízes nacionais e demonstra isso quando assume os costumes típicos, retratando-se com
roupas folclóricas ou ao introduzir simbolicamente frutas tropicais na pintura. Essa ligação com a
terra mexicana vem explícita em
"Racines ou Sol Rocailleux" (Raízes ou Solo de Pedras).
Praticamente toda a obra de Frida Kahlo está exposta em Martigny. Os quadros vieram de diversos museus mexicanos (Museo
Dolores Patino, Casa Diego Rivera), do Museu de Arte Moderna de
Nova York, Stedelijk Museum de
Ammsterdam e do Museu de
l'Hermitaghe, de São Peterburgo,
Rússia. Frida Kahlo foi uma ativa
militante comunista. Ela considerava como data de seu nascimento
o ano de 1910, quando o ditador
Porfírio Diaz foi derrubado por seguidores de Emílio Zapata. Na realidade, nasceu em 6 de julho de
1907 e sua vida foi uma longa sequência de traumatismo físico.
É preciso ver o auto-retrato intitulado "La Colonne Brisée" (Trabalhadora do Campo em Pedaços), um corpo rasgado em dois,
suspenso por bandeirinhas e perfurado a pregos. Assim talvez se
comece desvendar a pintura dessa
artista, que se auto-retrata seguidamente com um corpo torturado
por flechas, pregos e sangue, a sequela psicológica de um acidente
de ônibus do qual foi vítima em
1926. Nesse acidente, Frida Kahlo
foi transpassada por metais da
carroceria do veículo no ventre e
do quadril esquerdo aos órgãos
genitais. Passou meses de solidão
em um hospital, esquecida pelos
parentes.
Aos 13 anos Frida já havia sido
vítima de uma poliomielite, que a
deixara com a perna direita alguns
centímetros mais curta. Após sua
ligação com Diego Rivera, Frida
sofrerá inúmeros abortos. Depois
de um deles pinta "L'Hôspital
Henry Ford ou Lit Volant" (Hospital Henry Ford ou a Cama Voadora), em torno da qual flutuam
objetos assemelhados a genitais e
um feto, suspensos sobre seu ventre por cordões. A simbologia é
clara, o sangue sobre lençóis brancos não deixa equívocos.
Os suíços, que até aqui não conheciam a pintura de Frida Kahlo,
se apressam em ler os livros sobre
sua vida e sua obra para entender
o porquê de tantos corpos mutilados e ensanguentados nas telas da
Fundação Martigny.
Mais de 100 mil pessoas de toda a
Europa já viram a obra de Kahlo,
exposta em Martigny.
Comparada a Diego Rivera, viajante cosmopolita, que aos 20 anos
já habita e pinta em Paris e é adulado pela vida mundana, Kahlo é
uma militante interior, imóvel, só
muito tarde viaja com Rivera aos
Estados Unidos. Sua pintura está
toda concentrada no ser humano
em sua dimensão individual. Mas
quando o próprio Rivera comenta
que "através dos seus quadros Frida Kahlo arrebenta os tabus do
corpo e da sexualidade feminina",
Rivera dá à pintura de Kahlo uma
medida universal.
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