São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 2000


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CANNES: e Brasil

Divulgação
Tapete vermelho é estendido durante os últimos preparativos para a abertura do festival.


Liv Ullman, Joel Coen, Nagisa Oshima, Ken Loach, Neil Labute, Lars von Trier...
Festival de cinema chega à sua 53ª edição com a mais forte presença brasileira em 30 anos


País tem cinco filmes no evento cinematográfico mais prestigiado do mundo, que abre hoje com sessão de "Vatel", de Roland Joffé
AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Em meio a uma crise interna, o 53º Festival Internacional de Cinema de Cannes (França) começa hoje apresentando a mais forte presença brasileira em três décadas. O último evento sob a direção artística do "delégué general" Gilles Jacob é aberto hoje pelo filme de época "Vatel", estrelado por Gérard Depardieu para Roland Joffé ("A Missão"), e por um curta inédito de Jean-Luc Godard, "De l'Órigine du 21ème Siècle" (Da Origem do Século 21).
Somando-se todas as mostras, fora o mercado, o Brasil teve selecionado um total de cinco filmes (dois longas e três curtas). "Estorvo", a versão de Ruy Guerra para a novela de Chico Buarque, concorre à Palma de Ouro. "Eu, Tu, Eles", o segundo longa de Andrucha Waddington, traz Regina Casé exercitando a poligamia dentro da mostra Um Certo Olhar.
A gaúcha Ana Luíza Azevedo ("Barbosa") concorre à Palma de Ouro dos curtas com o tocante "Três Minutos". A competição de curtas para revelações Cinéfondation escolheu para sua disputa a animação metacinematográfica "De Janela para o Cinema", de Quiá Rodrigues. E o gráfico "Rota de Colisão", de Roberval Duarte, representa a América Latina no mais importante ciclo paralelo, a Quinzena dos Realizadores.
A marcante participação nacional não deve provocar ilusões muito grandes. Cannes destaca a "retomada" pós-Embrafilme exatamente quando internamente fazem sentir com vigor os sinais de sua perda de fôlego.
Ruy Guerra, um dos pioneiros do cinema novo, é um veterano de Cannes. "Estorvo" é seu terceiro longa a participar da competição oficial. Precederam-no "Erêndira" (1983) e "Kuarup" (1989).
Guerra forma ao lado de cineastas como Nagisa Oshima, Lars von Trier, os irmãos Coen, Ken Loach e James Ivory o grupo de favoritos convocado por Jacob para encerrar em nota alta sua gestão como curador do festival.
No posto desde 1978, Jacob torna-se após esta edição o presidente do evento.
Sua sucessão foi reaberta no final do mês passado, no dia mesmo do anúncio da seleção oficial. Seu herdeiro já apontado, o crítico e produtor de TV Olivier Barrot, rompeu com o festival criticando a política de escolhas de filmes. Num violento artigo publicado pelo diário francês "Libération", Barrot defendia que é necessário "mudar Cannes para salvar Cannes". Criticava sobretudo o trabalho "desigual" dos pré-selecionadores regionais e o afastamento de Hollywood.
Desconhecem-se os bastidores da ruptura, mas as críticas fazem sentido. Em suas duas décadas de poder, Jacob elevou o perfil do festival, mas acabou cristalizando uma casta de "suspeitos de sempre" para representar a maior parte das cinematografias (Oliveira para Portugal, Moretti para Itália, Loach para a Inglaterra etc.).
Frente ao cinema americano, acertou ao privilegiar na última década a ascendente produção independente (Coen, Soderbergh, Spike Lee), mas não precisava afastar-se tanto do melhor da grande produção.
É natural que as atenções se concentrem sobre uma competição tão forte ao menos no papel, mas Cannes traz ainda, fora de concurso ou em mostras paralelas, curiosidades como "Honest", o primeiro filme de Dave Stewart dos Eurythimics, e "Shadow of the Vampire" (Sombra do Vampiro), sobre as filmagens do "Nosferatu" (1922) de Murnau.
Não sei do futuro, mas o presente promete.


O crítico Amir Labaki está em Cannes a convite da organização do festival


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