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"Júri não me assusta", diz Besson
FRANÇOIS ARMANET e OLIVIER SEGURET
DO "LIBÉRATION"
Luc Besson, o cineasta francês
mais reconhecido na América,
preside o júri de Cannes este ano,
após David Cronenberg e a premiação de "Rosetta" (Palma de
Ouro em 99), de Luc e Jean-Pierre
Dardenne, uma alternância muito pensada pelo presidente do festival, Gilles Jacob.
Na parede de seu escritório em
Paris, bem atrás de si, Besson ostenta um quadro de uma megalópole vermelha, feito para seu filme "O Quinto Elemento".
Pergunta - Como o sr. se tornou
presidente do júri?
Luc Besson - Já havia recebido
um primeiro sinal, há um ou dois
anos, para ser membro do júri,
mas estava muito ocupado. Em
dezembro último, Gilles Jacob me
perguntou se concordava que ele
indicasse meu nome ao comitê. É
lisonjeiro, uma proposta que não
se recusa.
Pergunta - Muita responsabilidade?
Besson - Quando você conhece a
organização de uma produção de
cinema, quando já dirigiu 950
pessoas em uma filmagem na ex-Tcheco-Eslováquia, não parece
uma empreitada insuperável.
Dormir em um palácio, ver dois
filmes por dia, não poder falar por
duas semanas e, no final, simplesmente dizer quais filmes preferiu,
não me assusta.
Pergunta - Qual será sua linha de
orientação?
Besson - No ano passado, Jacob
falou sobre o que está à margem e
o que está no centro. Cada vez que
se assume um risco mexe-se com
a margem, que cinco anos depois
se torna o centro. Faz parte das
ambições de Cannes redefinir os
limites do cinema.
Pergunta - Como o sr. vai mexer
com as margens?
Besson - Nossa escolha depende
antes de tudo dos filmes. É a seleção que determina a tendência.
De certo modo, os filmes que aqui
estão já são ganhadores. Podem
pôr em seus cartazes: "Seleção
Oficial de Cannes". O festival tem
um papel pedagógico. Foi graças a
Cannes que se descobriu gente
como Kusturica.
Pergunta - Cannes nem sempre
foi muito gentil com o senhor.
Besson - Estive duas vezes em
competição como diretor e duas
vezes como produtor. Minha única má lembrança é a exibição para
a imprensa de "Imensidão Azul".
Não estávamos preparados para
tal acolhida, estávamos apenas felizes por termos acabado o filme.
Na saída, no quadro das críticas,
só tínhamos zeros. Não entendi o
que havíamos feito de mal. O filme não tinha posições políticas,
assassinatos, violações... Era muito ingênuo e simpático para Cannes. Em "O Quinto Elemento" já
tínhamos experiência.
Pergunta - Francis Ford Coppola e
George Lucas, diretores e produtores independentes, todos são modelos para o sr.?
Besson - A diferença entre Lucas
e eu é que, para mim, produzir é
uma questão de necessidade. Ele
vive sobre um terreno fértil, e eu,
desértico. O meio americano é
muito rico e mais difícil de se impor como produtor. Lá, o cinema
produz, mesmo sem Coppola. No
cinema francês os problemas persistem. Ministros passam e não
fazem nada, ou muito pouco.
Pergunta - Que premiados de
Cannes o sr. destaca?
Besson - "Apocalypse Now", de
Coppola, e "O Tambor", de Volker Schloendorff, dois filmes excelentes e ganhadores no mesmo
ano, em 1979.
Tradução Luiz Antonio del Tedesco
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