São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 2000


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"Júri não me assusta", diz Besson

FRANÇOIS ARMANET e OLIVIER SEGURET


DO "LIBÉRATION"
Luc Besson, o cineasta francês mais reconhecido na América, preside o júri de Cannes este ano, após David Cronenberg e a premiação de "Rosetta" (Palma de Ouro em 99), de Luc e Jean-Pierre Dardenne, uma alternância muito pensada pelo presidente do festival, Gilles Jacob.
Na parede de seu escritório em Paris, bem atrás de si, Besson ostenta um quadro de uma megalópole vermelha, feito para seu filme "O Quinto Elemento".

Pergunta - Como o sr. se tornou presidente do júri?
Luc Besson -
Já havia recebido um primeiro sinal, há um ou dois anos, para ser membro do júri, mas estava muito ocupado. Em dezembro último, Gilles Jacob me perguntou se concordava que ele indicasse meu nome ao comitê. É lisonjeiro, uma proposta que não se recusa.

Pergunta - Muita responsabilidade?
Besson -
Quando você conhece a organização de uma produção de cinema, quando já dirigiu 950 pessoas em uma filmagem na ex-Tcheco-Eslováquia, não parece uma empreitada insuperável. Dormir em um palácio, ver dois filmes por dia, não poder falar por duas semanas e, no final, simplesmente dizer quais filmes preferiu, não me assusta.

Pergunta - Qual será sua linha de orientação?
Besson -
No ano passado, Jacob falou sobre o que está à margem e o que está no centro. Cada vez que se assume um risco mexe-se com a margem, que cinco anos depois se torna o centro. Faz parte das ambições de Cannes redefinir os limites do cinema.

Pergunta - Como o sr. vai mexer com as margens?
Besson -
Nossa escolha depende antes de tudo dos filmes. É a seleção que determina a tendência. De certo modo, os filmes que aqui estão já são ganhadores. Podem pôr em seus cartazes: "Seleção Oficial de Cannes". O festival tem um papel pedagógico. Foi graças a Cannes que se descobriu gente como Kusturica.

Pergunta - Cannes nem sempre foi muito gentil com o senhor.
Besson -
Estive duas vezes em competição como diretor e duas vezes como produtor. Minha única má lembrança é a exibição para a imprensa de "Imensidão Azul". Não estávamos preparados para tal acolhida, estávamos apenas felizes por termos acabado o filme. Na saída, no quadro das críticas, só tínhamos zeros. Não entendi o que havíamos feito de mal. O filme não tinha posições políticas, assassinatos, violações... Era muito ingênuo e simpático para Cannes. Em "O Quinto Elemento" já tínhamos experiência.

Pergunta - Francis Ford Coppola e George Lucas, diretores e produtores independentes, todos são modelos para o sr.?
Besson -
A diferença entre Lucas e eu é que, para mim, produzir é uma questão de necessidade. Ele vive sobre um terreno fértil, e eu, desértico. O meio americano é muito rico e mais difícil de se impor como produtor. Lá, o cinema produz, mesmo sem Coppola. No cinema francês os problemas persistem. Ministros passam e não fazem nada, ou muito pouco.

Pergunta - Que premiados de Cannes o sr. destaca?
Besson -
"Apocalypse Now", de Coppola, e "O Tambor", de Volker Schloendorff, dois filmes excelentes e ganhadores no mesmo ano, em 1979.


Tradução Luiz Antonio del Tedesco


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