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CINEMA
Enciclopédia atesta sobrevivência dos nossos
filmes
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA
Enquanto se discutia se o Brasil podia fazer filmes ou não, o cinema
tomou a dianteira e tratou de existir.
No total, é mais de um século de existência, aos trancos
e barrancos, é verdade, mas mais do que suficiente para justificar
a existência da "Enciclopédia do Cinema Brasileiro", obra
que hoje será lançada no Espaço Unibanco de Cinema
(r. Augusta, 1.470, região central de São Paulo), a partir
das 19h.
Aliás, quando foi mesmo que foi rodado o primeiro filme em nosso
país? Segundo o verbete "Primeiros e Maiores", escrito por Hernani
Heffner, ainda não se sabe ao certo.
Podem ter sido as cenas da baía da Guanabara filmadas por Afonso
Segreto em 18 de junho de 1898. Mas há indícios de que o
filme tenha velado.
Pode ter sido "O Préstito do Marechal Floriano", feito apenas 11
dias depois. Ou ainda uma série tomada por Vittorio de Maio que
teria sido apresentada em maio de 1897.
A dúvida não é meramente ocasional. Entre arquivos
perdidos, incendiados ou vendidos a peso, para não falar dos filmes
desaparecidos, inclusive esses -sintomas de uma atividade quase sempre
marginal no Brasil-, muita coisa sumiu.
A enciclopédia organizada por Fernão Ramos e Luiz Felipe
Miranda representa o primeiro grande esforço de sistematização
dos conhecimentos existentes sobre o cinema no Brasil publicado em livro.
Ambos são do ramo. Fernão, professor da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas), já organizou uma "História do Cinema
Brasileiro". Luiz Felipe, pesquisador, publicou um "Dicionário
de Cineastas".
O empreendimento atual, muito mais ambicioso, consiste de 700 verbetes
reunidos em 584 páginas, mais um caderno com 190 fotografias, que
contou com a colaboração de 45 pesquisadores. No total,
o volume tem 664 páginas.
A primeira questão grave com que se defrontaram os organizadores
foi a de fixar os critérios que justificassem a existência
de um verbete.
O número de corte escolhido foi 30. Um diretor, produtor, ator
ou técnico com 30 ou mais trabalhos assinados tem direito a um
verbete individual, independente de sua relevância.
Com isso, os pesquisadores do futuro (e também os do presente)
poderão saber, por exemplo, que Patricia Scalvi, atriz pouco conhecida,
mas de grande talento, nasceu em 1954 e dedicou-se a novelas de TV e ao
teatro após seu último trabalho em cinema, em 1983, além
de ser uma das favoritas do crítico Rubem Biáfora.
Nem sempre o critério é numérico, entretanto. Eva
Nil, por exemplo, participou de poucos filmes, todos desaparecidos, mas
é uma das atrizes de maior prestígio dos anos 20.
Em parte para suprir as lacunas deixadas por esse critério foram
criados verbetes temáticos. Uma parte destina-se a atividades técnicas
(fotografia, roteiro, produção etc.). Outra, a aspectos
relevantes da atividade, não personalizáveis, que vão
de Concine (órgão normativo que existiu paralelamente à
Embrafilme) a Cinearte (revista surgida nos anos 20, de que era mentor
Adhemar Gonzaga), de filmes perdidos (dando conta da considerável
parte da produção brasileira desaparecida em circunstâncias
diversas) a Vera Cruz etc.
Atualização
Como toda enciclopédia que se preze, esta, cuja elaboração
custou quatro anos de trabalho, não é uma obra definitiva.
Tanto se farão necessárias atualizações como
revisões que eliminem certas lacunas.
Para ficar com apenas um exemplo, o próprio verbete de Eva Nil
traz uma contradição. Enquanto a filmografia a credita como
atriz de "Tesouro Perdido" (que, aliás, não está
perdido, ao contrário dos demais filmes de que participou), o texto
do verbete informa que ela se recusou a participar do filme, após
brigar com o diretor Humberto Mauro (no caso, o texto do verbete está
certo).
Cochilos dessa natureza não diminuem a importância da "Enciclopédia
do Cinema Brasileiro". Antes, dão conta da amplitude do projeto
e da dificuldade que encontram os pesquisadores de cinema no Brasil, onde
as informações, quando existem, não raro são
contraditórias.
Sua mera existência é uma espécie de atestado de sobrevivência
do cinema brasileiro. Ao reunir dados dispersos nos arquivos ou, por vezes,
na memória dos protagonistas dessa história, cria um importante
instrumento para qualquer pessoa que, em dado momento, precise lançar
mão desses dados.
Livro: Enciclopédia do Cinema Brasileiro
Autores: Fernão Ramos e Luiz
Felipe Miranda
Editora: Senac
Lançamento: hoje, às 19h, no Espaço Unibanco
de Cinema (r. Augusta, 1.470, região central de São Paulo)
Quanto: R$ 68 (664 págs.)
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