São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2001

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"PRETO BRÁS 2"

"Por que eles não pegam o dinheiro que roubam e investem um pouco na gente?", pergunta Itamar

"Político não quer tirar menino de rua", afirma Naná

DA REPORTAGEM LOCAL

Na sequência da entrevista conjunta, Naná Vasconcelos fala de seu trabalho junto às crianças carentes, que o reaproximou de Recife e do Brasil, e Itamar Assumpção comemora suas vitórias contra o câncer no intestino.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

Folha - Naná voltou para o Brasil?
Itamar Assumpção -
Agora não vai sair mais daqui. Quando ele sair, eu vou junto. Pegou um mala sem alça.

Naná Vasconcelos - (Ri) Estou mais aqui por causa dos meus compromissos sociais. Fui criança pobre, e na minha época de pequeno não havia criança na rua. Passei dez anos sem vir aqui, depois mais seis, aí comecei a ver essa coisa, a me preocupar. Não são meninos de rua, são meninos que estão na rua. Isso me preocupou e escrevi o projeto "ABC das Artes -°Flor do Mangue", parei tudo lá fora para montar isso no Recife. É muito mais gratificante vir e procurar ser útil, mostrar que o que sei fazer serve para algo positivo. Vou lá tirar menino de rua, representar esses políticos aí. E nada, ninguém quer tirar menino de rua.

Itamar - É tudo feito para não andar mesmo culturalmente. É deliberado que continue na mesma. O cara, além de sair pelo mundo e ralar individualmente, ainda fica preocupado com o social? Os políticos roubam muito. Por que não pegam o dinheiro que roubam lá e investem um pouco na gente?

Naná - Vou para a Europa, faço não sei o quê e parte do dinheiro que ganho aplico no projeto aqui para dar socorro aos meninos. Cada vez mais nós artistas temos posições políticas, e os políticos cada vez mais estão querendo ser artistas. Não dá. É triste.

Folha - Itamar está recuperado?
Itamar -
Agora são seis meses de tratamento quimioterápico. O intestino ajeitou, minha pressão está de menino. No Hospital do Câncer, o exame também diz que não ficou nada. No Hospital das Clínicas, junto com neguinho algemado e baleado, aquela coisa linda que é, comecei a ver o retorno do meu trabalho com aquela gente que sabe das coisas, não em termos de grana, mas em termos do que mais vale nesta vida. Hoje a matéria do artista é essa, de como se comunicar com seu semelhante sem que as interferências deturpem tudo. Vi que dei o recado. Nisso posso ficar sossegado, não devo nada aos "hômi".


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