São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2001

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FOTOGRAFIA

Polonês Kasimir Zgorecki mostra imigrantes

Retratos de crianças mortas são destaque no Centro Cultural SP

EDER CHIODETTO
EDITOR-ADJUNTO DE FOTOGRAFIA

As raízes e as asas, tema do 5º Mês Internacional da Fotografia, aterrissam hoje em todos os espaços do Centro Cultural São Paulo com nove exposições.
Entre os destaques, estão as mostras retrospectivas do polonês Kasimir Zgorecki (1876-1980) e do francês Jean Marquis, além da instalação do diplomata e fotógrafo brasileiro Joaquim Paiva.
Isoladamente a exposição "Imigrantes", de Zgorecki, já vale a visita ao centro cultural. Em 1922, aos 36 anos, Zgorecki emigra da Polônia para a França com sua família, seguindo o destino de muitos compatriotas que procuravam em território francês melhores condições de trabalho e de vida, e ingressa numa mina de carvão.
Dois anos depois é contratado por um estúdio fotográfico. Os clientes eram basicamente os imigrantes poloneses que desejavam enviar seus retratos para suas famílias na terra natal.
Muitos "Imigrantes" abriram negócios na França e se faziam fotografar na fachada das suas lojas. Era a forma que eles encontraram para mostrar que haviam ascendido socialmente.
Zgorecki conseguiu uma direção de personagens tal, que dos seus retratados emerge, sobretudo pelo olhar, uma dramaticidade permanente.
Os retratados encaram o fotógrafo e, por consequência, quem observa a fotografia. Trata-se de imagens do desterro. Temor, saudade e degredo são sentimentos que saltam dos semblantes desses "Imigrantes".

Crianças mortas
Mas o grande destaque da exposição são os retratos de crianças mortas. Como a distância impedia que os parentes conhecessem as crianças nascidas no exílio, Kasimir Zgorecki era muitas vezes contratado para fotografá-las. Seus retratos eram enviados aos familiares, prática comum na época.
Longe de parecerem mórbidas, essas fotografias mostram a maestria de Zgorecki em criar atmosferas com cenários e luz.
As crianças eram sempre retratadas em seus berços, como se estivessem dormindo, por vezes ao lado de seus brinquedos. É o tipo de imagem que provoca um misto de atração e repulsa. E é também um dos melhores momentos do evento.

Celebridades
Ao lado da exposição de Zgorecki está a mostra "Um Olhar Venturoso", de Jean Marquis, 75, que foi membro da mítica agência Magnum de fotografia entre os anos de 1953 a 1957.
Trabalhando como fotógrafo de imprensa, Marquis fotografou grandes celebridades como o escultor Alberto Giacometti, o músico Chet Baker, a atriz Gina Lollobrigida e os cineastas François Truffaut e Luchino Visconti, entre outros, além de cobrir as manifestações durante o mês de maio de 1968 na França.
Várias dessas imagens estão presentes na mostra, que, assim como a exposição de Zgorecki, vieram para São Paulo após parceria firmada entre o Nafoto (Núcleo dos Amigos da Fotografia) e o Centro Regional da Fotografia Nord Pas-de-Calais.


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