São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2001

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"VARIAÇÕES EM TORNO DE UM PERSONAGEM"

Joaquim Paiva revela desvãos da paixão em imagens e diário

DA REDAÇÃO

A revelação da intimidade e do universo subjetivo é o mote da exposição "Variações em Torno de um Personagem", de Joaquim Paiva, uma das nove mostras que estão sendo inauguradas hoje no Centro Cultural São Paulo.
Considerado um dos maiores colecionadores de fotografias do país, o diplomata Joaquim Paiva começou nos anos 80 a fotografar obstinadamente um "amigo íntimo", ou "o personagem", como ele prefere dizer.
A mostra é composta por uma série de 30 fotografias desse personagem, além de colagens, páginas de diário e fotomontagens.
Mais que uma ode ao corpo masculino, "Variações" mostra o desvendamento de uma paixão. As imagens orbitam entre a contemplação extasiada e a necessidade desesperada da retenção do momento vivido.
Ora, todo mundo que fotografa oscila entre essas duas necessidades: contemplação e memória. Paiva leva isso ao extremo. Ao ponto de passar a tentar fotografar mesmo quando faz meras anotações em seu diário.
"Não posso me esquecer de que tenho o peito serrado...", escreveu o artista em seu diário em janeiro deste ano. Em seguida anotou: "Não posso esquecer as ilusões".
Esquecer de viver, de amar, de sentir. Esquecer de lembrar. Parecem ser esses os grandes temores que rondam a vida do artista. De qualquer um.
Paiva nos leva a vasculhar o mais recôndito dos seus sentimentos para mostrar quão avassaladora e poética pode ser uma paixão.
Alguns auto-retratos, além de uma série de fotografias em que Paiva mostra suas cicatrizes, denotam que o personagem do título da mostra pode ser ele próprio e, não, necessariamente, o outro.
Mas a quem pode interessar o desnudamento de um universo tão íntimo revelado de forma nada sutil? A todos. Ao extravasar o microcosmo dos seus desejos, Paiva está, em tom confessional, revelando os desvãos da alma de qualquer pessoa que já se sentiu subitamente atraída por alguém. Atire a primeira pedra aquele que não sofreu por amor. (EDER CHIODETTO)


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