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CINEMA/ESTRÉIAS
"O VOTO É SECRETO"
Iraniano estréia depois de ser premiado na Mostra de SP
Babak Payami lança luz sobre fragilidades da política
SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA
Uma jovem mulher, fiscal do
governo iraniano, chega a
uma ilha semideserta para coletar
votos dos poucos eleitores que ali
vivem. Desembarca numa praia
vigiada por dois soldados -um
negro, um branco- que se revezam em turnos para observar o
nada no horizonte do oceano.
Um dos soldados (Cyrus Abidi)
é destacado para passar o dia com
a moça (Nassim Abdi), recolhendo votos e guardando-os numa
grande urna de madeira.
Ele aceita a missão a contragosto. Primeiro porque não aceita receber ordens de uma mulher da
cidade grande, depois por estar
convicto de que nenhum tipo de
administração eleita pode mudar
a maneira como as coisas se dão
naquele sítio remoto, habitado ou
por contrabandistas ou por antigos clãs que se autogovernam.
"O Voto É Secreto", de Babak
Payami, que estréia hoje no Brasil,
é uma divertida alegoria sobre o
confronto entre "civilização" e
"barbárie", democracia e patriarcalismo, idealismo e descrença.
O filme levou prêmios nos festivais de Veneza, Roterdã e Londres, além de ter sido escolhido o
melhor filme pela crítica da Mostra Internacional de Cinema de
São Paulo.
Os dois protagonistas passam o
dia discutindo. Ela tenta convencê-lo de que o voto pode melhorar
a vida de uma comunidade, que é
importante que esta participe das
decisões do governo, elegendo
seus representantes. Ele, por sua
vez, acha que bandidos e mulheres têm de ser enquadrados à única ordem que ele considera possível, aquela que é controlada por
sua espingarda.
Aos poucos, ele se deixa contagiar pelo idealismo da moça. Entretanto, ambos percebem juntos
a inadequação de tentar estabelecer uma discussão política num
lugar onde não há sociedade civil.
Numa das cenas mais significativas, o soldado pára o carro em
frente a um absurdo sinal vermelho, colocado no meio de um descampado. A mulher pede a ele
que avance, pois não há nenhum
outro veículo no horizonte. Ele fica confuso: "Você passou o dia dizendo que leis são importantes,
agora quer que eu desobedeça".
O filme guarda semelhanças
com "Terra de Ninguém", do bósnio Danis Tanovic, premiado
com o Oscar de filme estrangeiro.
Ambos mostram como reage um
microuniverso humano obrigado
-pela guerra ou pelo isolamento- a optar entre estabelecer um
sistema de conduta próprio ou seguir as determinações da política
de seus governantes.
O Voto É Secreto
Raye Makhfi
Direção: Babak Payami
Produção: Irã, 2001
Com: Cyrus Abidi, Youssef Habashi, Nassim Abdi
Quando: a partir de hoje no Cineclube
DirecTV e Frei Caneca Arteplex
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