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LIVRO
Correspondente do diário "Libération" lança coletânea de crônicas sobre a vida em Los Angeles
Autora francesa desnuda Hollywood
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REDAÇÃO
Perdida e deprimida. Foi assim
que Annette Lévy-Willard, do
diário francês "Libération", se
sentiu ao chegar a Los Angeles,
capital mundial do silicone e do
entretenimento, convencida por
seu marido cineasta de que era
um bom lar. "Pensei: "O que estou
fazendo?". Não conseguia entender qual era a intenção daquele lugar nem via razão para permanecer ali", conta a escritora, que lança "Crônicas de Los Angeles".
A situação era ainda pior em seu
trabalho: "Meus chefes, em Paris,
não queriam que eu fizesse nada
aqui além de cobrir as fofocas de
Hollywood. Após mais de 20 anos
de jornalismo investigativo, eu estava virando uma dona-de-casa!".
Desesperada, procurou uma colega de Nova York baseada em
LA. O vaticínio: "Vai demorar um
ano para você se acostumar ao ritmo". Doze meses mais tarde, estava ambientada, ou, em suas palavras, "viciada em Los Angeles, a
cidade que todos amam odiar".
Militante durante o feminismo
e a onda esquerdista dos anos 60,
demorou para que conseguisse
entender o que significaria a vida
em Hollywood. "A minha geração
foi inspirada pela contracultura
norte-americana: hippies, drogas,
rock'n'roll, Kerouac. Para mim, a
Califórnia era voltar no tempo,
para a minha juventude", conta.
"Mas se tornou divertido escrever sobre esses "mutantes", que
querem ficar para sempre jovens,
bonitos e famosos -quem não
quer? Eu também quero!"
Passam-se 20 anos. George W.
Bush está no poder, lutando contra Saddam. "Havia milhares de
histórias para contar: das eleições
presidenciais, passando pelos
marines indo à guerra e o lindo
Arnold [Schwarzenegger] se tornando governador do Estado, até
os franceses comprando Hollywood. Nunca trabalhei tanto!".
Em "Crônicas", para o qual já
agendou uma seqüência e assinou
um contrato para transformá-lo
em filme ("Uma Francesa em
Hollywood" é o título provisório),
conta algumas dessas experiências, desde a vida num hotel por
um ano até a invasão do Iraque,
refrescada por uma hilariante
passagem sobre a confluência da
guerra e da cerimônia do Oscar.
Lançada pela recém-criada Barcarolla, a edição brasileira só comete um erro na opinião da autora: "Não entendi a capa [com uma
senhora idosa de cabelo rosa num
conversível rosa]. Espero que ninguém pense que aquela mulher
sou eu. Por favor, me ajude a desfazer esse equívoco".
Com isso em pratos limpos,
passa a falar de assuntos sérios,
como a eleição nos EUA. "Bush
está encrencado porque mentiu
aos americanos e isso eles não
perdoam -lembra-se de Monica
Lewinsky? Se soldados continuarem sendo mortos no Iraque,
mesmo se melhorar a economia,
ele deve perder em novembro."
E finaliza: "Os próximos seis
meses serão muito interessantes.
Principalmente para um repórter.
E ainda mais para mim".
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