São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2004

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LIVRO

Correspondente do diário "Libération" lança coletânea de crônicas sobre a vida em Los Angeles

Autora francesa desnuda Hollywood

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REDAÇÃO

Perdida e deprimida. Foi assim que Annette Lévy-Willard, do diário francês "Libération", se sentiu ao chegar a Los Angeles, capital mundial do silicone e do entretenimento, convencida por seu marido cineasta de que era um bom lar. "Pensei: "O que estou fazendo?". Não conseguia entender qual era a intenção daquele lugar nem via razão para permanecer ali", conta a escritora, que lança "Crônicas de Los Angeles".
A situação era ainda pior em seu trabalho: "Meus chefes, em Paris, não queriam que eu fizesse nada aqui além de cobrir as fofocas de Hollywood. Após mais de 20 anos de jornalismo investigativo, eu estava virando uma dona-de-casa!".
Desesperada, procurou uma colega de Nova York baseada em LA. O vaticínio: "Vai demorar um ano para você se acostumar ao ritmo". Doze meses mais tarde, estava ambientada, ou, em suas palavras, "viciada em Los Angeles, a cidade que todos amam odiar".
Militante durante o feminismo e a onda esquerdista dos anos 60, demorou para que conseguisse entender o que significaria a vida em Hollywood. "A minha geração foi inspirada pela contracultura norte-americana: hippies, drogas, rock'n'roll, Kerouac. Para mim, a Califórnia era voltar no tempo, para a minha juventude", conta.
"Mas se tornou divertido escrever sobre esses "mutantes", que querem ficar para sempre jovens, bonitos e famosos -quem não quer? Eu também quero!"
Passam-se 20 anos. George W. Bush está no poder, lutando contra Saddam. "Havia milhares de histórias para contar: das eleições presidenciais, passando pelos marines indo à guerra e o lindo Arnold [Schwarzenegger] se tornando governador do Estado, até os franceses comprando Hollywood. Nunca trabalhei tanto!".
Em "Crônicas", para o qual já agendou uma seqüência e assinou um contrato para transformá-lo em filme ("Uma Francesa em Hollywood" é o título provisório), conta algumas dessas experiências, desde a vida num hotel por um ano até a invasão do Iraque, refrescada por uma hilariante passagem sobre a confluência da guerra e da cerimônia do Oscar.
Lançada pela recém-criada Barcarolla, a edição brasileira só comete um erro na opinião da autora: "Não entendi a capa [com uma senhora idosa de cabelo rosa num conversível rosa]. Espero que ninguém pense que aquela mulher sou eu. Por favor, me ajude a desfazer esse equívoco".
Com isso em pratos limpos, passa a falar de assuntos sérios, como a eleição nos EUA. "Bush está encrencado porque mentiu aos americanos e isso eles não perdoam -lembra-se de Monica Lewinsky? Se soldados continuarem sendo mortos no Iraque, mesmo se melhorar a economia, ele deve perder em novembro."
E finaliza: "Os próximos seis meses serão muito interessantes. Principalmente para um repórter. E ainda mais para mim".


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