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Diretor busca narrar história com clareza
DO ENVIADO A MANAUS
O "Ring" é de uma profusão tão incrível de ingredientes simbólicos e dramáticos
que os diretores cênicos precisam selecionar suas ênfases e prioridades.
O inglês Aidan Lang, que o
dirige em Manaus, diz que a
seu ver o principal fio condutor é a oposição entre valores masculinos -o poder,
a força, expressos pelo deus
Wotan ou pelo Nibelungo
(anão das profundezas da
Terra) Alberich- e os valores femininos -o amor e a
natureza, presentes por
exemplo em Freia, deusa da
juventude e da vida.
O diretor crê que Wagner
mostra o mundo como desprovido do equilíbrio entre
essas forças antagônicas. A
"esperança" de que o equilíbrio volte está no amor entre
Siegfried, adolescente incorrompido e herói que desconhece o medo, e a valquíria
Brünnhilde, que se descobre
como mulher após ser punida pelo pai, Wotan, com a
perda da imortalidade.
"O teatro lida com a palavra metafórica", diz Lang. O
que também vale para a ópera. A montagem dele escapa
do "naturalismo" com que o
"Ring" era feito no final do
século 19. E tampouco cai
em visões abstratas que seriam incompreensíveis para
quem está vendo e ouvindo
essa obra pela primeira vez.
Aposta-se no equilíbrio:
"Toda encenação de Wagner é um encontro entre o
passado, de onde falam o
compositor e o material temático, e o presente, que são
o público e os intérpretes",
diz Aidan Lang, que tem
uma visão muito particular
sobre a evolução de Wotan
ao longo das quatro óperas.
Em "O Ouro do Reno", ele é
um "deus jovem e idealista",
que se contrapõe ao cinismo
de Loge trapaceiro, o deus
do fogo. Já no episódio seguinte da tetralogia, "A Valquíria", que ocorre cerca de 20 anos depois, Wotan também se tornou cínico e "aceita com maior facilidade pagar por seus próprios erros".
Outra transição ao longo
do ciclo está na diluição da
deicidade. Em "O Ouro do
Reno", Wotan encomenda a
construção do Walhalla, o
mundo dos deuses. Já no final do ciclo, em "O Crepúsculo dos Deuses", a cena é
dominada pelos mortais. O
Walhalla está desativado.
Predomina em cena a ambição dos humanos.
Essas e outras transformações estão presentes por
meio de meras "sugestões"
da direção cênica. A prioridade, diz Lang, é a de narrar
o enredo com clareza, para
não perder a relação de cumplicidade com o público.
(JBN)
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