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CRÍTICA
Com soluções engenhosas, produção equilibra qualidade das vozes
DO ENVIADO A MANAUS
O "Ring" de Manaus tem a
qualidade fundamental para
uma boa produção operística. É
homogêneo na excelente qualidade das vozes, desta vez credenciadas para preencher um teatro de
dimensões médias, e com o timbre e a entonação calibrados para
dar conta com austeridade wagneriana dos papéis.
O mérito da escolha do elenco é
do maestro Luiz Fernando Malheiro, também responsável pela
Amazonas Filarmônica, de músicos que jamais haviam enfrentado uma versão completa de "O
Anel dos Nibelungos". Sua sonoridade está sem arestas, "arredondada" nas cordas e metais -enriquecidos por seis tubas wagnerianas vindas da Alemanha- e mergulhada na dimensão narrativa
que se espera.
"O Ouro do Reno", encenado
no sábado, era a única produção
inédita para a complementação
do "Ring" -as demais vinham
sendo produzidas desde 2002.
Não há uma voz que funcione como força motriz. Todas se equilibram num patamar técnico elevadíssimo. O Wotan cantado por Lício Bruno, o Loge, pelo argentino
Carlos Bengolea, a Fricka, por Celine Imbert, são competentes.
Dispensam o vibrato para indicar
uma redundância dramática.
No domingo à noite, "A Valquíria" trouxe Eiko Senda, como Siegelinde, Maria Russo, como
Brünnhilde, Stephen Bronk, como Hunding, e Thomas Rolf Truhitte, como Siegmund.
A cenografia e os figurinos deixam a história numa espécie de
limbo da contemporaneidade. As
soluções cênicas são engenhosas
-como o uso de caixas de vidro
em que os deuses hibernam ou de
uma caixa idêntica para o longo
sono de Brünnhilde, até que um
herói venha acordá-la. O chão do
palco é pontiagudo. Um de seus
ângulos se aproxima do maestro.
E o Walhalla, a casa dos deuses,
é uma montagem em alto relevo
do plano urbanístico imaginado
para Berlim no Terceiro Reich.
Em resumo, e ao menos pelas
duas primeiras das quatro óperas
do "Ring", algo de culturalmente
enriquecedor ocorreu no Brasil.
E, paradoxalmente, no Amazonas, um de seus cantos mais desprovidos de recursos.
(JBN)
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