São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2005

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CRÍTICA

Com soluções engenhosas, produção equilibra qualidade das vozes

DO ENVIADO A MANAUS

O "Ring" de Manaus tem a qualidade fundamental para uma boa produção operística. É homogêneo na excelente qualidade das vozes, desta vez credenciadas para preencher um teatro de dimensões médias, e com o timbre e a entonação calibrados para dar conta com austeridade wagneriana dos papéis.
O mérito da escolha do elenco é do maestro Luiz Fernando Malheiro, também responsável pela Amazonas Filarmônica, de músicos que jamais haviam enfrentado uma versão completa de "O Anel dos Nibelungos". Sua sonoridade está sem arestas, "arredondada" nas cordas e metais -enriquecidos por seis tubas wagnerianas vindas da Alemanha- e mergulhada na dimensão narrativa que se espera.
"O Ouro do Reno", encenado no sábado, era a única produção inédita para a complementação do "Ring" -as demais vinham sendo produzidas desde 2002. Não há uma voz que funcione como força motriz. Todas se equilibram num patamar técnico elevadíssimo. O Wotan cantado por Lício Bruno, o Loge, pelo argentino Carlos Bengolea, a Fricka, por Celine Imbert, são competentes. Dispensam o vibrato para indicar uma redundância dramática.
No domingo à noite, "A Valquíria" trouxe Eiko Senda, como Siegelinde, Maria Russo, como Brünnhilde, Stephen Bronk, como Hunding, e Thomas Rolf Truhitte, como Siegmund.
A cenografia e os figurinos deixam a história numa espécie de limbo da contemporaneidade. As soluções cênicas são engenhosas -como o uso de caixas de vidro em que os deuses hibernam ou de uma caixa idêntica para o longo sono de Brünnhilde, até que um herói venha acordá-la. O chão do palco é pontiagudo. Um de seus ângulos se aproxima do maestro.
E o Walhalla, a casa dos deuses, é uma montagem em alto relevo do plano urbanístico imaginado para Berlim no Terceiro Reich.
Em resumo, e ao menos pelas duas primeiras das quatro óperas do "Ring", algo de culturalmente enriquecedor ocorreu no Brasil. E, paradoxalmente, no Amazonas, um de seus cantos mais desprovidos de recursos. (JBN)


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