São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 2006

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MÚSICA

Após mais de quatro anos, produtor se apresenta ao vivo; Skol Beats terá também Gui Boratto, destaque do tecno

Renato Cohen monta e desmonta seus pedaços de canções

Bruno Miranda/Folha Imagem
O produtor e DJ Renato Cohen, que apresenta suas músicas ao vivo no palco do Skol Beats, em SP


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Para muita gente, assistir à apresentação ao vivo (também chamada de live PA) de um produtor de eletrônica é tarefa chata. Normalmente, vem à mente alguém sem o menor carisma, com a expressividade de um contador, em cima de um palco, olhando para um laptop de onde saem barulhos indecifráveis. É o contrário disso o que buscam gente como Renato Cohen e Gui Boratto.
Respeitados -e ouvidos- no exterior, Cohen e Boratto são os dois principais produtores de tecno do Brasil. Ambos tocam no palco principal do Skol Beats, festival que acontece no Anhembi, em São Paulo, no próximo sábado (veja quadro ao lado).
A apresentação de Cohen, em particular, chama a atenção e disputa de igual para igual o interesse com as outras atrações do evento, internacionais ou não. Faz quatro anos que ele não toca ao vivo -a última vez foi justamente no Skol Beats, em 2002, quando sua faceta de live PA era conhecida como Level 202. Faz dez anos que ele está na estrada.
A partir deste sábado, Renato Cohen muda totalmente a forma de mostrar suas canções ao vivo. Primeiro, porque essas canções estão "despedaçadas", desconstruídas em blocos para, na hora da apresentação, serem montadas de acordo com a necessidade.
"Quando comecei, minha preocupação era mostrar as músicas como elas tinham sido feitas. Hoje, quero algo mais versátil. Estou tentando chegar o mais perto possível do que um DJ faz. Tenho as músicas fragmentadas na máquina. Posso ir montando e misturando com outras coisas. Não estou preso ao arranjo da música, isso eu faço na hora", explica.
Depois do festival, Cohen excursionará com seu live PA, em que utiliza apenas duas máquinas MPCs, que, basicamente, funcionam como sampler e seqüenciador. "Não pode ser algo como um show. Tem que funcionar em clubes, tem que fazer com que as pessoas dancem, e não com que elas fiquem apenas assistindo."
Autor do hit "Pontapé", lançado há mais de três anos, e de canções como "Abelhas" e "Space Is", Cohen produziu vários "fragmentos" novos para o novo live PA e modificou as músicas antigas. Ele podia se apresentar apenas com um laptop, mas prefere algo mais analógico, como a MPC, que existe há mais de uma década.
"Quando você vê alguém tocando com um laptop, às vezes fica pensando: "Será que ele está fazendo alguma coisa ou está vendo os e-mails?'", brinca.
"Pode ser bem entediante. Há uns dez anos, havia um certo mistério em torno da eletrônica, pois ninguém sabia direito como era feita. Sabia-se que não era "gente" tocando, que era música feita por nerds que não estavam preocupados em se mostrar. Hoje as pessoas prestam atenção em quem está tocando, no que o DJ ou o produtor está fazendo. Não é igual ao rock, em que é preciso ter presença de palco, mas se deve ter algo para mostrar ao público."
Para Cohen, baterista de formação e autodidata em aparelhos eletrônicos, a discussão "produtor de dance music é músico?" está ultrapassada. "Na eletrônica, o que importa é a intensidade, a dinâmica da canção, muito mais do que a melodia. Importa muito mais lidar bem com isso do que saber as notas musicais."
Gui Boratto, que estudou piano e guitarra e hoje faz músicas para o prestigioso selo alemão Kompakt, referência do mundo tecno, concorda. "Deve-se olhar por dois lados: a eletrônica pela questão estética, por usar elementos eletrônicos, e pelo lado do produtor, que usa softwares digitais para soar eletrônico. O Suba [1961-99], por exemplo, era um cara que não tocava nada e fazia coisas lindíssimas. Quando você é músico, pensa muito como músico, quase como um matemático, e quem é leigo não sofre com isso."
Boratto utilizará nesta apresentação (e nas que fará na Europa, em seguida), além de um laptop, pedais de distorção e sintetizadores. E, talvez, até uma guitarra. "Existem "lives" e "lives". Realmente é chato assistir a alguém que fica apenas olhando para o laptop. Quanto mais elaborado, maior será a sensação de aquilo estar sendo feito ao vivo."


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