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Nostalgia da modernidade
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
"Temos que dar esse crédito à Luftwaffe. Construímos no lugar dos prédios destruídos pelos bombardeios
algo pior que entulho."
Príncipe Charles, em 1984
Há duas décadas, o príncipe
Charles dizia que os arquitetos
modernos tinham feito mais estrago à paisagem londrina que os
bombardeios da força aérea nazista. Muitos compatriotas concordaram. Edifícios como o Barbican e o National Theater, dos
anos 70 e 80, desagradavam os locais. Charles defendia os estilos
belas-artes dos séculos 18 e 19.
Hoje, sabe-se que para o herdeiro britânico beleza não é fundamental. E o modernismo está em
alta no Reino Unido. Não só pelo
sucesso de Norman Foster na paisagem de Londres.
Uma grande exposição no Victoria & Albert Museum é dedicada ao movimento que pretendia
redesenhar o mundo. Suas salas
estão repletas de maquetes e objetos desenhados pelos pais do modernismo, como Le Corbusier, os
diretores da escola alemã de artes
Bauhaus, Walter Gropius e Mies
van der Rohe, e Marcel Breuer,
entre outros.
O essencial
A exposição foca o momento
"heróico" do movimento moderno, que vai de 1914 a 1939. Com os
horrores da Primeira Guerra
Mundial e a influência da utopia
comunista da Revolução Russa,
uma geração de arquitetos e artistas quis provar que o design e a
tecnologia poderiam transformar
a sociedade.
Os modernistas foram muito
influenciados pelo pai da indústria automobilística, o americano
Henry Ford. A linha de montagem e a produção em massa poderiam democratizar o acesso a
bens de consumo e facilitar a vida
dos trabalhadores. A negação do
passado tinha uma defesa moral.
Trocar ornamentos por austeridade significava ir ao essencial, ao
"uso honesto" dos materiais.
"Há uma grande nostalgia pelo
modernismo, por todo o idealismo dele, que hoje se perdeu", diz
a urbanista e historiadora Sarah
Ichioka, professora do Cities Program, da London School of Economics. "Havia uma intenção democrática de produzir consumo e
distribuição para as massas."
Há diversas obras na exposição
que mostram essa fúria criativa e
o "espírito social" do movimento.
De uma réplica da primeira cozinha modulada feita em grande escala para um conjunto habitacional de Frankfurt, em 1927, a diversas cadeiras sem ornamentos para facilitar a produção em massa.
Críticas sarcásticas
Assim como o comunismo, o
modernismo mostrou logo suas
limitações. A arquitetura sozinha
não conseguiu mudar o mundo.
O sucesso da exposição levou detratores do movimento a ressuscitar críticas ferozes ao modernismo, como a publicada no jornal
"The Guardian", pelo crítico Robert Hughes. "Arquitetos adoram
os conjuntos habitacionais de Le
Corbusier. Os infelizes que moram lá, não", escreveu.
O escritor Tom Wolfe publicou
em 81 o ensaio "Da Bauhaus para
a Nossa Casa", em que já espezinhava os modernistas. "Qualquer
tentativa de sentar em uma chaise
longue de Le Corbusier equivale a
um golpe de caratê na nuca."
Para um dos maiores responsáveis pela redecoberta do modernismo no mundo, o americano
Terence Riley, essas críticas são
"absurdas". Riley dirigiu durante
14 anos o Departamento de Arquitetura do MoMA, em Nova
York. À Folha, ele afirmou que "o
modernismo é a esperança de que
o futuro possa ser melhor que o
passado".
"No seu momento heróico, os
modernistas radicais, como Ícaro
antes, foram longe demais. Pós-modernistas achavam que o passado era a resposta. Só que essa
premissa ficou com cara de Disneylândia", diz ele. Segundo Riley, "é perigosa a arrogância de
achar que não se pode melhorar o
que já foi feito".
O jornalista Raul Juste Lores viajou a
convite da Ditchley Foundation
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