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Crítica/"Utamaro e Suas Cinco Mulheres" e "Mulheres da Noite"
Mizoguchi volta em dois estilos
Diretor japonês tem lançados no Brasil o inovador "Mulheres da Noite" e o tradicional "Utamaro..."
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O destino das mulheres,
em particular o das
mulheres pobres, era
sombrio, no entender de Kenji
Mizoguchi.
As casas de prostituição
eram um destino frequente para elas e foram também um assunto frequente do grande cineasta. Ele não as conhecia
apenas como artista. Consta
que gastava ali todo o seu dinheiro. E que não devia ser
pouco, já que era um dos três
principais cineastas japoneses.
Mesmo com todo esse prestígio, Mizoguchi passou por momentos difíceis, e um deles foi o
pós-guerra, quando seu estilo
foi considerado fora de moda.
Pesavam para isso não apenas a ascensão de uma geração
recente (Akira Kurosawa à
frente, mas não sozinho) e os
novos ares do mundo -e do Japão-, após a derrota militar.
É possível que "Utamaro e
Suas Cinco Mulheres", de 1946,
fosse um desses filmes vistos
com reservas: trata-se de falar
da paixão de um pintor por sua
arte e, sobretudo, o empenho
em captar a vida, integralmente, que punha em cada retrato
de mulher que realizava.
É um filme sobre o cinema,
em grande medida. Um filme
"tradicional", para os padrões
de 1946, talvez bastante alienado, o que não deixava de convir
para um cineasta que havia estado muito próximo do governo durante a guerra. Mas um
belíssimo filme, quando visto
em 2009.
"Mulheres da Noite" participa do movimento de "atualização" de Mizoguchi. O filme é de
1948 e nos chega em sua versão
internacional, de 72 min. (no
Japão foi exibido em 100 min.),
o que lhe confere uma agilidade
maior do que a média do cinema nipônico e alguns saltos estranhos no tempo.
A partir do fim da guerra, Mizoguchi inteirou-se sobre o
"novo estilo", em especial o
neo-realismo italiano. Foi isso
que pediu a seu fiel roteirista,
Yoda Yoshikata: um filme nos
moldes contemporâneos. Yoda
escreveu e Mizoguchi filmou
conforme os novos cânones: só
em locações.
Isso, aliás, não prejudica em
nada a história da viúva de
guerra que, apesar dos enormes
problemas econômicos, recusa-se a cair na prostituição.
Consegue um emprego (tornando-se, na verdade, amante
do chefe) e terá na irmã, mais
tarde, uma rival.
Assim como em "Utamaro",
Mizoguchi é brilhante em cada
enquadramento, e em particular no trabalho de longos e elaborados planos, em que é um
dos pioneiros no cinema sonoro. Ele cerra seu objeto com
precisão quase maníaca, fiel a
sua máxima, segundo a qual "é
preciso lavar o olho após cada
plano". Aprender a ver novamente, a ver o novo.
Kenji Mizoguchi é um desses
diretores de cinema que, quanto mais se vê, mais se percebe a
qualidade única: "Utamaro" e
"Mulheres da Noite" são filmes
com modos de produção, assuntos e até estilos diferentes,
mas ambos admiráveis.
UTAMARO E SUAS CINCO MULHERES/MULHERES DA NOITE
Distribuição: Lume
Quanto: R$ 49,90, em média
Classificação: não indicado a menores
de 10 anos ("Utamaro...') e 14 anos
("Mulheres...')
Avaliação: ótimo
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