São Paulo, domingo, 10 de maio de 2009

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crítica

Zurlini deixa primoroso "testamento"

DO CRÍTICO DA FOLHA

Quando li "O Deserto dos Tártaros", o livro de Dino Buzzati, já havia visto o filme de Valerio Zurlini, de maneira que a leitura foi contaminada pela força das imagens: as paisagens desérticas, o quase monocromatismo, as figuras dos oficiais, tão pomposas quanto parecendo em ligeira decomposição.
A revisão do filme confirma sua força. Em primeiro lugar, não deixa de ser uma aventura de alto risco: contar a história de Forte Bastiano e da eterna espera do ataque de um inimigo que não se sabe nem mesmo se existe.
Zurlini buscou algo que o livro não poderia abordar: o visível. Os oficiais são sujeitos a, talvez, alucinações. Eles veem algo no deserto que anuncia o inimigo (um cavalo, um movimento estranho). Mas ninguém sabe se, sob a densa poeira, o visto é real ou só imaginado. Mas essa eventual quimera pode ser partilhada entre os demais oficiais, pode ser vivenciada por eles e ter efeitos reais em suas vidas?
Zurlini assinou aqui seu último filme. É o verdadeiro testamento de um cineasta (de primeira linha): a busca eterna por ver o não visível, por ampliar as possibilidades do visível e do conhecimento -só isso pode dar sentido a uma existência e a uma indústria como a do cinema. (IA)


O DESERTO DOS TÁRTAROS
Distribuição:
Versátil
Quanto: R$ 47,90, em média
Classificação: não indicado a menores de 14 anos
Avaliação: ótimo



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