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Coleção Folha lança clássico dos irmãos Marx
"Uma Noite na Ópera" reúne família de humoristas
DA REPORTAGEM LOCAL
Um compêndio de clássicos
que se preze não poderia dispensar pelo menos um filme
dos irmãos Marx -ainda que a
palavra "clássico" não combine
muito com o estilo anárquico
dos humoristas.
Os irmãos Marx ganharam o
público pela primeira vez nos
palcos, nos anos 1910 e 1920, e
chegaram a Hollywood na década seguinte. "Uma Noite na
Ópera" (1935), próximo volume da Coleção Folha Clássicos
do Cinema, é considerado seu
melhor filme, ao lado de "O
Diabo a Quatro" (1933).
Filhos de uma numerosa família de imigrantes judeus estabelecida em Nova York, Julius, Arthur, Leonard, Milton e
Herbert -um sexto irmão
morreu ainda criança- aprenderam, desde cedo, a tocar algum instrumento e a cantar.
Logo começaram a se apresentar em "vaudevilles" e ganharam, já nessa época, apelidos
artísticos: Julius tornou-se
Groucho; Arthur virou Harpo e
Leonard ganhou o nome de
Chico. Milton e Herbert, que
no palco eram Gummo e Zeppo, abandonariam a carreira.
O sucesso dos irmãos Marx
nos palcos coincidiu com a chegada do cinema falado, o que
fez com que a Paramount os
contratasse para desenvolver
projetos para o cinema. No estúdio, realizaram cinco filmes,
começando com "No Hotel da
Fuzarca", em 1929, e terminando com "Diabo a Quatro". Logo
depois foram levados pelo jovem produtor Irving Thalberg
para a Metro-Goldwyn-Mayer.
Para Thalberg, os filmes dos
irmãos Marx seguiam excessivamente a estrutura dos "vaudevilles" -e, de fato, boa parte
deles pareciam peças filmadas.
Thalberg contratou um diretor
conhecido pelo perfeccionismo
(Sam Wood) para "domar" as
feras e tentar tirar o ranço teatral dos filmes.
A realização do filme não se
deu sem conflitos: a anarquia
dos humoristas foi diretamente
confrontada pelo rigor de Thalberg e Sam Wood -e é difícil
saber até que ponto a busca pelo "tempo cinematográfico"
não foi também tentativa de
domesticar e codificar a postura anárquica dos irmãos Marx.
Duas histórias sobre a atuação de Thalberg, descritas por
Gregório Belinchon no livro
que acompanha o DVD, são especialmente interessantes. A
primeira narra a concepção da
sequência mais famosa do filme, aquela em que 15 personagens se aglomeram em um minúsculo camarote até que uma
respeitável senhora abre a porta e o quarto "explode".
O esquete não funcionou no
teatro e foi eliminado pelos roteiristas, mas o produtor percebeu que, no cinema, por meio
de trucagem, poderia ganhar
um ar ainda mais absurdo e
claustrofóbico, fazendo questão de preservá-la.
A segunda história é relacionada à montagem. As primeiras
exibições teste do filme foram
desastrosas, o que levou Thalberg a se trancar com o editor
William LeVanway durante
três dias até achar o tempo certo das piadas e -mais importante- eliminar a "gordura"
entre cada uma delas. Resultado: ainda que "Uma Noite na
Ópera" tivesse uma recepção
fria da crítica, tornou-se um
dos maiores sucessos de público dos irmãos Marx.
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