São Paulo, domingo, 10 de maio de 2009

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Coleção Folha lança clássico dos irmãos Marx

"Uma Noite na Ópera" reúne família de humoristas

DA REPORTAGEM LOCAL

Um compêndio de clássicos que se preze não poderia dispensar pelo menos um filme dos irmãos Marx -ainda que a palavra "clássico" não combine muito com o estilo anárquico dos humoristas.
Os irmãos Marx ganharam o público pela primeira vez nos palcos, nos anos 1910 e 1920, e chegaram a Hollywood na década seguinte. "Uma Noite na Ópera" (1935), próximo volume da Coleção Folha Clássicos do Cinema, é considerado seu melhor filme, ao lado de "O Diabo a Quatro" (1933).
Filhos de uma numerosa família de imigrantes judeus estabelecida em Nova York, Julius, Arthur, Leonard, Milton e Herbert -um sexto irmão morreu ainda criança- aprenderam, desde cedo, a tocar algum instrumento e a cantar. Logo começaram a se apresentar em "vaudevilles" e ganharam, já nessa época, apelidos artísticos: Julius tornou-se Groucho; Arthur virou Harpo e Leonard ganhou o nome de Chico. Milton e Herbert, que no palco eram Gummo e Zeppo, abandonariam a carreira.
O sucesso dos irmãos Marx nos palcos coincidiu com a chegada do cinema falado, o que fez com que a Paramount os contratasse para desenvolver projetos para o cinema. No estúdio, realizaram cinco filmes, começando com "No Hotel da Fuzarca", em 1929, e terminando com "Diabo a Quatro". Logo depois foram levados pelo jovem produtor Irving Thalberg para a Metro-Goldwyn-Mayer.
Para Thalberg, os filmes dos irmãos Marx seguiam excessivamente a estrutura dos "vaudevilles" -e, de fato, boa parte deles pareciam peças filmadas. Thalberg contratou um diretor conhecido pelo perfeccionismo (Sam Wood) para "domar" as feras e tentar tirar o ranço teatral dos filmes.
A realização do filme não se deu sem conflitos: a anarquia dos humoristas foi diretamente confrontada pelo rigor de Thalberg e Sam Wood -e é difícil saber até que ponto a busca pelo "tempo cinematográfico" não foi também tentativa de domesticar e codificar a postura anárquica dos irmãos Marx.
Duas histórias sobre a atuação de Thalberg, descritas por Gregório Belinchon no livro que acompanha o DVD, são especialmente interessantes. A primeira narra a concepção da sequência mais famosa do filme, aquela em que 15 personagens se aglomeram em um minúsculo camarote até que uma respeitável senhora abre a porta e o quarto "explode".
O esquete não funcionou no teatro e foi eliminado pelos roteiristas, mas o produtor percebeu que, no cinema, por meio de trucagem, poderia ganhar um ar ainda mais absurdo e claustrofóbico, fazendo questão de preservá-la.
A segunda história é relacionada à montagem. As primeiras exibições teste do filme foram desastrosas, o que levou Thalberg a se trancar com o editor William LeVanway durante três dias até achar o tempo certo das piadas e -mais importante- eliminar a "gordura" entre cada uma delas. Resultado: ainda que "Uma Noite na Ópera" tivesse uma recepção fria da crítica, tornou-se um dos maiores sucessos de público dos irmãos Marx.


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