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Televisão / Crítica
"Crepúsculo dos Deuses" se renova
CRÍTICO DA FOLHA
O abuso nas reprises pode ser
relativo. Se o filme reprisado é
"Se Eu Fosse Você" (Fox, 18h;
classificação: 10 anos), a comédia de Daniel Filho dá tudo o
que tem, praticamente, na primeira visão. "A Fraternidade
É Vermelha" (Futura, 22h;
classificação: 14 anos), de Kieslowski, resiste a uma revisão,
mas dificilmente a muitas.
Já "Crepúsculo dos Deuses" (TC Cult, 15h20; classificação: 12 anos) se deixa ver por
tantos lados que a cada visão
parece se renovar. Na história
da superada atriz do cinema
mudo que tenta voltar a seus
dias de glória, cada sequência
acrescenta novos mistérios.
Por exemplo: o que levaria
um jovem e pobre roteirista a
se aproximar de uma velha e rica senhora? A facilidade para
pagar as dívidas? A inconsequência que sente em se tornar
gigolô? A curiosidade pelo estranho mundo habitado pela
mulher e por seu mordomo?
As questões podem se aplicar
a praticamente todos os personagens. Quanto mais caminhamos, mais o filme nos conduz a
um mundo opaco, a que só a
presença da indústria cinematográfica (estamos em Hollywood) ao redor, com sua fantasia inerente, parece fornecer
realidade.
Existem as "obras-primas
que nunca nos conformamos
em reler", disse Jorge Luis Borges. E existem essas outras, que
parecem nunca se esgotar. Ninguém tenha dúvida: essas são
uma minoria nas exageradas
reprises que a TV paga oferece.
(INÁCIO ARAUJO)
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