São Paulo, sábado, 10 de maio de 1997.



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'O Banquete' não revela o amor

da Reportagem Local

"O Banquete", diálogo de Platão, não é cobiçado de agora pelo teatro. Não chega a ser um "drama dialético" como outros, mas é aquele em que o "duelo de palavras" se faz de maneira mais harmoniosa. Em que os personagens são iguais, do trágico Ágaton ao comediógrafo Aristófanes, do filósofo Sócrates ao belo e valoroso Alcibíades. Não corre em torno de um protagonista, antes confronta "todos em posição elevada".
Entende-se o interesse declarado em entrevista por Daniela Thomas, por exemplo; em especial, entende-se pelo tema, o amor.
Pena que uma primeira adaptação tenha partido de um grupo ainda iniciante, louvável que seja sua ambição. A companhia é saída da Unicamp, há dois anos em São Paulo, sob a direção de Paulo Simões, também o adaptador.
O resultado é um espetáculo hesitante nas soluções cenográficas e na interpretação. Perpassa a montagem um certo amadorismo, que não casa com sua ambição.
Para quem está disposto a falar do amor, da paixão, da amizade, faltam os mesmos, na representação dos seis jovens atores. Não há maior paixão no espetáculo, por maior que seja o esforço.
Uma exceção talvez esteja em Pausânias, cujo intérprete não é identificado no programa, mas o qual entra em cena com o desejo e o empenho de sustentar o que fala, de dar corpo e intensidade ao paralelo que faz entre o amor irrefletido e sensual e o amor "divino", servidor do ser amado.
Os demais atores, do intérprete de Fedro ao de Alcibíades, seguem ainda longe de descobrir a caracterização, os personagens.
Muito se deve, ao que parece, à adaptação, confusa, sem norte, sobretudo distante do que se imagina ser a divisão central, o conflito, ao menos no que rezam eruditos como Werner Jaeger, sobre "O Banquete": a oposição entre poesia e filosofia, Ágaton e Aristófanes de um lado e Sócrates de outro.
"O Banquete", na montagem, surge como discursos díspares e pouco teatrais sobre o amor. Antes oratória do que poesia, e não uma oratória convertida em poesia, como se acredita do diálogo -e só assim permite a vitória da filosofia, tornada poesia, sobre a poesia.

Peça: O Banquete Quando: qua a sáb, às 21h30; dom, às 20h30 Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 277-3611)
Quanto: R$ 8



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