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'Ui!' perde a parábola, mas ganha o show
da Reportagem Local
O alemão Bertolt Brecht era, tanto quanto um comunista perseverante, um entusiasta da cultura
popular norte-americana. Mudou
o próprio nome, por conta. Arrebatado pelos musicais da Broadway, ainda que não pela superficialidade, lutou para viabilizar
suas peças em Nova York.
E escreveu muitas tendo como
cenário os EUA. É o caso da peça
agora adaptada como "Ui! Essa
Onda Vai Te Pegar", com direção
de Marco Antônio Braz. O que o
texto -sobre um gângster do
Bronx, Arturo Ui, que domina
Chicago- já trazia de reflexo da
cultura de massa emergente nos
anos 40 Braz foi acentuado.
Aproveitou as sugestões físicas
do Oficina, teatro já aberto à cultura popular, com pista e arquibancadas, e estendeu a noção com vídeos, microfones e atuações de um
musical leve. Do tema de "Batman" às locuções de Boris Casoy.
Com um elenco ainda em formação, o terceiro e amplo núcleo de
sua Cia. de Comediantes (a capacidade de mobilização do diretor é
surpreendente), montou um musical de variedades, com mulheres
seminuas e quadros com vidas
quase independente da trama.
Mas havia o texto, a "parábola",
e o que fazer com ele. Brecht avisa
em "Ui" sobre os perigos da massificação, em que os mecanismos
da representação, hoje se diria do
marketing, vencem a razão.
É uma parábola de Hitler, nem
tanto uma parábola de hoje, pelo
menos não se conseguiu deixá-la
clara, no espetáculo. Não se tem
um Arturo Ui em evidência, antes
os processos que o dramaturgo denuncia tornaram-se gerais, e isso
enfraquece a apresentação.
Mas está lá a interpretação
brechtiana, em comunicação direta com o público, e um sarcasmo
inteligente, que vai tão bem no
Oficina, já vista em "Baal", também de Brecht, que precedeu "Ui!
Essa Onda Vai Te Pegar".
É assim, com um fascínio de
Broadway, de cabaré, de show, que
a peça mais agrada.
(NS)
Peça: Ui! Essa Onda Vai Te Pegar
Quando: qui a sáb, às 21h; dom, às 20h
Onde: teatro Oficina (r. Jaceguai, 520, tel.
606-2818)
Quanto: R$ 10
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