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Artista reelabora canções
da Redação
Se a novidade anda em falta no
mercado nacional, "20 Anos - Antologia Acústica" pelo menos é
caso em que o saudosismo se justifica pelo resultado do trabalho.
O disco vira documento de preservação da história da MPB, anexando a cada canção textos de Zuza Homem de Mello que não só explicam as razões de Zé Ramalho
em cada criação como o situam no
âmbito bem mais amplo da música
popular nacional.
Mais: auxilia a compreensão da
postura do artista, ponta-de-lança
de vertente que ousou fazer vista
grossa à tendência globalizadora
que o tropicalismo havia trazido,
investindo no nacionalismo de
maracatus, repentes, modas de
viola, martelos agalopados, cocos
e emboladas -quase 20 anos antes do advento do mangue beat.
Aí a figura amedrontadora de Zé
surgiu para afirmar a universalidade do regionalismo -não à toa,
tem sido mais comparado a Bob
Dylan que a Luiz Gonzaga.
A antologia traz a peculiaridade
de não se somar ao vendaval de releituras empobrecedoras que artistas têm feito de suas próprias
obras. Zé supera a precariedade de
gravação de muitas de suas canções originais, investindo em arranjos encorpados, não raro bem
diferentes dos originais.
A voz, mais grave, desfia clássicos que o imaginário já nem dava
conta de serem de Zé: "Avohai",
"Chão de Giz", "Banquete de
Signos", "Frevo Mulher"...
São quase sempre versões aprimoradas de um veio determinado
-e vigoroso- da MPB: o do profeta/messias agreste que reelabora
a epopéia do sertão.
A exceção se estabelece justamente no hit "Admirável Gado
Novo". A faixa traz o feito de retirar o ranço messiânico de que a
Globo tão bem se serviu na defesa
demagógica dos sem-terra, mas Zé
aparece sem viço, secundado por
tenebroso coro à moda católica.
Nada que tire do artista o trono recém-recuperado de figura ímpar e
inconfundível da MPB.
(PAS)
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