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Nós que nos amávamos tanto
Pais, amigos e amores do cantor Cazuza (1958-1990) estréiam em filme amanhã
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Sandra amava Daniel que amava Frejat que amava Lucinha que
amava João que amava Reginaldo
que amava Marieta que amava
Ney que amava Cazuza que amava toda a quadrilha.
Quando a morte de Cazuza (em
1990, de Aids) rimou amor com
dor, Lucinha (Araújo) imprimiu
as saudades do filho num livro
("Cazuza - Só as Mães São Felizes"), que foi o ponto de partida
para Sandra (Werneck) dirigir o
longa-metragem "Cazuza - O
Tempo Não Pára", a quatro mãos
com Walter (Carvalho).
Antes que o filme chegasse aos
cinemas (150 salas, amanhã), Fernando (Bonassi), que não tinha
entrado na história, assumiu sua
escrita, ao lado de Victor (Navas).
Bonassi, colunista da Folha,
procurou "fazer uma reforma importante no roteiro, no sentido de
torná-lo mais ambíguo, mais louco e apimentado", porque achava
que, "naquele momento, o roteiro
se encontrava com uma posição
muito singela do Cazuza, talvez
ainda muito relativa à voz familiar, a como Lucinha via o filho".
Lucinha aprovou o resultado do
filme, mas se viu "meio chatinha,
cobradora, pintada com cores
muito fortes" na tela. Sandra diz
que "todas as mães somos obsessivas, carinhosas, protetoras" e
enxerga Lucinha no filme "tão
amorosa, tão dedicada ao filho".
(Roberto) Frejat confessa que,
"ouvindo Marieta (Severo), várias
vezes achava que era a própria Lucinha falando" e que achou também que "Daniel (Oliveira) está
impressionante [como Cazuza], e
os quatro membros da banda
[Barão Vermelho], muito bem representados", embora ache "superficial" o retrato cinematográfico feito dele mesmo.
"Pelo filme, sou o cara que dá os
cortes e coloca ordem. Até podia
ser mesmo, mas não do modo
maniqueísta que aparece. A frase
sobre o samba nunca sairia da minha boca." Bonassi diz que, "independentemente de [Frejat] ter
dito ou não, havia no início dos
anos 80 uma polaridade entre
MPB e rock" e conclui: "Se [Frejat] não disse, poderia ter dito, o
que me isenta de culpa quanto à
verdade".
Não só nesse episódio, o roteirista deu de ombros para o compromisso da reprodução histórica
rigorosa. "Pessoalmente, não estou nem aí para a verdade dos fatos. Tratando-se de um ídolo pop,
você tem que captar a freqüência,
a atmosfera. Enquanto escrevia, a
gente dizia que tudo é verdade, especialmente o que a gente inventou. A essa altura, não sei o que a
gente inventou, o que ouvi falar e
o que aconteceu de verdade."
Sandra diz que "não chegaria a
tanto", embora afirme que, se fosse para reproduzir com exatidão
os fatos, faria um documentário,
não uma ficção biográfica. "Claro
que a gente inventou muita coisa,
mas a gente chupou muito do livro da Lucinha. Há seqüências
[no filme] absolutamente tiradas
do livro dela, que estavam quase
prontas cinematograficamente."
Aquilatando verdades absolutas
e mentiras sinceras, João (Araújo)
diz: "Para mim, o que está no filme é 50% verdadeiro, 50% ficção". O pai de Cazuza acha que a
representação de seu filho no cinema foi inexata no aspecto da
homossexualidade do cantor.
Mas essa é outra história, contada
duas páginas a seguir.
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