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TEATRO
Montagem de "Diálogo" viabiliza depoimento frágil
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
A tentação é grande de afirmar que "Diálogo com a
Mãe" é um texto frágil, encampado com paixão por dois atores extraordinários, por meio da sutil
sensibilidade do encenador.
Isso seria abusivo, no entanto:
diante de um espetáculo, como
julgar o mérito do texto, como se
fossem obras autônomas ou como se a arte do encenador fosse
apenas a de transmitir as intenções do autor ao elenco?
Antes de tudo, é preciso dizer
que a fragilidade do texto de José
Eduardo Vendramini não estaria
na falta de uma narrativa convencional.
Pelo contrário: para um tema
delicado como a relação entre
mãe e filho, o tom ingênuo e fragmentado como uma colcha de retalhos, símbolo que atravessa a
peça, é corajoso e sedutor.
Essa opção pelo simbolismo,
por outro lado, não leva a um hermetismo pedante. A trama é eficazmente simples: no dia do seu
aniversário, um escritor tenta o
suicídio, acreditando ter sido o
responsável pela morte da mãe.
Em devaneio, vê sua mãe voltar
do paraíso para acertar com ele
esses rancores antigos.
O diálogo que se trava assim é
pouco mais do que um tema e variações, pequenas evocações do
cotidiano, entremeadas de auto-comiseração em alguns momentos, cortadas por um humor quase infantil na descrição do paraíso, onde vivem Cacilda Becker e
Sherazade em meio a competições de bordado.
O que pesa na fábula, no entanto, é uma tendência constante ao
assertivo: lugares-comuns bloqueiam o conflito, conceitos
prontos antecipam a descoberta
do público, como quando a mãe
se apresenta como camponesa.
Experiência
Em mãos menos experientes,
portanto, é de imaginar que essa
matéria-prima do texto possa levar a um espetáculo melodramático e raso.
Miriam Mehler, porém, é uma
atriz não só experiente, mas generosa. Generosa em não querer parecer mais inteligente do que o
texto, rendendo-se sem pudor ao
humor de sua personagem: ela é
engraçada e ingênua, e, por trás
dessa simplicidade, é que se pode
adivinhar a terrível mãe castradora que levou à autodestruição de
seu filho.
Nelson Baskerville está à altura
de Mehler, com pausas plenas e
sensíveis, sempre terno, sem perder o patético. Expõe-se sem hesitar aos desafios da encenação, em
busca desse difícil meio-termo
entre o trágico e o pueril.
William Pereira é eficiente
quando proporciona a esses saltos mortais dos atores uma rede
sutil de marcas que se repetem em
estrutura musical, além de uma
bela cenografia, de onirismo minimalista, em muito ajudada pela
luz de Wagner Freire.
Com esse endosso, "Diálogo
com a Mãe" pode ser recebido pelo público pelo que tem de melhor: um despretensioso e sensível, embora desajeitado, depoimento pessoal. Frágil, no melhor
sentido da palavra.
Diálogo com a Mãe
Texto: José Eduardo Vendramini
Direção: William Pereira
Com: Miriam Mehler e Nelson Baskerville
Onde: teatro Cultura Inglesa
-Higienópolis (av. Higienópolis, 449, São
Paulo, tel. 0/xx/11/3826-4322)
Quando: sex., às 21h; sáb. e dom., às
19h; até outubro
Quanto: R$ 20
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