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2ª FLIP
Na mesa mais beligerante da festa literária de Parati, ao lado de Luís Vilela, o contista se disse cansado da ironia machadiana
Sérgio Sant'anna ataca Machado de Assis
CASSIANO ELEK MACHADO
LUIZ FERNANDO VIANNA
ENVIADOS ESPECIAIS A PARATI
Machado de Assis, veja só, foi
criticado ontem na Festa Literária
Internacional de Parati. A pontada no escritor nacional partiu de
Sérgio Sant'anna, um dos principais contistas do Brasil. O palco
foi o debate dele com outro dos
principais autores de prosa curta
do país, o também romancista
Luiz Vilela.
Não chegou a ser um ataque pesado. Sant'anna disse que estava
cansado da ironia machadiana,
que lhe soava repetitiva.
Como contraponto, citou autores argentinos que lhe eram bem
mais caros, o já morto Robert Arlt
e os vivos Ricardo Piglia e César
Aira (este com palestra marcada
para a semana que vem no Rio de
Janeiro).
O mediador, Sérgio Rodrigues,
terminou dizendo que os jornais
cravariam que o autor disse que
"Machado é um saco".
A imprensa foi, vê-se, outra vítima da mesa mais beligerante da
Flip até aqui.
Quando perguntado sobre o
que achava da cobrança de uma
prosa mais experimental, rebateu
com um "acho essa discussão
uma bobagem" e afirmou que o
escritor tem de prosear "o que
brota de dentro", não o que jornalistas ou críticos cobram que ele
faça. O autor deve "soltar os cachorros", "baixar o santo".
Além de atacar o jornalismo,
que, para ele, não tem massa encefálica, "soltou os cachorros"
nos autores mais novos e disse
que não é influenciado por ninguém, ele influencia.
Sant'anna não criticou diretamente a ficção jovem e apontou o
conto como um espaço privilegiado da literatura brasileira, mas
sustentou que a nossa ficção ainda precisa passar pela peneira.
"Tem gente demais escrevendo. O
tempo selecionará os melhores."
Enquanto o tempo não vem,
Sant'anna diz ter desistido de ler
romances -a paciência só dá para os contos.
Henry James
E a paciência não dá para uma
idéia de outro mestre da narrativa
mundial -não sobrou só para o
autor de "Dom Casmurro". O
americano Henry James (1843-1916) também entrou na roda.
"Não aceito a defesa dele de que o
conto começa por uma boa história. Pode começar por uma palavra, por um som", disse.
O som é de grande importância
para Vilela. Tanto que, contou,
faz inúmeras leituras em voz alta
de seus textos, para testá-los. Disse que submete os mesmos textos
a leituras de pé, sentado, deitado.
"Pela posição do corpo, o fluxo de
sangue à cabeça se altera, e alguma coisa da compreensão do texto também deve se alterar." Risos.
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