São Paulo, sábado, 10 de julho de 2004

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2ª FLIP

Na mesa mais beligerante da festa literária de Parati, ao lado de Luís Vilela, o contista se disse cansado da ironia machadiana

Sérgio Sant'anna ataca Machado de Assis

CASSIANO ELEK MACHADO
LUIZ FERNANDO VIANNA
ENVIADOS ESPECIAIS A PARATI

Machado de Assis, veja só, foi criticado ontem na Festa Literária Internacional de Parati. A pontada no escritor nacional partiu de Sérgio Sant'anna, um dos principais contistas do Brasil. O palco foi o debate dele com outro dos principais autores de prosa curta do país, o também romancista Luiz Vilela.
Não chegou a ser um ataque pesado. Sant'anna disse que estava cansado da ironia machadiana, que lhe soava repetitiva.
Como contraponto, citou autores argentinos que lhe eram bem mais caros, o já morto Robert Arlt e os vivos Ricardo Piglia e César Aira (este com palestra marcada para a semana que vem no Rio de Janeiro).
O mediador, Sérgio Rodrigues, terminou dizendo que os jornais cravariam que o autor disse que "Machado é um saco".
A imprensa foi, vê-se, outra vítima da mesa mais beligerante da Flip até aqui.
Quando perguntado sobre o que achava da cobrança de uma prosa mais experimental, rebateu com um "acho essa discussão uma bobagem" e afirmou que o escritor tem de prosear "o que brota de dentro", não o que jornalistas ou críticos cobram que ele faça. O autor deve "soltar os cachorros", "baixar o santo".
Além de atacar o jornalismo, que, para ele, não tem massa encefálica, "soltou os cachorros" nos autores mais novos e disse que não é influenciado por ninguém, ele influencia.
Sant'anna não criticou diretamente a ficção jovem e apontou o conto como um espaço privilegiado da literatura brasileira, mas sustentou que a nossa ficção ainda precisa passar pela peneira. "Tem gente demais escrevendo. O tempo selecionará os melhores."
Enquanto o tempo não vem, Sant'anna diz ter desistido de ler romances -a paciência só dá para os contos.

Henry James
E a paciência não dá para uma idéia de outro mestre da narrativa mundial -não sobrou só para o autor de "Dom Casmurro". O americano Henry James (1843-1916) também entrou na roda. "Não aceito a defesa dele de que o conto começa por uma boa história. Pode começar por uma palavra, por um som", disse.
O som é de grande importância para Vilela. Tanto que, contou, faz inúmeras leituras em voz alta de seus textos, para testá-los. Disse que submete os mesmos textos a leituras de pé, sentado, deitado. "Pela posição do corpo, o fluxo de sangue à cabeça se altera, e alguma coisa da compreensão do texto também deve se alterar." Risos.


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