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Tóibín distribui sabonetes de "Ulisses"
DOS ENVIADOS A PARATI
A tarde de ontem em Parati, nebulosa, teve uma viagem para a Irlanda do século passado e uma
excursão ao futuro remoto. A primeira teve como guia o irlandês
Colm Tóibín, que levou uma Tenda dos Autores lotada para a Dublin de James Joyce, a mesma Dublin em que Tóibín vive até hoje.
Já a canadense Margaret Atwood promoveu tour "especulativo" ao futuro, com leitura de trecho de seu romance mais recente,
ambientado 30 anos adiante.
Tóibín defendeu que pouco
mudou na capital da Irlanda desde os tempos descritos por Joyce
em "Ulisses". "Os nomes das ruas
são os mesmos, as pessoas desempregadas são as mesmas, as mesmas piadas que circulavam pelo
centro de Dublin continuam lá."
Ele ilustrou sua tese com sabonetes de limão. Falou que a mesma loja citada no romance de
1922, na qual um personagem
compra sabonetes de limão em liqüidação, vendia, na semana passada, em promoção, esses mesmos artigos. Terminou a frase,
abriu uma caixa amarela e pôs-se
a jogar os tais sabonetes para seis
dos 550 espectadores de sua fala.
Fez sucesso, mas não foi aí que
atingiu o clímax com a platéia. Em
uma linha de raciocínio que partiu da falta de tradição literária irlandesa pré-Joyce, chegou à idéia
de que o modernismo foi muito
consistente em países como a Irlanda (e o Brasil) por terem sido
sociedades com grandes dificuldades econômicas (e políticas).
"Naquelas condições, não havia
como produzir nesses lugares romances formais, estáveis."
Mais lenta, mas com momentos
de grande brilho, foi a fala de Atwood. Ela caracterizou seu romance mais recente, "Oryx e Crake", como "ficção especulativa".
"Não é ficção científica. Não tem
naves, outros planetas. É um futuro próximo imaginado na Terra."
De volta ao presente, criticou a
crítica literária. "Nos jornais, é do
tipo "gostei do vestido, não gostei
do sapato". A acadêmica é como a
exegese da Bíblia." Ela mesma resenhista, diz que inventou um
"método novo": "Leio o livro inteiro". Arrancou aplausos ao dizer que todos os escritores são otimistas. "É otimista por achar que
pode escrever um livro e imaginar
que alguém vai publicá-lo. É otimista ainda por imaginar que alguém vai ler esse livro. E mais otimista de querer que alguém goste
do que leu."
(CEM e LFV)
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