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Ficção contém referências a lógicos ilustres
DO CRÍTICO DA FOLHA
"Crimes Imperceptíveis"
traz referências a matemáticos
e lógicos. Por exemplo, os trabalhos do lógico Ludwig Wittgenstein (1889-1951) são comparados a uma "caverna abandonada", na qual o indivíduo
se sente "à beira do abismo".
Para ele, é impossível estabelecer uma regra unívoca para as
séries. A seqüência 2, 4, 8 pode
vir naturalmente acompanhada do número 16, mas sempre
se pode continuar com 10 ou
2.007. Apesar disso, o livro defende a tese de que a psique humana prefere a solução 16, por
ser "a mais simples, mais clara
ou mais gratificante". Haveria
uma espécie de princípio estético que governaria as nossas
escolhas racionais.
Segundo o matemático norte-americano de origem austríaca Kurt Gödel (1906-1978),
os sistemas formais, mesmo no
nível mais básico da aritmética,
são sempre incompletos. Não
podem ser comprovados ou refutados com base em axiomas
exteriores à própria teoria.
O personagem de Arthur Seldom argumenta que a criminalística atua por vias semelhantes. Seus axiomas seriam os indícios materiais, que resistem à
dúvida racional. Sua lógica
também elege as soluções mais
simples -o que pode ser um
erro. "O que é a investigação
criminal senão nosso jogo habitual de imaginar conjeturas,
explicações possíveis que se encaixem aos fatos, e tentar demonstrá-las?", indaga Seldom.
O matemático francês Pierre
de Fermat (1601-1665) criou, ao
mesmo tempo que Pascal, a
teoria da probabilidade e foi
precursor do cálculo diferencial. Ao estudar a "Aritmética",
de Diofante, encheu a margem
do livro de conjeturas, dentre
as quais o chamado "último
teorema de Fermat". A demonstração do teorema desafiou os matemáticos durante
séculos, até que o britânico Andrew Wiles o provou, em 1994.
A história dessa comprovação
une-se à intriga de "Crimes Imperceptíveis", que insinua que
uma espécie de furto intelectual facilitou a tarefa.
(MP)
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