São Paulo, sábado, 10 de julho de 2004

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Ficção contém referências a lógicos ilustres

DO CRÍTICO DA FOLHA

"Crimes Imperceptíveis" traz referências a matemáticos e lógicos. Por exemplo, os trabalhos do lógico Ludwig Wittgenstein (1889-1951) são comparados a uma "caverna abandonada", na qual o indivíduo se sente "à beira do abismo".
Para ele, é impossível estabelecer uma regra unívoca para as séries. A seqüência 2, 4, 8 pode vir naturalmente acompanhada do número 16, mas sempre se pode continuar com 10 ou 2.007. Apesar disso, o livro defende a tese de que a psique humana prefere a solução 16, por ser "a mais simples, mais clara ou mais gratificante". Haveria uma espécie de princípio estético que governaria as nossas escolhas racionais.
Segundo o matemático norte-americano de origem austríaca Kurt Gödel (1906-1978), os sistemas formais, mesmo no nível mais básico da aritmética, são sempre incompletos. Não podem ser comprovados ou refutados com base em axiomas exteriores à própria teoria.
O personagem de Arthur Seldom argumenta que a criminalística atua por vias semelhantes. Seus axiomas seriam os indícios materiais, que resistem à dúvida racional. Sua lógica também elege as soluções mais simples -o que pode ser um erro. "O que é a investigação criminal senão nosso jogo habitual de imaginar conjeturas, explicações possíveis que se encaixem aos fatos, e tentar demonstrá-las?", indaga Seldom.
O matemático francês Pierre de Fermat (1601-1665) criou, ao mesmo tempo que Pascal, a teoria da probabilidade e foi precursor do cálculo diferencial. Ao estudar a "Aritmética", de Diofante, encheu a margem do livro de conjeturas, dentre as quais o chamado "último teorema de Fermat". A demonstração do teorema desafiou os matemáticos durante séculos, até que o britânico Andrew Wiles o provou, em 1994. A história dessa comprovação une-se à intriga de "Crimes Imperceptíveis", que insinua que uma espécie de furto intelectual facilitou a tarefa. (MP)


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