São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2007

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Homer Simpson é o preferido de animador da Pixar

Para Mark Walsh, que faz workshop no país, boa animação exige personagens com personalidade muito bem definida

Convidado pelo Anima Mundi, diretor de animação diz que animadores brasileiros "têm fome de aprendizado e de fazer"

DO ENVIADO AO RIO

Mark Walsh é um dos convidados mais disputados desta edição do Anima Mundi, já que tem atrás de si a marca Pixar, um dos melhores e mais bem-sucedidos estúdios de animação do mundo, responsável por sucessos como "Toy Story" (1995) e "Os Incríveis" (2004). Como diretor de animação do estúdio, ele veio dar um workshop sobre criação e desenvolvimento de personagens, sua especialidade.
Entre as aulas e seguido de perto por seus alunos, Walsh falou à Folha sobre seu trabalho. (MARCO AURÉLIO CANÔNICO)

 

FOLHA - O que você veio ensinar?
MARK WALSH
- Como criar personagens críveis em animação, para que as pessoas possam se identificar com eles, além de como animá-los de modo convincente e dar a eles personalidade.

FOLHA - Quais são os conselhos básicos para isso?
WALSH
- Primeiro, é preciso decidir quem é o personagem: o que gosta e desgosta, que tipo de personalidade tem, como se vê. Analisamos os Muppets e os Simpsons, por exemplo: cada um dos personagens tem seu lado psicológico muito bem pensado, então quando você os coloca em qualquer situação, sabe como eles irão reagir, porque são como pessoas reais.

FOLHA - Tem recebido muitos pedidos de emprego por aqui?
WALSH
- Sim, as pessoas têm interesse na Pixar e em qual é o segredo da empresa.

FOLHA - E qual é o segredo?
WALSH
- É pensar bem na criação dos personagens e em como animá-los. É preciso estudar a física dos movimentos, recriar a realidade de modo crível. Isso envolve muito trabalho, não há fórmula mágica.

FOLHA - E qual é o caminho para trabalhar na Pixar?
WALSH
- Quando comecei, a empresa era pequena, e eu encorajo as pessoas a começarem por estúdios menores, porque há uma oferta maior de coisas para fazer e para aprender. E boa parte dos estúdios menores acaba crescendo, como aconteceu com a Pixar.

FOLHA - Como financiar produções quando se é pequeno?
WALSH
- Trabalhando com publicidade para fazer caixa ou juntando-se a estúdios maiores, que financiem sua produção. Quando você consegue mostrar a uma empresa grande que tem talento para fazer um longa, pode conseguir um acordo, há oportunidades no mercado. Mas é preciso ter uma idéia pronta, um projeto completo. E acho que isso é o que vai acontecer aqui no Brasil, porque os animadores têm fome de aprendizado e de fazer. Essas pessoas vão abrir pequenas empresas, juntar-se a outras, e o Brasil pode ter um bom futuro na animação.

FOLHA - Quando cria um personagem, você já leva em conta como ele pode ser comercializado em brinquedos, jogos etc.? Isso influencia a criação?
WALSH
- Não, pelo menos não nos estúdios em que trabalhei. Você faz a criação e um grupo de marketing pensa em como ela pode ser comercializada. Nunca trabalhei em um filme em que tenham dito "precisamos vender brinquedos, criem um e animem-o". Mas existem animações feitas especificamente para vender brinquedos. Na década de 80, algumas empresas descobriram que mais barato e eficiente do que investir em publicidade era criar desenhos com os brinquedos, dando-lhes histórias. Isso aconteceu com Transformers, He-Man, Moranguinho. O que não quer dizer que eram desenhos ruins, eu via e adorava.

FOLHA - Mas nas grandes animações de hoje em dia vê-se muitos animais e personagens simpáticos, fáceis de comercializar. Ninguém cria personagens mais radicais, que seriam difíceis de emplacar.
WALSH
- É verdade. O que acontece é que, quando criamos, levamos em conta que as pessoas vão ficar olhando para os personagens por duas horas, e não vão querer fazer isso se forem feios. Então tentamos achar formas atraentes, não pensando em um brinquedo, mas em algo que seja bom de assistir, o que, muitas vezes, gera um bom brinquedo.

FOLHA - Qual é sua melhor criação?
WALSH
- Tenho orgulho do Remy, de "Ratatouille" (2007), o acho atraente, o que é ainda mais espantoso por ser um rato. E gosto da Dory, de "Procurando Nemo" (2003), que não se lembra de nada e por isso é divertida e triste ao mesmo tempo, não é unidimensional.

FOLHA - E o melhor personagem de animação já criado?
WALSH
- Acho Homer Simpson brilhante. Ele é consistente em todos os episódios, qualquer situação de que ele participe você sabe como ele vai reagir.

FOLHA - O que é preciso para ser um bom animador?
WALSH
- É preciso ser um bom observador de pessoas e traduzir isso a partir de um ponto de vista artístico. O animador observa diferentes tipos físicos, de personalidade e de comportamento. Artistas vêem o mundo e o reinterpretam por meio da arte.


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