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Homer Simpson é o preferido de animador da Pixar
Para Mark Walsh, que faz workshop no país, boa animação exige personagens com personalidade muito bem definida
Convidado pelo Anima Mundi, diretor de animação diz que animadores brasileiros "têm fome de aprendizado e de fazer"
DO ENVIADO AO RIO
Mark Walsh é um dos convidados mais disputados desta
edição do Anima Mundi, já que
tem atrás de si a marca Pixar,
um dos melhores e mais bem-sucedidos estúdios de animação do mundo, responsável por
sucessos como "Toy Story"
(1995) e "Os Incríveis" (2004).
Como diretor de animação
do estúdio, ele veio dar um
workshop sobre criação e desenvolvimento de personagens, sua especialidade.
Entre as aulas e seguido de
perto por seus alunos, Walsh
falou à Folha sobre seu trabalho.
(MARCO AURÉLIO CANÔNICO)
FOLHA - O que você veio ensinar?
MARK WALSH - Como criar personagens críveis em animação,
para que as pessoas possam se
identificar com eles, além de
como animá-los de modo convincente e dar a eles personalidade.
FOLHA - Quais são os conselhos básicos para isso?
WALSH - Primeiro, é preciso
decidir quem é o personagem: o
que gosta e desgosta, que tipo
de personalidade tem, como se
vê. Analisamos os Muppets e os
Simpsons, por exemplo: cada
um dos personagens tem seu
lado psicológico muito bem
pensado, então quando você os
coloca em qualquer situação,
sabe como eles irão reagir, porque são como pessoas reais.
FOLHA - Tem recebido muitos pedidos de emprego por aqui?
WALSH - Sim, as pessoas têm
interesse na Pixar e em qual é o
segredo da empresa.
FOLHA - E qual é o segredo?
WALSH - É pensar bem na criação dos personagens e em como animá-los. É preciso estudar a física dos movimentos, recriar a realidade de modo crível. Isso envolve muito trabalho, não há fórmula mágica.
FOLHA - E qual é o caminho para
trabalhar na Pixar?
WALSH - Quando comecei, a
empresa era pequena, e eu encorajo as pessoas a começarem
por estúdios menores, porque
há uma oferta maior de coisas
para fazer e para aprender. E
boa parte dos estúdios menores
acaba crescendo, como aconteceu com a Pixar.
FOLHA - Como financiar produções
quando se é pequeno?
WALSH - Trabalhando com publicidade para fazer caixa ou
juntando-se a estúdios maiores, que financiem sua produção. Quando você consegue
mostrar a uma empresa grande
que tem talento para fazer um
longa, pode conseguir um acordo, há oportunidades no mercado. Mas é preciso ter uma
idéia pronta, um projeto completo. E acho que isso é o que
vai acontecer aqui no Brasil,
porque os animadores têm fome de aprendizado e de fazer.
Essas pessoas vão abrir pequenas empresas, juntar-se a outras, e o Brasil pode ter um bom
futuro na animação.
FOLHA - Quando cria um personagem, você já leva em conta como ele
pode ser comercializado em brinquedos, jogos etc.? Isso influencia a
criação?
WALSH - Não, pelo menos não
nos estúdios em que trabalhei.
Você faz a criação e um grupo
de marketing pensa em como
ela pode ser comercializada.
Nunca trabalhei em um filme
em que tenham dito "precisamos vender brinquedos, criem
um e animem-o". Mas existem
animações feitas especificamente para vender brinquedos.
Na década de 80, algumas empresas descobriram que mais
barato e eficiente do que investir em publicidade era criar desenhos com os brinquedos,
dando-lhes histórias. Isso
aconteceu com Transformers,
He-Man, Moranguinho. O que
não quer dizer que eram desenhos ruins, eu via e adorava.
FOLHA - Mas nas grandes animações de hoje em dia vê-se muitos
animais e personagens simpáticos,
fáceis de comercializar. Ninguém
cria personagens mais radicais, que
seriam difíceis de emplacar.
WALSH - É verdade. O que
acontece é que, quando criamos, levamos em conta que as
pessoas vão ficar olhando para
os personagens por duas horas,
e não vão querer fazer isso se
forem feios. Então tentamos
achar formas atraentes, não
pensando em um brinquedo,
mas em algo que seja bom de
assistir, o que, muitas vezes, gera um bom brinquedo.
FOLHA - Qual é sua melhor criação?
WALSH - Tenho orgulho do
Remy, de "Ratatouille" (2007),
o acho atraente, o que é ainda
mais espantoso por ser um rato. E gosto da Dory, de "Procurando Nemo" (2003), que não
se lembra de nada e por isso é
divertida e triste ao mesmo
tempo, não é unidimensional.
FOLHA - E o melhor personagem de
animação já criado?
WALSH - Acho Homer Simpson
brilhante. Ele é consistente em
todos os episódios, qualquer situação de que ele participe você
sabe como ele vai reagir.
FOLHA - O que é preciso para ser
um bom animador?
WALSH - É preciso ser um bom
observador de pessoas e traduzir isso a partir de um ponto de
vista artístico. O animador observa diferentes tipos físicos,
de personalidade e de comportamento. Artistas vêem o mundo e o reinterpretam por meio
da arte.
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