São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cinema/Estréia

Harry Potter ensaia "trama política"

Aspecto político do quinto filme da série, que estréia nesta madrugada, levou à opção pelo documentarista David Yates

Bruxo perde apoio "oficial", cria força "paralela" e tem que enfrentar inimiga de traço fascista; cenário imita região ministerial londrina

IVAN FINOTTI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O filme "Harry Potter e a Ordem da Fênix", que tem pré-estréia nesta madrugada (com sessões à 0h01), em São Paulo, e estará em cartaz em horários regulares a partir de amanhã, foi baseado no primeiro livro escrito por J.K. Rowling após o 11 de Setembro. Talvez por isso, o livro, lançado em 2003, acrescente um toque político ao universo mágico do jovem bruxo com cicatriz de raio na testa.
Política com "p" minúsculo, como atesta o produtor todo-poderoso da série, David Heyman. Mas nem por isso se trata de um filme atemporal.
Nesta quinta parte, Harry sabe que Voldemort está de volta, mas o ministro da Mágica, Cornelius Fudge, se recusa a acreditar no garoto, o que acarretará sua queda no final do filme.
Sem contar com a ajuda oficial, Potter cria um exército particular para combater o lorde das trevas. Em paralelo, Harry e amigos se rebelam contra a autoridade escolar, representada pela nova professora de Defesa contra as Artes das Trevas, Dolores Umbridge.

Inspiração fascista
Trata-se de uma professora com clara inspiração fascista, baixando uma norma castradora atrás da outra e transformando Hogwarts naquele velho clipe do Pink Floyd, no qual estudantes sem rosto passam por um moedor de carne.
Quarto diretor da série -Chris Columbus esteve à frente dos dois primeiros-, David Yates, 44, foi trazido da TV inglesa para o longa. Seu contrato prevê ainda a direção do sexto filme de Potter.
Sua obra televisiva, premiada na Inglaterra, não chega a incluir documentários espinhosos sobre política, mas tem dramas de ficção sobre tráfico de mulheres ("Sex Traffic", 2004) e um thriller sobre a vida de um político que vira de cabeça para baixo após a morte de um assessor ("State of Play", 2003).
Heyman enumera as razões pelas quais convocou Yates: "Primeiro, porque ele é um grande diretor. Segundo, pelo jeito com que trabalha com atores. Alguns atores tiveram seus melhores desempenhos quando Yates os dirigiu. Em terceiro, queríamos o filme mais moderno, e acho que ele conseguiu isso. E, finalmente, esse é um filme político, com uma trama política por trás, não política com "p" maiúsculo, mas política com um pequeno "p". E ele havia feito isso com muito acerto em seus filmes anteriores".
Formado em ciências políticas na Universidade de Essex, Yates tratou a política de "A Ordem da Fênix" como elemento natural de seu universo e se preocupou mais com aspectos como direção de atores ou o fato de dirigir parte de uma série.
"Para mim, [o ator] Daniel [Radcliffe, intérprete de Potter] não fazia o mesmo personagem que nos filmes anteriores. E ele também não era mais a mesma pessoa na vida real. Então havia muito a discutir, muito a conversar. Ele e os outros foram extremamente colaboradores. Eles queriam ser forçados à frente, e eu queria forçá-los", afirma o diretor.
Sobre o fato de dirigir uma espécie de primeira parte da trilogia final, Yates conta que teve certos problemas: "Normalmente me concentro em contar a história do filme e ignoro o resto. Mas, desta vez, não foi bem assim. J.K. Rowling leu a primeira versão do roteiro e nos avisou: "David, você não deveria fazer isso. Vocês vão precisar fazer muita ginástica para rodar o sétimo filme sem esse personagem...". Então decidimos colocar de volta esse tal personagem que seria importante nos outros filmes".

Truques e mágica
Outra curiosidade é que o Ministério da Mágica foi inspirado em Whitehall (nome da avenida no centro de Londres onde ficam os ministérios). "É onde fica o governo dos trouxas [muggles, em inglês, nome que Rowling usa para as pessoas normais, que não fazem mágica]. Com a diferença de que lá eles não fazem mágicas, mas aplicam truques", diz David Barron, o outro produtor.
O Ministério da Mágica traz, inclusive, um pôster do ministro Fudge inspirado nas propagandas soviéticas stalinistas.
Estreado o filme, o ano Harry Potter vai render ainda muito mais. No dia 21 sai na Inglaterra "Harry Potter e as Relíquias da Morte", sétimo e último livro da série (o lançamento no Brasil está marcado para 10/11, à meia-noite). J.K. Rowling, aliás, poderia tê-lo lançado no último dia 7 (7/7/07), mas adiou por duas semanas, devido ao aniversário dos atentados a bomba de 7/7/2005, que matou 52 e feriu cerca de 700 em Londres. É a política real no mundo de Potter.


O jornalista IVAN FINOTTI viajou a convite da Warner Bros.


Texto Anterior: Homer Simpson é o preferido de animador da Pixar
Próximo Texto: Fãs do bruxo protestam por mais livros
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.