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Cinema/Estréia
Harry Potter ensaia "trama política"
Aspecto político do quinto filme da série, que estréia nesta madrugada, levou à opção pelo documentarista David Yates
Bruxo perde apoio "oficial", cria força "paralela" e tem que enfrentar inimiga de traço fascista; cenário imita região ministerial londrina
IVAN FINOTTI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
O filme "Harry Potter e a Ordem da Fênix", que tem pré-estréia nesta madrugada (com
sessões à 0h01), em São Paulo, e
estará em cartaz em horários
regulares a partir de amanhã,
foi baseado no primeiro livro
escrito por J.K. Rowling após o
11 de Setembro. Talvez por isso,
o livro, lançado em 2003, acrescente um toque político ao universo mágico do jovem bruxo
com cicatriz de raio na testa.
Política com "p" minúsculo,
como atesta o produtor todo-poderoso da série, David
Heyman. Mas nem por isso se
trata de um filme atemporal.
Nesta quinta parte, Harry sabe que Voldemort está de volta,
mas o ministro da Mágica, Cornelius Fudge, se recusa a acreditar no garoto, o que acarretará sua queda no final do filme.
Sem contar com a ajuda oficial, Potter cria um exército
particular para combater o lorde das trevas. Em paralelo,
Harry e amigos se rebelam contra a autoridade escolar, representada pela nova professora
de Defesa contra as Artes das
Trevas, Dolores Umbridge.
Inspiração fascista
Trata-se de uma professora
com clara inspiração fascista,
baixando uma norma castradora atrás da outra e transformando Hogwarts naquele velho clipe do Pink Floyd, no qual
estudantes sem rosto passam
por um moedor de carne.
Quarto diretor da série
-Chris Columbus esteve à
frente dos dois primeiros-,
David Yates, 44, foi trazido da
TV inglesa para o longa. Seu
contrato prevê ainda a direção
do sexto filme de Potter.
Sua obra televisiva, premiada
na Inglaterra, não chega a incluir documentários espinhosos sobre política, mas tem dramas de ficção sobre tráfico de
mulheres ("Sex Traffic", 2004)
e um thriller sobre a vida de um
político que vira de cabeça para
baixo após a morte de um assessor ("State of Play", 2003).
Heyman enumera as razões
pelas quais convocou Yates:
"Primeiro, porque ele é um
grande diretor. Segundo, pelo
jeito com que trabalha com atores. Alguns atores tiveram seus
melhores desempenhos quando Yates os dirigiu. Em terceiro, queríamos o filme mais moderno, e acho que ele conseguiu
isso. E, finalmente, esse é um
filme político, com uma trama
política por trás, não política
com "p" maiúsculo, mas política
com um pequeno "p". E ele havia feito isso com muito acerto
em seus filmes anteriores".
Formado em ciências políticas na Universidade de Essex,
Yates tratou a política de "A Ordem da Fênix" como elemento
natural de seu universo e se
preocupou mais com aspectos
como direção de atores ou o fato de dirigir parte de uma série.
"Para mim, [o ator] Daniel
[Radcliffe, intérprete de
Potter] não fazia o mesmo personagem que nos filmes anteriores. E ele também não era
mais a mesma pessoa na vida
real. Então havia muito a discutir, muito a conversar. Ele e os
outros foram extremamente
colaboradores. Eles queriam
ser forçados à frente, e eu queria forçá-los", afirma o diretor.
Sobre o fato de dirigir uma
espécie de primeira parte da
trilogia final, Yates conta que
teve certos problemas: "Normalmente me concentro em
contar a história do filme e ignoro o resto. Mas, desta vez,
não foi bem assim. J.K. Rowling
leu a primeira versão do roteiro
e nos avisou: "David, você não
deveria fazer isso. Vocês vão
precisar fazer muita ginástica
para rodar o sétimo filme sem
esse personagem...". Então decidimos colocar de volta esse
tal personagem que seria importante nos outros filmes".
Truques e mágica
Outra curiosidade é que o
Ministério da Mágica foi inspirado em Whitehall (nome da
avenida no centro de Londres
onde ficam os ministérios). "É
onde fica o governo dos trouxas
[muggles, em inglês, nome que
Rowling usa para as pessoas
normais, que não fazem mágica]. Com a diferença de que lá
eles não fazem mágicas, mas
aplicam truques", diz David
Barron, o outro produtor.
O Ministério da Mágica traz,
inclusive, um pôster do ministro Fudge inspirado nas propagandas soviéticas stalinistas.
Estreado o filme, o ano Harry
Potter vai render ainda muito
mais. No dia 21 sai na Inglaterra
"Harry Potter e as Relíquias da
Morte", sétimo e último livro
da série (o lançamento no Brasil está marcado para 10/11, à
meia-noite). J.K. Rowling,
aliás, poderia tê-lo lançado no
último dia 7 (7/7/07), mas
adiou por duas semanas, devido ao aniversário dos atentados
a bomba de 7/7/2005, que matou 52 e feriu cerca de 700 em
Londres. É a política real no
mundo de Potter.
O jornalista IVAN FINOTTI viajou a convite da
Warner Bros.
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