Crise na maison Lacroix e desfiles mais discretos mudam a cara do circuito da "alta-moda" parisiense

A Semana da Alta-costura, quem diria, entrou numa fase "low profile". Entre reflexos da crise econômica mundial e maisons endividadas, o circuito de moda mais seleto e luxuoso do mundo apresentou sua temporada Inverno/2010 com desfiles enxutos e coleções sem os delírios criativos de outrora.
As apresentações, que começaram na segunda e terminaram anteontem em Paris, rolaram entre boatos e tensão. A maison Christian Lacroix, que busca um comprador para cobrir sua dívida milionária, desfilou em clima de despedida.
As modelos não cobraram cachê, amigos bancaram o desfile, e Lacroix admitiu que pode ter realizado sua última apresentação no circuito da alta-costura.
Seguindo a onda de corte de gastos, a Dior dispensou locações luxuosas e recebeu seus convidados num dos salões da própria maison, como nos anos 60, época áurea do "haute couture" em termos de criação. Com os 90, vieram os delírios de ostentação e os megashows.
A coleção criada por John Galliano para a grife também brecou os excessos: clássicos revisitados, transparências, rendas e lingeries à mostra. Os rendados ainda deram o tom do desfile da maison Valentino.
A Chanel também apostou na tradição: os tailleurs da grife surgiram fortes entre vestidos e looks em branco e preto.
O brasileiro Gustavo Lins reforçou o tom sóbrio, e a Giorgio Armani Privé chegou a colocar uma calça preta com uma simples camisa branca na passarela; sinal dos novos tempos.
Durante o evento, Didier Grumbach, presidente da Federação Francesa da Costura, disse que a alta-costura deve abandonar a era dos espetáculos e "voltar aos seus fundamentos". Para ampliar a clientela, a ideia seria fazer uma espécie de prêt-à-porter "turbinado": looks exclusivos, os mais preciosos tecidos, o melhor corte e acabamento primoroso.

com VIVIAN WHITEMAN


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