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EVENTO
Debate de "Kapò" tem polêmica
da Reportagem Local
Uma polêmica
sobre filmes que
retratam o Holocausto marcou o
debate que sucedeu a exibição de
"Kapò" (1959), do diretor italiano Gillo Pontecorvo, no último dia 30, no teatro Arthur
Rubinstein, em São Paulo.
A exibição foi uma promoção
da Folha, da Associação Brasileira "A Hebraica", do Instituto
Italiano de Cultura e da Universidade de São Paulo (USP).
Participaram do debate Andrea Lombardi, professor de literatura italiana da USP, Márcio Seligmann-Silva, professor
de teoria literária do curso de
pós-graduação da PUC-SP
(Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), e Nelson Ascher, poeta, ensaísta e articulista da Folha. A discussão também teve a participação de Melita Palestini, diretora do Instituto Italiano de Cultura.
"Kapò" narra a história
-fictícia- de uma adolescente judia francesa de 15 anos,
Edith (Susan Strasberg), que,
para não morrer nos campos
de concentração, assume, com
a ajuda de um médico, a identidade de uma criminosa, Nicole, que acabara de morrer.
Levada para um campo de
concentração na Polônia,
Edith/Nicole acaba se prostituindo e, depois, tornando-se
"kapo" (pronuncia-se "capô",
cabeça em italiano). Nos campos, kapos eram prisioneiros
escolhidos pela SS para o papel
de guarda, com poder para matar outros presos.
Mais tarde, chegam prisioneiros russos, e Edith/Nicole se
apaixona por um deles, Sacha
(Laurent Terzieff). No final, os
russos articulam uma fuga e
Edith/Nicole colabora.
No debate, Nelson Ascher
apontou alguns defeitos do filme, como a redenção de Edith
(representada por sua colaboração no plano de fuga).
"Imagino quem poderia condená-la. No filme, está implícito o julgamento. Não cabe julgar as vítimas", disse Ascher.
Ascher também comentou o
enfoque, que considera demasiadamente limitado, dos filmes sobre o Holocausto: a repetição das histórias dramáticas, sem tentar entender a visão
dos carrascos. "É meio masoquista ficar olhando o que
aconteceu com as vítimas. O
verdadeiro tema são os carrascos, e a questão é tentar entrar
na cabeça deles", conclui.
A opinião gerou reação de algumas pessoas. "Achei o filme
extraordinário, reflete os campos de concentração", disse
Ben Abraham, 74, que foi prisioneiro dos nazistas.
"A inexistência de fronteiras
claras de moral é o ponto forte
do filme", disse o professor
Lombardi, referindo-se à troca
de identidade (e de lado) de
Edith/Nicole. Márcio Seligmann-Silva comentou sobre o
ângulo "triunfante, heróico"
do filme.
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