São Paulo, Sábado, 10 de Julho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EVENTO
Debate de "Kapò" tem polêmica

da Reportagem Local


Uma polêmica sobre filmes que retratam o Holocausto marcou o debate que sucedeu a exibição de "Kapò" (1959), do diretor italiano Gillo Pontecorvo, no último dia 30, no teatro Arthur Rubinstein, em São Paulo.
A exibição foi uma promoção da Folha, da Associação Brasileira "A Hebraica", do Instituto Italiano de Cultura e da Universidade de São Paulo (USP).
Participaram do debate Andrea Lombardi, professor de literatura italiana da USP, Márcio Seligmann-Silva, professor de teoria literária do curso de pós-graduação da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), e Nelson Ascher, poeta, ensaísta e articulista da Folha. A discussão também teve a participação de Melita Palestini, diretora do Instituto Italiano de Cultura.
"Kapò" narra a história -fictícia- de uma adolescente judia francesa de 15 anos, Edith (Susan Strasberg), que, para não morrer nos campos de concentração, assume, com a ajuda de um médico, a identidade de uma criminosa, Nicole, que acabara de morrer.
Levada para um campo de concentração na Polônia, Edith/Nicole acaba se prostituindo e, depois, tornando-se "kapo" (pronuncia-se "capô", cabeça em italiano). Nos campos, kapos eram prisioneiros escolhidos pela SS para o papel de guarda, com poder para matar outros presos.
Mais tarde, chegam prisioneiros russos, e Edith/Nicole se apaixona por um deles, Sacha (Laurent Terzieff). No final, os russos articulam uma fuga e Edith/Nicole colabora.
No debate, Nelson Ascher apontou alguns defeitos do filme, como a redenção de Edith (representada por sua colaboração no plano de fuga).
"Imagino quem poderia condená-la. No filme, está implícito o julgamento. Não cabe julgar as vítimas", disse Ascher.
Ascher também comentou o enfoque, que considera demasiadamente limitado, dos filmes sobre o Holocausto: a repetição das histórias dramáticas, sem tentar entender a visão dos carrascos. "É meio masoquista ficar olhando o que aconteceu com as vítimas. O verdadeiro tema são os carrascos, e a questão é tentar entrar na cabeça deles", conclui.
A opinião gerou reação de algumas pessoas. "Achei o filme extraordinário, reflete os campos de concentração", disse Ben Abraham, 74, que foi prisioneiro dos nazistas.
"A inexistência de fronteiras claras de moral é o ponto forte do filme", disse o professor Lombardi, referindo-se à troca de identidade (e de lado) de Edith/Nicole. Márcio Seligmann-Silva comentou sobre o ângulo "triunfante, heróico" do filme.


Texto Anterior: Fotografia: Casamento entre gays está em livro
Próximo Texto: Festival: MPB tem noite "esgotada" em Montreux
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.