São Paulo, sexta-feira, 10 de agosto de 2001

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CINEMA/ESTRÉIA

Diretora volta à fazenda cuja ocupação documentou em 87 para contar como vivem os trabalhadores

"O Sonho de Rose" colhe ideal de futuro de assentados rurais

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Se eu pudesse trincar a terra toda e sentir-lhe um paladar, seria mais feliz um momento. Mas eu nem sempre quero ser feliz."
Não foi uma ambição metafísica como a do poeta Pessoa que moveu a cineasta Tetê Moraes, 58, a esquadrinhar o território rural do Rio Grande do Sul. Ao contrário. A terra como meio de subsistência (mais precisamente a luta por fazer dela esse uso) é o tema de "O Sonho de Rose - Dez Anos Depois", que estréia em São Paulo.
O documentário foi rodado em 97, uma década após a ocupação da fazenda Annoni, que Moraes registrou em "Terra para Rose". Rose é a integrante do MST Rosely Seleste Nunes da Silva, que morreu atropelada por caminhão numa marcha de protesto, em 87.
Se o primeiro filme mostrou o "momento de luta, num tom meio épico", na definição da cineasta, o segundo pretendeu ser "a imagem de uma realização, que, por isso mesmo, tem ritmo mais suave, calmo, cotidiano".
Moraes e sua equipe registraram como vivem hoje, em cooperativas ou porções individuais de terra, algumas das 1.500 famílias que ocuparam a Annoni.
"Fazer um filme sobre algo que está dando certo pode ser aborrecido", diz a cineasta. Para evitá-lo, Moraes e a roteirista Tetê Vasconcellos -irmã da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT)- estabeleceram alguns fios condutores.
Além do mote do "sonho", são constantes as questões da "organização do trabalho, da dicotomia entre a iniciativa individual e a coletiva e das transformações".
Entre as últimas, uma chamou mais a atenção de Moraes: "Quando estavam acampados, só podiam ter preocupação com a sobrevivência imediata. Agora, há a perspectiva do futuro, e daí a preocupação com os filhos".
Em "O Sonho de Rose", Moraes entrevista os pais a respeito de seus planos para educar as crianças, e estas, sobre seus "sonhos". O destaque é Marco, filho de Rose e primeira criança nascida na Annoni depois da ocupação.
Com pretensões de ser cantor sertanejo, ele encerra o filme entoando uma canção de Zezé di Camargo. As demais músicas são de Chico Buarque e Luiz Cláudio Ramos. A melancolia dada por Chico faz eco a Pessoa: "É preciso ser de vez em quando infeliz, para poder ser natural".


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