|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA/ESTRÉIA
Diretora volta à fazenda cuja ocupação documentou em 87 para contar como vivem os trabalhadores
"O Sonho de Rose" colhe ideal de futuro de assentados rurais
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Se eu pudesse trincar a terra toda e sentir-lhe um paladar, seria
mais feliz um momento. Mas eu
nem sempre quero ser feliz."
Não foi uma ambição metafísica
como a do poeta Pessoa que moveu a cineasta Tetê Moraes, 58, a
esquadrinhar o território rural do
Rio Grande do Sul. Ao contrário.
A terra como meio de subsistência (mais precisamente a luta por
fazer dela esse uso) é o tema de "O
Sonho de Rose - Dez Anos Depois", que estréia em São Paulo.
O documentário foi rodado em
97, uma década após a ocupação
da fazenda Annoni, que Moraes
registrou em "Terra para Rose".
Rose é a integrante do MST Rosely Seleste Nunes da Silva, que
morreu atropelada por caminhão
numa marcha de protesto, em 87.
Se o primeiro filme mostrou o
"momento de luta, num tom
meio épico", na definição da cineasta, o segundo pretendeu ser
"a imagem de uma realização,
que, por isso mesmo, tem ritmo
mais suave, calmo, cotidiano".
Moraes e sua equipe registraram como vivem hoje, em cooperativas ou porções individuais de
terra, algumas das 1.500 famílias
que ocuparam a Annoni.
"Fazer um filme sobre algo que
está dando certo pode ser aborrecido", diz a cineasta. Para evitá-lo,
Moraes e a roteirista Tetê Vasconcellos -irmã da prefeita de São
Paulo, Marta Suplicy (PT)- estabeleceram alguns fios condutores.
Além do mote do "sonho", são
constantes as questões da "organização do trabalho, da dicotomia
entre a iniciativa individual e a coletiva e das transformações".
Entre as últimas, uma chamou
mais a atenção de Moraes:
"Quando estavam acampados, só
podiam ter preocupação com a
sobrevivência imediata. Agora, há
a perspectiva do futuro, e daí a
preocupação com os filhos".
Em "O Sonho de Rose", Moraes
entrevista os pais a respeito de
seus planos para educar as crianças, e estas, sobre seus "sonhos".
O destaque é Marco, filho de Rose
e primeira criança nascida na Annoni depois da ocupação.
Com pretensões de ser cantor
sertanejo, ele encerra o filme entoando uma canção de Zezé di
Camargo. As demais músicas são
de Chico Buarque e Luiz Cláudio
Ramos. A melancolia dada por
Chico faz eco a Pessoa: "É preciso
ser de vez em quando infeliz, para
poder ser natural".
Texto Anterior: Erika Palomino Próximo Texto: Crítica: Filme mostra reforma agrária dos sonhos Índice
|