São Paulo, sexta-feira, 10 de agosto de 2001

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CINEMA/ESTRÉIA

"PAIXÃO PROIBIDA"

Primeiro longa da diretora acerta o tom ao adaptar romance do escritor russo em belo trabalho de equipe

Martha Fiennes leva clássico de Púchkin à tela

TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA

Levar às telas um clássico da literatura russa, qualquer que seja, não costuma ser tarefa de iniciantes -até mesmo mestres como Visconti, Bresson e Sternberg só se aventuraram no universo dostoievskiano, por exemplo, tardiamente (nem sempre com sucesso). Amparada pelos irmãos Ralph (que produziu e protagonizou o filme) e Magnus (autor da trilha sonora), a diretora Martha Fiennes não se fez de rogada e foi, em seu filme de estréia, direto à fonte: o romance em versos semi-autobiográfico de Aleksandr Púchkin, o grão-mestre da literatura russa moderna, "Ievguêni Oniéguin".
Tanto Gogol quanto Dostoiévski atribuíam a Púchkin o enunciado primeiro da nova Rússia: assimilar todas as idéias das outras nações e refratá-las numa luz própria. Nesta adaptação de "Ievguêni Oniéguin", "Paixão Proibida", tal refração se dá em relação ao romantismo europeu.
Onegin (Ralph Fiennes) é um jovem aristocrata dândi de São Petersburgo que, entediado com a rotina de bailes e conquistas na noite, resolve (provavelmente influenciado pelas idéias de Rousseau) dar um tempo no campo, na propriedade que acaba de herdar do tio.
Na província, Onegin faz seus estragos: aos mais velhos, desafia com idéias progressistas antiescravocratas e, aos mais jovens, ensina que o romantismo não é para iniciantes. Numa só noite, demonstrando, por puro diletantismo, ao novo amigo, um ingênuo poeta provinciano, e à nova conquista, Tatiana (Liv Tyler), o quão ilusório é o amor, Onegin põe tudo a perder. A lição será por demais amarga... para todos.
Com o poeta, Onegin acabará protagonizando essa que é uma das cenas mais clássicas de Púchkin: o duelo -antes de morrer num deles, Púchkin recusou-se, em outra ocasião, a atirar em seu oponente, depois de este ter errado o seu alvo.
Martha Fiennes acerta o tom das cenas mais importantes (com exceção da última talvez, a do derradeiro encontro entre Onegin e Tatiana), mas o filme é, antes de tudo, um belo trabalho de equipe, uma produção cujo bom gosto é especialmente corroborado pela fotografia de Remi Adefaresin, que, em sua penumbra, mantém a atmosfera do filme nessa zona intermediária entre Eros e Tanatos (o amor e a morte) que tanto fascinava os românticos.


Paixão Proibida
Onegin
   
Direção: Martha Fiennes
Produção: Inglaterra, 1999
Com: Liv Tyler, Ralph Fiennes, Toby Stephens
Quando: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Central Plaza, Pátio Higienópolis e SP Market




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