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CINEMA/ESTRÉIA
"PAIXÃO PROIBIDA"
Primeiro longa da diretora acerta o tom ao adaptar romance do escritor russo em belo trabalho de equipe
Martha Fiennes leva clássico de Púchkin à tela
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Levar às telas um clássico da
literatura russa, qualquer que
seja, não costuma ser tarefa de
iniciantes -até mesmo mestres
como Visconti, Bresson e Sternberg só se aventuraram no universo dostoievskiano, por exemplo, tardiamente (nem sempre
com sucesso). Amparada pelos
irmãos Ralph (que produziu e
protagonizou o filme) e Magnus
(autor da trilha sonora), a diretora Martha Fiennes não se fez de
rogada e foi, em seu filme de estréia, direto à fonte: o romance
em versos semi-autobiográfico de
Aleksandr Púchkin, o grão-mestre da literatura russa moderna,
"Ievguêni Oniéguin".
Tanto Gogol quanto Dostoiévski atribuíam a Púchkin o enunciado primeiro da nova Rússia:
assimilar todas as idéias das outras nações e refratá-las numa luz
própria. Nesta adaptação de "Ievguêni Oniéguin", "Paixão Proibida", tal refração se dá em relação
ao romantismo europeu.
Onegin (Ralph Fiennes) é um
jovem aristocrata dândi de São
Petersburgo que, entediado com a
rotina de bailes e conquistas na
noite, resolve (provavelmente influenciado pelas idéias de Rousseau) dar um tempo no campo,
na propriedade que acaba de herdar do tio.
Na província, Onegin faz seus
estragos: aos mais velhos, desafia
com idéias progressistas antiescravocratas e, aos mais jovens, ensina que o romantismo não é para
iniciantes. Numa só noite, demonstrando, por puro diletantismo, ao novo amigo, um ingênuo
poeta provinciano, e à nova conquista, Tatiana (Liv Tyler), o quão
ilusório é o amor, Onegin põe tudo a perder. A lição será por demais amarga... para todos.
Com o poeta, Onegin acabará
protagonizando essa que é uma
das cenas mais clássicas de Púchkin: o duelo -antes de morrer
num deles, Púchkin recusou-se,
em outra ocasião, a atirar em seu
oponente, depois de este ter errado o seu alvo.
Martha Fiennes acerta o tom
das cenas mais importantes (com
exceção da última talvez, a do derradeiro encontro entre Onegin e
Tatiana), mas o filme é, antes de
tudo, um belo trabalho de equipe,
uma produção cujo bom gosto é
especialmente corroborado pela
fotografia de Remi Adefaresin,
que, em sua penumbra, mantém a
atmosfera do filme nessa zona intermediária entre Eros e Tanatos
(o amor e a morte) que tanto fascinava os românticos.
Paixão Proibida
Onegin
Direção: Martha Fiennes
Produção: Inglaterra, 1999
Com: Liv Tyler, Ralph Fiennes, Toby
Stephens
Quando: a partir de hoje nos cines Belas
Artes, Central Plaza, Pátio Higienópolis e
SP Market
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