São Paulo, sábado, 10 de agosto de 2002

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CRÍTICA

Gina Kolata conta boa história de mocinhos e bandidos

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Todo ano , ela vem e volta sem deixar rastros, a não ser um incômodo mal-estar que dura algumas semanas. Mas nem sempre a convivência com a gripe foi pacífica. No começo do século 20, ela causou destruição e medo na população mundial. Apesar disso, a gripe de 1918 havia ido para o rodapé da história, até que Gina Kolata fizesse seu "Gripe: A História da Pandemia de 1918".
A história trágica é contada por Kolata com detalhes da vida das pessoas que morreram durante a epidemia e daqueles que lutaram bravamente contra ela. Uma mistura que leva o leitor a deslizar sem esforço pelas páginas do livro e pelas aventuras e desventuras dos cientistas na busca da identidade da gripe. Na época, suspeitava-se da existência de algo chamado vírus, que causava doenças, mas ele somente foi observado nos anos 30 com o primeiro microscópio eletrônico.
Ver o vírus não resolveu o problema, pois os cientistas não tinham remanescentes vivos. O vírus havia sumido repentinamente. Isso até que um deles, o sueco Johan Hultin, fez um raciocínio simples. A gripe se espalhou por todo o mundo, inclusive para locais remotos. Onde o vírus poderia ter sobrevivido por décadas?
No Alasca, pois os corpos estavam em solo congelado. Embora sua expedição tenha sido um sucesso, ele não conseguiu ressuscitar o vírus em 1951.
Quase meio século depois, o patologista americano Jeffery Taubenberger fez um raciocínio similar ao de Hultin. Era possível que pedaços do pulmão de pessoas mortas pela gripe tivessem sido guardados por algum médico da época. Para sua sorte, elas estavam em um depósito perto do local em que ele trabalhava.
A empreitada culminou em um artigo na revista "Science", em 1997. A descoberta contou com amostras de pulmão de Hultin, que foi novamente ao Alasca, e ajudaram Taubenberger a decifrar a charada de 1918. Mas há muito mais no livro de Kolata que deve ser lido com atenção por todos que gostam de uma boa história policial na vida real, embora nela o bandido (vírus) tenha matado os mocinhos (humanos).
(ALESSANDRO GRECO)


Gripe: A História da Pandemia de 1918     
Autora: Gina Kolata
Editora: Record
Quanto: R$ 40 (384 págs.)



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