INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Sylvio Back está para o Brasil como Michael Moore para os EUA. Seus documentários expõem teses pessoais, desenvolvidas quase sempre como ensaios. Pode-se partilhar ou não das idéias, mas não da obstinação com que o cineasta as desenvolve.
"Guerra do Brasil" (Canal Brasil, 21h) traz o polemismo inscrito já no título. Trata-se de destrinchar o que conhecemos, aqui, como Guerra do Paraguai. Mas e do lado de lá? Nos contentamos em geral com a versão aprendida na escola, segundo a qual nós éramos os legais, Solano Lopez, um tirano etc. e tal.
É saudável deter-se diante de nossas mazelas, de nossos não-ditos, de nossos interditos. A lucidez dos filmes pode ser desigual (nem sempre dá para concordar com eles). Mas nunca se pode negar sua integridade.

TV PAGA

Pereio abriga o tiroteio do cantor Lobão

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O dom polêmico do programa "Sem Frescura", do ator e agora apresentador Paulo César Pereio, se atira, na edição de hoje, ao pai de todos os polemistas na música brasileira atual: Lobão.
O entrevistado segue a loa já conhecida por muitos. Defende a numeração de CDs. Trata o jabaculê (dinheiro pago por gravadoras para ter suas músicas veiculadas no rádio e na TV) como "falsidade ideológica", "censura", "abuso de poder econômico", "prevaricação", "estupro coletivo". Responsabiliza gravadoras e artistas que são "heróis nacionais" pelo estado de coisas. Pereio lhe faz claque: "O jabá transforma o público numa grande claque".
Trata com verbos no passado dos discos de ouro falsos que Gugu Liberato costumava entregar em seu programa -não teve tempo para comentar que o mesmo volta a acontecer agora, quando a cantora Simone recebeu, no programa de Fausto Silva, disco de ouro não comprovado pela entidade responsável (ABPD).
O tempo esquenta quando Lobão conta que sua revista musical, "Outracoisa", tentou em vão ouvir o ministro da Cultura (e músico) Gilberto Gil numa reportagem sobre jabá. Do Ministério da Cultura, o repórter foi remetido ao Ministério das Comunicações, que o mandou ao da Justiça, que o devolveu ao MinC. Gil terminou mudo. "Ele parece um porta-aviões, faz shows no mundo todo, mas como ministro não está fazendo porra nenhuma", arremata um Lobão exaltado.
Quando dá trégua aos "inimigos", Lobão narra o sucesso de sua independência daquele esquema. Pereio novamente faz claque: "Você tem conseguido levar sua vida com dignidade e completamente independente". No mesmo tom, fala da "Outracoisa" e acaba falando de si: "É impressionante como tem gente de primeira que só aparece nos [veículos de comunicação] alternativos". É que Pereio e Lobão são o espelho invertido de Faustão e Simone.