|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mostra recupera refinamento de Flieg
Alemão ganha retrospectiva no Instituto Moreira Salles do Rio, que vem a SP em 2011, e livro a ser lançado neste ano
Fotógrafo da 1ª Bienal diz que Photoshop perde beleza da velhice e que Brasil assimilou muitos vícios externos
IARA CREPALDI
EDITORA DE FOTOGRAFIA DA SERAFINA
Das primeiras fotos feitas
em 1932 com uma câmera de
3x4, na Alemanha, até a exposição "Flieg: Fotógrafo",
que abre amanhã no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro, Hans Gunter Flieg, 87,
produziu 59 mil imagens. E
quase foi esquecido.
Em São Paulo desde 1945,
Flieg registrou, até 1988, a
expansão industrial, a história do design, da arquitetura,
da arte e da publicidade no
país. Fotografou para Pirelli e
Mercedes, para as agências
Standard e Thompson e foi o
fotógrafo da primeira Bienal
de Arte de São Paulo.
Suas imagens ultrapassam a dimensão documental. São refinadas, elaboradas e modernas. "Ele tinha
um trabalho autoral apesar
das imposições dos clientes", comenta o fotógrafo
Bob Wolfenson.
Com 180 fotos e curadoria
de Sergio Burgi, a mostra
-que migra para São Paulo
em 2011 e fará parte de um livro lançado neste ano- é
uma retrospectiva da obra do
alemão, que deu entrevista à
Folha, por telefone.
Folha - Como o movimento
Bauhaus [escola de vanguarda alemã que envolvia arte,
arquitetura e design] o influenciou?
Hans Gunter Flieg- Tem a
ver com as escolas onde estudei, com as aulas de foto em
Berlim, com a arquitetura
alemã. A casa dos meus pais
tinha esculturas contemporâneas, pinturas atuais, móveis lisos.
Eles patrocinavam o museu da nossa cidade, Chemnitz, terra de expressionistas
e ligada ao movimento de
pintura e artes gráficas.
O senhor era conhecido por
ser minucioso mesmo em fotos industriais.
Na Mercedes, para fotografar a produção de caminhões, parei toda a fábrica e
deixei os empregados em posição de trabalho, mas imóveis. O diretor disse que, se a
agência aparecesse comigo
de novo, perderia a conta.
O que acha do Photoshop?
Um aspecto do Photoshop
é o embelezamento, como no
botox. Mas acho que o envelhecimento é embelezamento. As características de uma
pessoa são as marcas de sua
vida. Por que esconder? O
que sobra? Nada. A manipulação iguala todos.
Isso ultrapassa a fotografia, tem a ver com o aumento
das populações, com a descaracterização de tudo. Com
190 milhões de habitantes, o
Brasil perdeu seus conceitos
próprios, sua tradição, e assimilou vícios externos.
Por que parou de fotografar e
o que fez depois?
O aumento de fotógrafos
diminuiu os cachês, que deixaram de me interessar. Com
a idade, a barriga cresceu e já
não subo mais em pontes de
guindaste. E, com a tecnologia digital, a importação de
material analógico ficou escassa. Daí, perdi o gosto e fui
trabalhar no meu acervo... E
vivi um pouco.
FLIEG: FOTÓGRAFO
QUANDO a partir de amanhã, de
ter. a sex., das 13h às 20h; sáb.,
dom. e feriados, das 11h às 20h;
até 21/10
ONDE Instituto Moreira Salles (r.
Marquês de São Vicente, 476, Rio,
tel. 0/xx/21/3284-7400)
QUANTO grátis
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: "Acordo todos os dias com vontade de mudar o mundo" Índice
|