São Paulo, segunda, 10 de agosto de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice VÍDEO - LANÇAMENTOS Os homens dançam e descobrem despindo-se que ainda podem ser admirados apesar da dignidade perdida com o desemprego, em "Ou Tudo ou Nada", ou desvendam sua sexualidade às vésperas do casamento em "Será Que Ele É?"; em ambos os filmes, eles conseguem fazer rir de situações normalmente desesperadoras
OU TUDO OU NADA MARIANE MORISAWA da Redação
Como resgatar a dignidade e a
vontade de prosseguir de um
bando de desempregados, feridos em sua masculinidade já
que não podem mais sustentar
suas famílias?
Em "Ou Tudo ou Nada", à
semelhança de todas as cidades
industriais da Inglaterra, a próspera Sheffield dos anos 70 está,
na década de 90, abandonada
com seus bairros projetados e
fábricas falidas.
Os desempregados são muitos, e eles se reúnem na agência
de empregos, apesar de não restar nenhuma esperança de um
trabalho decente.
Para Gaz (Robert Carlyle, de
"Trainspotting" e "O Padre"), torna-se imprescindível
arrumar dinheiro. Devendo há
muito tempo a pensão alimentícia para a ex-mulher e o filho,
ele corre o risco de não mais poder vê-lo e, pior, de perder completamente sua confiança, já
bastante abalada.
Não por menos: além de recusar o empreguinho numa fábrica que a ex lhe oferece, Gaz já foi
preso e só faz o filho Nathan
(William Snape) passar vergonha.
O melhor amigo de Gaz, o
igualmente desempregado Dave
(Mark Addy), está ameaçando
seu casamento por conta da baixa estima, acumulada em vários
quilos a mais de gordura. Afastou-se da mulher, Jane, que
pensa que ele já não a ama.
Então, o trambiqueiro Gaz,
vendo todas as mulheres da cidade se trancarem em um show
de striptease masculino, encontra a solução para conseguir ficar "rico" -algumas libras
bastam para isso.
Juntam-se à dupla o ex-chefe
Gerald (Tom Wilkinson), que
ainda não teve coragem de contar à mulher sobre a demissão,
seis meses atrás, e o músico
quase suicida e novo amigo
Lomper (Steve Huison).
O quarteto abre inscrições para montar o seu próprio show.
Desesperados e fascinados com
a possibilidade de ganhar algum
dinheiro, ultrajados com a situação de absoluta inutilidade
que enfrentam, desempregados
da cidade se candidatam.
Dois felizardos saem vencedores: o quase vovô Horse, que diz
que dançava break, mas anda
visivelmente enferrujado, e o
bem-dotado e duro de cintura
Guy (Hugo Speer).
O problema: como fazer com
que as mulheres de Sheffield,
acostumadas aos musculosos
chippendales, paguem para ver
tirarem a roupa os homens feios
e degradados que cansaram de
olhar nas ruas e em casa e que
além de tudo não sabem dançar?
Só mesmo se eles apelarem e
partirem para o "full monty",
o nu total, que os chippendales
não oferecem.
Em princípio desprezado por
Nathan, Gaz reconquista seu filho ao mostrar que finalmente
está tentando fazer algo para
deixar a fama de vagabundo.
Como é preciso muita coragem para dançar sem saber, parecer sexy sem ser e executar o
"full monty", começa aí a recuperação da dignidade há muito perdida pelos seis desempregados, abandonados na sala da
agência, desprezados por suas
mulheres e sentindo-se inúteis.
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