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ÓPERA - CRÍTICA
Versão de "Don Giovanni" é a melhor da década
IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha
Até que enfim deram uma dentro. Apesar das limitações, o "Don
Giovanni" que estreou na última
sexta no Teatro Alfa é a melhor
versão da ópera de Mozart que
subiu aos palcos paulistanos nos
anos 90 e a primeira montagem lírica assistível de São Paulo nos últimos 12 meses.
Alugada da Ópera Zuid, de
Maastricht, a cenografia fixa e
despojada garantiu o ritmo ágil
da produção -já que o fator que
mais costuma emperrar montagens de "Don Giovanni" são justamente as constantes trocas de
cenário.
Com tal material nas mãos, o diretor britânico Aidan Lang mostrou uma concepção inteiramente calcada no jogo entre as cores
vermelha (representando Don
Giovanni) e azul (para seu rival,
Don Ottavio).
Privilegiando o efeito em detrimento do todo, Lang obteve alguns resultados interessantes
-como a hilária utilização da
porta como adereço cênico no
sexteto "Sola, Sola in Bujo Loco",
do segundo ato.
A agilidade da cena foi plenamente correspondida pela música
-com as madeiras em noite particularmente inspirada, a Orquestra Experimental de Repertório
conseguiu, sob a batuta segura de
Jamil Maluf, não apenas acompanhar os cantores sem atropelo,
mas produzir um pouco de boa
música por conta própria.
No elenco, destaque absoluto
para o Leporello de Sandro Christopher, um dos maiores talentos
cômicos da cena lírica nacional.
Presença constante no palco ao
logo das três horas de ópera, o barítono mostrou-se vocalmente seguro, cenicamente impecável e
com fôlego para cantar de pé,
ajoelhado e até deitado.
Também vale destacar a Donna
Anna de Laura de Souza -pequenos escorregões na complicada linha vocal não invalidam sua
dramática caracterização do personagem, com um impressionante registro grave que até parecia
herdado do cantor que interpretava seu pai, o baixo José Gallisa.
Retornando a papéis mais adequados a seu registro depois de
desventuras puccinianas, o casal
Fernando Portari (Don Ottavio) e
Rosana Lamosa (Zerlina) teve
performance satisfatória.
O mesmo não pode ser dito de
Zbigniew Macias. Encarregado de
interpretar o personagem-título,
o barítono polonês mostrou volume e resistência. Contudo escorrega no italiano e, o que é mais
grave, carece do carisma necessário para quem está cantando um
dos maiores sedutores da história
da música.
Escaladas para papéis pouco
adequados para seus respectivos
registros vocais, as jovens revelações Sandro Bodillon (Masetto) e
Luciana Bueno (Elvira) tiveram
atuações opostas.
O barítono Bodillon soube
compensar a falta de graves com
desempenho cênico convincente.
Já a bela mezzo-soprano Bueno
parecia desperdiçada em uma
parte que exige muito de seu registro agudo -justamente aquele
em que sua voz mostra preocupante tendência a recuar.
No fim, os resultados artísticos
alcançados só fazem aumentar a
torcida para que saia do papel a
cogitada segunda temporada de
"Don Giovanni", no mês que
vem, no Municipal. Resta esperar
que nas eventuais récitas nesse
teatro sejam cobrados preços de
ingressos que possam viabilizar o
acesso de mais gente à genial música de Mozart.
Avaliação:
Ópera: Don Giovanni
Onde: Teatro Alfa (r. Bento Branco de
Andrade Filho, 722, Santo Amaro, São
Paulo; tel. 0/xx/11/5963-4000)
Quando: hoje e dia 13, às 20h30; dia 15,
às 17h
Quanto: de R$ 80 a R$ 120
Patrocinadores: Banco Sudameris e
Alfa Romeo
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