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POPLOAD
Enxugue as lágrimas e conforme-se: acabou
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Coce-se. O Streets está nas
ruas. Ganhou edição nacional nesta semana o poderoso CD
"A Grand Don't Come for Free",
novo CD do produtor-prodígio
Mike Skinner, rapper branco inglês que foi além-fronteiras com o
principal de suas bandas-projeto:
The Streets.
Freqüentador assíduo desta coluna desde que lançou o ótimo
"Original Pirate Material", em
2002, Skinner é um geniozinho
pop do underground que no
aconchego de seu quarto, com o
computador no colo, desde "Pirate" vem chamando a atenção por
fazer o hip hop dialogar com música eletrônica variada e até punk
rock. Isso não é a novidade.
Também não é novidade a espertíssima capacidade de Skinner
em construir em rimas o cotidiano de um carinha ordinário inglês. O que tem problemas de grana, odeia o trabalho, ama futebol,
é viciado em game, não troca nada por um pub com amigos e vive
em altos e baixos nos relacionamentos amorosos. Cara comum.
O negócio é que, de um dia para
o outro, Skinner saiu do circuito
indie para alcançar o povo. Streets
virou popular na Inglaterra. Megapopular. Tanto que virou objeto de estudo sociopolítico no Reino Unido. Tudo por causa do segundo single de "A Grand
Don't...", o CD que sai no Brasil. A
música: "Dry Your Eyes".
"Grand" é um disco de uma história só. Da primeira à última faixa. E, quase no final, vem a arrebatadora, romântica, triste "Dry
Your Eyes", um poema sobre rap
tosco, calminho, sobre o inconformismo de um cara quando a
garota o larga. "Enxugue os olhos,
companheiro. Eu sei que você
gostaria de fazê-la ver o quanto
está doendo. Mas o jeito é desencanar, esquecer. Está acabado",
diz parte do refrão.
Por causa da dolorida "Dry
Your Eyes", o álbum, depois de
dois meses lançado, foi içado ao
primeiro lugar da parada inglesa
de álbuns durante o final de julho
e quase agosto inteiro. A música,
claro, estacionou no topo do chart
de singles e lá ficou, soberana.
Aí a Inglaterra parou para tentar
entender por que uma música daquele apelo era sucesso no país inteiro. Porque o moleque de dentes
tortos Skinner está longe de ser
um galã popular e nunca havia
vendido muitos discos, fora do
seu alcance, hum, independente.
E, de repente, lá estava "Dry Your
Eyes" tocando no "Sunday Love
Songs", de Steve Wright, famoso
programa standard de "românticas", quase só de flashbacks, da
Radio Two.
A discussão, nas rádios, nos jornais, talvez até no Parlamento, é
que uma música tão baixo-astral
como essa conseguia o feedback
popular nas vendagens por causa
da fossa em que vive a população
inglesa. Seja desde pela derrota da
seleção inglesa na Eurocopa, por
causa do clima de terrorismo que
assombra a Europa ou porque a
situação econômica do inglês comum não está nada fácil.
"Dry Your Eyes" ainda deve
causar outros estragos no baixo-astral inglês. A música que está no
disco não é a idéia original pensada por Skinner. A faixa foi gravada com um convidado especial
que, por conflitos de gravadora,
não pôde ir para a versão final de
"Grand". O refrão da música, que
pede para Skinner desencanar do
amor perdido, seria cantado por
Chris Martin, do Coldplay.
Parece que a única vez em que
ela apareceu ao público foi num
programa de uma rádio americana, no começo do ano. Mas, depois, Skinner foi impedido de
mostrá-la por causa dos entraves
comerciais. Mas, logo, logo, essa
versão escapa à superfície.
lucio@uol.com.br
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