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CINEMA
Cineasta de "Amarelo Manga" chama diretor de "Carandiru" de "imbecil" e agride platéia em premiação no Rio
Assis xinga Babenco em entrega de prêmio
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Cláudio Assis, cineasta de
"Amarelo Manga", teve na noite
de quarta-feira seu mais marcante
desempenho no papel de ovelha
negra do cinema nacional.
Quando Hector Babenco subiu
no palco do Cine Odeon, no Rio,
para receber o troféu de melhor
diretor do Grande Prêmio TAM
do Cinema Brasileiro, por "Carandiru", ouviu da platéia um grito: "Imbecil!". Era Assis, que iniciou uma série de impropérios
contra Babenco e o público.
"Eu sou Cláudio Assis e você é
um escroto. Eu falo o que eu quero. Vão todos tomar no cu. Eu falo, eu falo, eu falo", gritou, enquanto saía da sala.
O coro de vaias para Assis se
transformou em palmas para Babenco, que ouviu tudo de braços
cruzados.
"Cláudio, eu gosto muito do seu
filme. Não sabia que você era uma
pessoa tão indelicada", disse Babenco quando seu desafeto já estava no hall, iniciando um discurso em que lembrou o câncer contra o qual lutou por anos.
"Esse filme ['Carandiru'] é de
uma pessoa que se salvou através
da história de seu médico [Drauzio Varella, autor do livro 'Estação
Carandiru']", lembrou Babenco.
Vaias
Curiosamente, Babenco provocara alguns apupos ao receber outro prêmio de "Carandiru", o de
melhor roteiro adaptado. "Em
São Paulo a gente trabalha muito
e não sabe fazer festa", disse ele,
pouco diplomático. Mas, depois
da atitude de Assis, Babenco virou
herói da festa.
"Ele é um escroto porque foi na
Argentina e falou mal do Lula. Eu
tenho essa imagem. Por que então
ele não fica na Argentina?", disse
Assis depois da cerimônia, referindo-se ao país em que Babenco
nasceu. Cercado por repórteres,
fez no hall um discurso pouco claro, em que a palavra mais repetida
foi "respeito".
"Esse prêmio é uma demagogia.
O cinema brasileiro é uma mesmice. Sempre foi e será. Para
mim, o que importa é ser honesto,
ter respeito, é olho no olho", bradou o diretor.
Instigado por um repórter, ainda atacou outro cineasta. "Quem
é Cacá Diegues? Não é nada. Ele se
contradiz o tempo todo", disse.
"Amarelo Manga" só ganhou um
prêmio: melhor fotografia, de
Walter Carvalho, que também
trabalhou em "Carandiru".
Cerimônia morna
Não fosse a performance de Assis, a cerimônia não sairia do banho-maria. O grande vencedor,
"O Homem que Copiava", impressionou pelas ausências. Lázaro Ramos, que não levou o prêmio de melhor ator, teve que subir no palco seis vezes, representando Jorge Furtado (diretor, dividido com Babenco, roteiro original e longa de ficção), Luana
Piovani (atriz coadjuvante), Pedro Cardoso (ator coadjuvante) e
Giba Assis Brasil (montagem).
Selton Mello ("Lisbela e o Prisioneiro") e Débora Falabella
("Dois Perdidos numa Noite Suja") foram os melhores atores.
"Nelson Freire", o melhor longa
de documentário. "Desmundo"
ficou com os chamados prêmios
técnicos: direção de arte, figurino
e maquiagem.
O homenageado da festa foi
Paulo José. Trechos de vários filmes do ator foram exibidos e ele
interpretou um texto seu em homenagem a Joaquim Pedro de
Andrade, que o dirigiu em "O Padre e a Moça" e "Macunaíma".
Ovacionado, foi a unanimidade
positiva da noite, o avesso de
Cláudio Assis.
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