São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2004

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CINEMA

Cineasta de "Amarelo Manga" chama diretor de "Carandiru" de "imbecil" e agride platéia em premiação no Rio

Assis xinga Babenco em entrega de prêmio

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Cláudio Assis, cineasta de "Amarelo Manga", teve na noite de quarta-feira seu mais marcante desempenho no papel de ovelha negra do cinema nacional.
Quando Hector Babenco subiu no palco do Cine Odeon, no Rio, para receber o troféu de melhor diretor do Grande Prêmio TAM do Cinema Brasileiro, por "Carandiru", ouviu da platéia um grito: "Imbecil!". Era Assis, que iniciou uma série de impropérios contra Babenco e o público.
"Eu sou Cláudio Assis e você é um escroto. Eu falo o que eu quero. Vão todos tomar no cu. Eu falo, eu falo, eu falo", gritou, enquanto saía da sala.
O coro de vaias para Assis se transformou em palmas para Babenco, que ouviu tudo de braços cruzados.
"Cláudio, eu gosto muito do seu filme. Não sabia que você era uma pessoa tão indelicada", disse Babenco quando seu desafeto já estava no hall, iniciando um discurso em que lembrou o câncer contra o qual lutou por anos.
"Esse filme ['Carandiru'] é de uma pessoa que se salvou através da história de seu médico [Drauzio Varella, autor do livro 'Estação Carandiru']", lembrou Babenco.

Vaias
Curiosamente, Babenco provocara alguns apupos ao receber outro prêmio de "Carandiru", o de melhor roteiro adaptado. "Em São Paulo a gente trabalha muito e não sabe fazer festa", disse ele, pouco diplomático. Mas, depois da atitude de Assis, Babenco virou herói da festa.
"Ele é um escroto porque foi na Argentina e falou mal do Lula. Eu tenho essa imagem. Por que então ele não fica na Argentina?", disse Assis depois da cerimônia, referindo-se ao país em que Babenco nasceu. Cercado por repórteres, fez no hall um discurso pouco claro, em que a palavra mais repetida foi "respeito".
"Esse prêmio é uma demagogia. O cinema brasileiro é uma mesmice. Sempre foi e será. Para mim, o que importa é ser honesto, ter respeito, é olho no olho", bradou o diretor.
Instigado por um repórter, ainda atacou outro cineasta. "Quem é Cacá Diegues? Não é nada. Ele se contradiz o tempo todo", disse. "Amarelo Manga" só ganhou um prêmio: melhor fotografia, de Walter Carvalho, que também trabalhou em "Carandiru".

Cerimônia morna
Não fosse a performance de Assis, a cerimônia não sairia do banho-maria. O grande vencedor, "O Homem que Copiava", impressionou pelas ausências. Lázaro Ramos, que não levou o prêmio de melhor ator, teve que subir no palco seis vezes, representando Jorge Furtado (diretor, dividido com Babenco, roteiro original e longa de ficção), Luana Piovani (atriz coadjuvante), Pedro Cardoso (ator coadjuvante) e Giba Assis Brasil (montagem).
Selton Mello ("Lisbela e o Prisioneiro") e Débora Falabella ("Dois Perdidos numa Noite Suja") foram os melhores atores. "Nelson Freire", o melhor longa de documentário. "Desmundo" ficou com os chamados prêmios técnicos: direção de arte, figurino e maquiagem.
O homenageado da festa foi Paulo José. Trechos de vários filmes do ator foram exibidos e ele interpretou um texto seu em homenagem a Joaquim Pedro de Andrade, que o dirigiu em "O Padre e a Moça" e "Macunaíma". Ovacionado, foi a unanimidade positiva da noite, o avesso de Cláudio Assis.


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