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Crítica
No exílio, Glauber encontra a África
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Como não falar de "O Leão
de Sete Cabeças" (Canal Brasil, 21h30)? É um filme de
Glauber Rocha, o mais importante cineasta brasileiro em todos os tempos, o seu primeiro
filme estrangeiro, seu primeiro
filme do exílio. É também uma
produção rodada na África,
com atores europeus, o que naquele momento (1970) evidenciava o imenso prestígio do diretor fora do Brasil.
Mas como falar deste filme
que vi há séculos? Se tivesse
visto há poucas semanas, talvez
ainda soasse um tanto enigmático e árido. A começar por seu
nome: "Der Leone Have Sept
Cabeças". A questão evocada, já
neste punhado de línguas que
se cutucam no título, é, evidentemente, o colonialismo.
Essas são as línguas que invadiram a África para colonizar
e escravizar, que se encontram
nesse momento de tentativa de
descolonização, lá na África. E
os impérios, os seus servidores,
os seus mercenários estão lá
para sufocar revoluções e instalar no poder governos dóceis.
De certa forma, é um Glauber ainda deslocado o que vemos nesse filme, embora cercado de atores-amigos vindos de
vários lugares, e mesmo se
exercitando na África, um continente com inúmeras proximidades com o Brasil.
Se, desde sua primeira fase
brasileira, Glauber era um cineasta cuja obra tinha por central a idéia de Terceiro Mundo,
"O Leão", com sua África e sua
produção européia, parece representar um estranhamento
para Glauber.
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