São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006

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Crítica

No exílio, Glauber encontra a África

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Como não falar de "O Leão de Sete Cabeças" (Canal Brasil, 21h30)? É um filme de Glauber Rocha, o mais importante cineasta brasileiro em todos os tempos, o seu primeiro filme estrangeiro, seu primeiro filme do exílio. É também uma produção rodada na África, com atores europeus, o que naquele momento (1970) evidenciava o imenso prestígio do diretor fora do Brasil.
Mas como falar deste filme que vi há séculos? Se tivesse visto há poucas semanas, talvez ainda soasse um tanto enigmático e árido. A começar por seu nome: "Der Leone Have Sept Cabeças". A questão evocada, já neste punhado de línguas que se cutucam no título, é, evidentemente, o colonialismo.
Essas são as línguas que invadiram a África para colonizar e escravizar, que se encontram nesse momento de tentativa de descolonização, lá na África. E os impérios, os seus servidores, os seus mercenários estão lá para sufocar revoluções e instalar no poder governos dóceis.
De certa forma, é um Glauber ainda deslocado o que vemos nesse filme, embora cercado de atores-amigos vindos de vários lugares, e mesmo se exercitando na África, um continente com inúmeras proximidades com o Brasil.
Se, desde sua primeira fase brasileira, Glauber era um cineasta cuja obra tinha por central a idéia de Terceiro Mundo, "O Leão", com sua África e sua produção européia, parece representar um estranhamento para Glauber.


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