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CINEMA
"Meu lugar é a China", diz Zhang Yimou
AMIR LABAKI
enviado especial a Veneza
Zhang Yimou dá a volta por cima em Veneza 99. Duplamente
barrado da competição do último
festival de Cannes, o cineasta chinês revelado ao Ocidente com
"Sorgo Vermelho" em 1987 tornou-se talvez o maior favorito ao
Leão de Ouro deste ano com o divertido e tocante "Nenhum a Menos".
Um intérprete auxilia os encontros do diretor com a imprensa,
como o mantido na tarde de anteontem numa salão do Hotel Excelsior. Trajando camiseta e calça
de brim verdes e botas pretas, cabelo cortado bem rente, Yimou
parece ter bem menos que seus 49
anos.
Seu olhar triste é o único sinal
das atribulações que o têm marcado, da experiência rural forçada
pela Revolução Cultural chinesa
aos recentes atritos com a censura
comunista em seu país.
A carreira de Yimou pode ser
dividida em três momentos: sua
formação como diretor de fotografia na Academia de Cinema de
Pequim, a revelação como cineasta com uma exuberante trilogiade
filmes de época, todos estrelados
por sua então mulher, Gong Li, e a
opção por um cinema mais despojado e contemporâneo, marcado pela separação de Li.
Na entrevista, Yimou contou
sua primeira experiência com intérpretes amadores, adiantou seu
novo filme e disse que não pretender rodar filmes fora da China,
apesar das dificuldades.
Folha - Por que trabalhar com
atores não-profissionais?
Zhang Yimou - Tomei essa decisão logo depois de ler o romance de Shi Xiangsheng. Eu havia
trabalhado raramente com amadores. Quis desta vez enfatizar o
realismo. Não deixei as crianças
lerem o roteiro, pois não queria
que elas pensassem em como deveriam agir. Eu perguntava a elas
o que fariam nesta situação. E elas
improvisavam.
Folha - Qual foi a reação ao filme na China?
Yimou - O filme foi lançado lá
em maio. Tornou-se muito popular e é a segunda maior bilheteria
do ano. Eu não esperava que um
pequeno filme sobre uma escola
de interior pudesse se tornar tamanho sucesso. Houve dois tipos
de reação. Parte da pessoas o consideram um retrato realista da situação chinesa hoje. Mas um certo grupo de pessoas voltou à tradicional crítica, acusando-me de
representar a China sob um ângulo desfavorável, como um país
subdesenvolvido.
Folha - O senhor terminou outro filme depois de "Nenhum a
Menos". Ele segue esta radicalização, digamos, neo-realista?
Yimou - Não. Meu novo filme é
uma história de amor. O título é
"The Road Home" (O Caminho
para Casa). É meio histórico,
meio contemporâneo, parte em
preto-e-branco, parte em cores.
Folha - O senhor dirigiu uma
ópera fora da China ("Turandot") e deve ter recebido convites para rodar filmes no Ocidente. Pretende fazê-lo?
Yimou - Não quero rodar filmes
nos EUA. Quero ficar na China e
dirigir filmes chineses. Este é o
universo que conheço. Não gosto
dos projetos que enviam para
mim. Prefiro procurar pessoalmente material para novos filmes.
Trouxe para cá dez romances para ler (risos).
Folha - Apesar das dificuldades com a censura?
Yimou - Há problemas econômicos e políticos. Mas fazer bons
filmes é difícil de qualquer jeito.
Você tem que confiar em sua vontade e em sua paciência.
O crítico Amir Labaki viajou a convite da organização do festival
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