São Paulo, Sexta-feira, 10 de Setembro de 1999
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CINEMA
"Meu lugar é a China", diz Zhang Yimou

AMIR LABAKI
enviado especial a Veneza


Zhang Yimou dá a volta por cima em Veneza 99. Duplamente barrado da competição do último festival de Cannes, o cineasta chinês revelado ao Ocidente com "Sorgo Vermelho" em 1987 tornou-se talvez o maior favorito ao Leão de Ouro deste ano com o divertido e tocante "Nenhum a Menos".
Um intérprete auxilia os encontros do diretor com a imprensa, como o mantido na tarde de anteontem numa salão do Hotel Excelsior. Trajando camiseta e calça de brim verdes e botas pretas, cabelo cortado bem rente, Yimou parece ter bem menos que seus 49 anos.
Seu olhar triste é o único sinal das atribulações que o têm marcado, da experiência rural forçada pela Revolução Cultural chinesa aos recentes atritos com a censura comunista em seu país.
A carreira de Yimou pode ser dividida em três momentos: sua formação como diretor de fotografia na Academia de Cinema de Pequim, a revelação como cineasta com uma exuberante trilogiade filmes de época, todos estrelados por sua então mulher, Gong Li, e a opção por um cinema mais despojado e contemporâneo, marcado pela separação de Li.
Na entrevista, Yimou contou sua primeira experiência com intérpretes amadores, adiantou seu novo filme e disse que não pretender rodar filmes fora da China, apesar das dificuldades.

Folha - Por que trabalhar com atores não-profissionais?
Zhang Yimou -
Tomei essa decisão logo depois de ler o romance de Shi Xiangsheng. Eu havia trabalhado raramente com amadores. Quis desta vez enfatizar o realismo. Não deixei as crianças lerem o roteiro, pois não queria que elas pensassem em como deveriam agir. Eu perguntava a elas o que fariam nesta situação. E elas improvisavam.

Folha - Qual foi a reação ao filme na China?
Yimou -
O filme foi lançado lá em maio. Tornou-se muito popular e é a segunda maior bilheteria do ano. Eu não esperava que um pequeno filme sobre uma escola de interior pudesse se tornar tamanho sucesso. Houve dois tipos de reação. Parte da pessoas o consideram um retrato realista da situação chinesa hoje. Mas um certo grupo de pessoas voltou à tradicional crítica, acusando-me de representar a China sob um ângulo desfavorável, como um país subdesenvolvido.

Folha - O senhor terminou outro filme depois de "Nenhum a Menos". Ele segue esta radicalização, digamos, neo-realista?
Yimou -
Não. Meu novo filme é uma história de amor. O título é "The Road Home" (O Caminho para Casa). É meio histórico, meio contemporâneo, parte em preto-e-branco, parte em cores.

Folha - O senhor dirigiu uma ópera fora da China ("Turandot") e deve ter recebido convites para rodar filmes no Ocidente. Pretende fazê-lo?
Yimou -
Não quero rodar filmes nos EUA. Quero ficar na China e dirigir filmes chineses. Este é o universo que conheço. Não gosto dos projetos que enviam para mim. Prefiro procurar pessoalmente material para novos filmes. Trouxe para cá dez romances para ler (risos).

Folha - Apesar das dificuldades com a censura?
Yimou -
Há problemas econômicos e políticos. Mas fazer bons filmes é difícil de qualquer jeito. Você tem que confiar em sua vontade e em sua paciência.


O crítico Amir Labaki viajou a convite da organização do festival


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