Estréia em SP o badalado filme britânico "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes", que içou ao estrelato o (mau) ex-jogador de futebol Vinnie Jones

LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada

Prova de que o cinema também é uma caixinha de surpresas, estréia finalmente em São Paulo a bacana produção britânica "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes", comédia policial eleita o melhor filme do ano passado no Reino Unido e que catapultou para o estrelato um dos mais grossos jogadores do futebol inglês de todos os tempos: o truculento Vinnie Jones.
O nome de Jones não encabeça o elenco, cravado lá pelo sexto lugar nos créditos de atores. Mas quatro meses depois da estréia do filme na Inglaterra, o ex-boleiro perna-de-pau já recebia prêmios como o de revelação cinematográfica de 1998, concedido pela descolada revista britânica "Empire".
Foi Vinnie Jones o escolhido para viajar aos EUA e "vender" o "novo "Trainspotting'" ao mercado americano, no começo do ano, depois que "Dois Canos Fumegantes" chamou a atenção ianque ao ser uma das grandes sensações do festival independente de Sundance 99, ao lado de um certo filme sobre bruxa.
Vinnie Jones, 34 anos, é gênio. Ex-jogador, conseguiu a fama de ídolo no futebol inglês mesmo sendo um zagueiro/volante grosso e carniceiro.
Impôs respeito como capitão e foi simplesmente adorado pelos torcedores dos times que passou: Wimbledon, Chelsea, Leeds, Sheffield United e o último, o Queens Park Rangers, no qual acumulava a função de jogador e treinador quando foi içado ao cinema.
Capaz de deixar jogadores como Edmundo com fama de "anjinho", Jones ganhou a pecha de garoto mau em 1987, num jogo da Copa da Inglaterra, depois de apertar as partes baixas de Paul Gascoine, outro encrenqueiro famoso dos campos ingleses.

Máfia e Tarantino
"Dois Canos Fumegantes" é uma história de gângsteres que mostra o cinema britânico em sua melhor forma, ao colocar molho inglês numa receita que mistura filme de máfia italiana com a estética tarantinesca de "Cães de Aluguel".
O filme, bem costurada trama de encontros ao acaso, põe Jones e um bando de novos e talentosos atores às voltas com drogas, jogatina e violência.
Em "Dois Canos Fumegantes", nosso amigo Vinnie Jones interpreta Big Chris, um sujeito barra-pesada que cobra devedores de jogo, uma espécie de coletor de dívidas impiedoso.
A interpretação de Jones é tão tosca que suas sinceras expressões acabam fascinando, facetas engraçadas ao mesmo tempo ameaçadoras e humanas.
O título original, "Lock, Stock & Two Smoking Barrels", é uma adaptação de uma gíria inglesa que se aproxima do nosso "chegar rasgando" ou ainda "entrar com tudo".
O filme serviu para revelar também o jovem diretor Guy Ritchie, 30 anos, que além de versão inglesa de Tarantino foi comparado também a Danny Boyle, diretor das obras escocesas "Cova Rasa" e "Trainspotting", dois dos principais filmes britânicos da década.
"Dois Canos Fumegantes" é uma inspirada produção britânica, revela diretor dos bons e atores talentosos, tem trama legal e trilha sonora das melhores. Mas será sempre conhecido como o filme de Vinnie Jones, o grosso.


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