São Paulo, Sexta-feira, 10 de Setembro de 1999
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"No final, deu lucro", diz diretor

MICHAEL FITZPATRICK
da Reuters, em Los Angeles

Mais do que o grande sucesso de seu primeiro filme, o que realmente animou o diretor de "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes", Guy Ritchie, foi a perspectiva de estabilidade.
"No ano passado, eu não tinha nem um tostão", contou o diretor, 30, na entrevista concedida em um hotel de Beverly Hills, pouco antes da estréia norte-americana de seu filme, em março.
"Além do dinheiro, tenho pelo menos três filmes garantidos para os próximos anos; é muito reconfortante saber que terei emprego pelos próximos cinco anos. Eu gosto disso, isso mudou muito a minha vida."
Ritchie, que "fazia qualquer coisa antes de entrar para o cinema", disse que passou muitas noites dormindo no chão da casa de amigos, enquanto levantava dinheiro.
O diretor diz que conseguir o US$ 1,6 milhão gasto no filme foi "a pior experiência de sua vida".
"Não entrou dinheiro por 2 anos e meio. Londres é caríssima, então foi mesmo o caso de dormir no chão, na casa dos outros, já que deixei de ter qualquer outro trabalho para poder me dedicar ao filme - que, no fim, deu lucro."
Certamente: o filme arrecadou aproximadamente US$ 20 milhões só na Grã-Bretanha.

Coragem britânica
De fato, conseguir dinheiro usando estratégias engenhosas é o tema principal do filme, que mostra um lado muito mais corajoso dos britânicos do que o habitual na tela grande, ao contar a história de quatro rapazes do "East End" londrino que se enrolam com grupos de gângsteres rivais para conseguir as 500 mil libras (aproximadamente US$ 800 mil) que os livrarão de problemas.
Ritchie diz que sempre pretendeu mostrar britânicos diferentes do estereótipo cunhado pelas produções de época que fazem sucesso mundo afora.
"Os ingleses, em sua sabedoria, resolveram capitalizar em cima de seu estúpido passado colonial, que não me interessa, não faz a menor diferença para mim. Eu queria mostrar outro lado da nossa vida."
A comédia, que apresenta um elenco de novatos mesclados a nomes como Sting e o astro do futebol inglês Vinnie Jones, realmente leva seus gângsteres a sério.
"Metade do elenco era de vilões ou ex-vigaristas. Isso foi muito importante. É como lidar com pessoas que passaram a vida atuando, suas vidas tinham a ver com representar. É por isso que funciona, você pode selecionar pessoas que nunca tiveram nenhum aprendizado formal."

"Defeitos"
O diretor diz que sua necessidade de ganhar dinheiro impulsionou sua carreira cinematográfica.
Antes de "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" ele tinha dirigido um curta-metragem, que serviu de base experimental para o longa, além de videoclipes e comerciais.
"Eu não entrei realmente na carreira até os 25 anos, o que considero uma vantagem. Deixei a escola com 15 anos e, durante esses dez anos, acumulei um arsenal de idéias. Eu fazia qualquer trabalhinho, me enrosquei com a Justiça, viajei por alguns anos. Passado esse período, vi que tinha cansado e percebi que tinha que fazer o pé-de-meia."
Ritchie sabia que tinha um caminho duro quando decidiu pela carreira no cinema, mas achou que "ficando por perto, sobraria algo" para ele. Apesar das dúvidas iniciais sobre a aceitação do filme fora da Grã-Bretanha -sua linguagem, cenários e personagens são muito britânicos- o cineasta diz que a recepção nos EUA foi muito mais calorosa do que no Reino Unido.
"Bem, eu também sei que os norte-americanos são muito mais entusiasmados por natureza", diz. E faz a ressalva: "Não é "Máquina Mortífera 4", não tem estrelas -ou seja, tem seus defeitos".
Agora que ele tem um futuro mais garantido, diz que espera obter um orçamento maior para sua próxima produção, que deve ser um thriller policial provisoriamente chamado "Diamonds" (diamantes).
"Depois que eu tiver feito o próximo filme, que deve ficar abaixo de US$ 10 milhões, vou pensar no que mais posso gastar dinheiro. Atualmente não sei muito bem como fazê-lo."
Ele diz ainda que não se acha capaz de gastar, por exemplo, US$ 70 milhões em uma produção (apesar de isso não ser muito acima da média de Hollywood, estimada em torno de US$ 55 milhões). "Mas me dê mais um filme ou outro e provavelmente encontrarei um jeito."


Tradução de Francesca Angiolillo

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