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"No final, deu lucro", diz diretor
MICHAEL FITZPATRICK
da Reuters, em Los Angeles
Mais do que o grande sucesso
de seu primeiro filme, o que realmente animou o diretor de "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes", Guy Ritchie, foi a
perspectiva de estabilidade.
"No ano passado, eu não tinha
nem um tostão", contou o diretor,
30, na entrevista concedida em
um hotel de Beverly Hills, pouco
antes da estréia norte-americana
de seu filme, em março.
"Além do dinheiro, tenho pelo
menos três filmes garantidos para
os próximos anos; é muito reconfortante saber que terei emprego
pelos próximos cinco anos. Eu
gosto disso, isso mudou muito a
minha vida."
Ritchie, que "fazia qualquer coisa antes de entrar para o cinema",
disse que passou muitas noites
dormindo no chão da casa de
amigos, enquanto levantava dinheiro.
O diretor diz que conseguir o
US$ 1,6 milhão gasto no filme foi
"a pior experiência de sua vida".
"Não entrou dinheiro por 2
anos e meio. Londres é caríssima,
então foi mesmo o caso de dormir
no chão, na casa dos outros, já
que deixei de ter qualquer outro
trabalho para poder me dedicar
ao filme - que, no fim, deu lucro."
Certamente: o filme arrecadou
aproximadamente US$ 20 milhões só na Grã-Bretanha.
Coragem britânica
De fato, conseguir dinheiro
usando estratégias engenhosas é o
tema principal do filme, que mostra um lado muito mais corajoso
dos britânicos do que o habitual
na tela grande, ao contar a história de quatro rapazes do "East
End" londrino que se enrolam
com grupos de gângsteres rivais
para conseguir as 500 mil libras
(aproximadamente US$ 800 mil)
que os livrarão de problemas.
Ritchie diz que sempre pretendeu mostrar britânicos diferentes
do estereótipo cunhado pelas
produções de época que fazem
sucesso mundo afora.
"Os ingleses, em sua sabedoria,
resolveram capitalizar em cima
de seu estúpido passado colonial,
que não me interessa, não faz a
menor diferença para mim. Eu
queria mostrar outro lado da nossa vida."
A comédia, que apresenta um
elenco de novatos mesclados a
nomes como Sting e o astro do futebol inglês Vinnie Jones, realmente leva seus gângsteres a sério.
"Metade do elenco era de vilões
ou ex-vigaristas. Isso foi muito
importante. É como lidar com
pessoas que passaram a vida
atuando, suas vidas tinham a ver
com representar. É por isso que
funciona, você pode selecionar
pessoas que nunca tiveram nenhum aprendizado formal."
"Defeitos"
O diretor diz que sua necessidade de ganhar dinheiro impulsionou sua carreira cinematográfica.
Antes de "Jogos, Trapaças e
Dois Canos Fumegantes" ele tinha dirigido um curta-metragem,
que serviu de base experimental
para o longa, além de videoclipes
e comerciais.
"Eu não entrei realmente na
carreira até os 25 anos, o que considero uma vantagem. Deixei a escola com 15 anos e, durante esses
dez anos, acumulei um arsenal de
idéias. Eu fazia qualquer trabalhinho, me enrosquei com a Justiça,
viajei por alguns anos. Passado
esse período, vi que tinha cansado
e percebi que tinha que fazer o pé-de-meia."
Ritchie sabia que tinha um caminho duro quando decidiu pela
carreira no cinema, mas achou
que "ficando por perto, sobraria
algo" para ele. Apesar das dúvidas
iniciais sobre a aceitação do filme
fora da Grã-Bretanha -sua linguagem, cenários e personagens
são muito britânicos- o cineasta
diz que a recepção nos EUA foi
muito mais calorosa do que no
Reino Unido.
"Bem, eu também sei que os
norte-americanos são muito mais
entusiasmados por natureza",
diz. E faz a ressalva: "Não é "Máquina Mortífera 4", não tem estrelas -ou seja, tem seus defeitos".
Agora que ele tem um futuro
mais garantido, diz que espera
obter um orçamento maior para
sua próxima produção, que deve
ser um thriller policial provisoriamente chamado "Diamonds"
(diamantes).
"Depois que eu tiver feito o próximo filme, que deve ficar abaixo
de US$ 10 milhões, vou pensar no
que mais posso gastar dinheiro.
Atualmente não sei muito bem
como fazê-lo."
Ele diz ainda que não se acha capaz de gastar, por exemplo, US$
70 milhões em uma produção
(apesar de isso não ser muito acima da média de Hollywood, estimada em torno de US$ 55 milhões). "Mas me dê mais um filme
ou outro e provavelmente encontrarei um jeito."
Tradução de Francesca Angiolillo
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