São Paulo, Sexta-feira, 10 de Setembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA
Tanto maneirismo sufoca o humor

da Reportagem Local

Um crítico norte-americano disse que "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" é uma mistura dos filmes de Quentin Tarantino com as comédias dos Irmãos Marx.
Outro define o filme como "Cães de Aluguel" temperado com humor inglês. E a maioria da imprensa inglesa foi simples e direta: é o "Trainspotting" da última temporada.
Poucos filmes conseguiram inspirar tantas referências ao cinema contemporâneo quanto essa comédia com jeito de thriller dirigida por Guy Ritchie. Mas esse caminhão de citações revela o principal defeito de "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes": é um filme sem personalidade. Sobra chinfra e falta densidade cinematográfica.
Continuando no jogo das comparações, o filme é a terceira obra britânica a despertar discussão recente na crítica. O primeiro, "Trainspotting", era carregado de maneirismos, com uma vocação para ser um filme "moderno", esperto. Depois veio "Tudo ou Nada", comédia simplória, mas muito engraçada. Tão engraçada que até faturou uma inusitada indicação ao Oscar de melhor filme.
"Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" tem os maneirismos de "Trainspotting", mas não consegue inovar. Câmera lenta, textura diferente de película, fotos de "still" e outras bossas não chegam a resultado algum. E o filme tenta ser engraçado como "Tudo ou Nada". Pelo menos, nos momentos em que o diretor reduz a octanagem de ""tarantinices"" na tela. Mas o humor também não decola.
A história dos quatro "manés" que têm uma semana para pagar uma polpuda dívida de jogo com bandidos da pesada poderia poderia render um filme mais simples, mais engraçado.
O inglês sabe como poucos injetar humor em situação dramáticas e/ou mórbidas. Por isso, a violência em doses cavalares não atrapalha. Os exageros de estilo, que tornam o filme até um pouco cansativo, podem ser irritantes, mas ainda não estabelecem o principal problema.
O filme emperra realmente é no roteiro. Há um excesso de personagens (os vizinhos, os traficantes...) que não deixa a coisa toda ficar amarrada. Após tanta reviravolta, o espectador já está esperando qualquer atitude de qualquer personagem.
Com tantos defeitos listados, o que sobra? Evidências de que Guy Ritchie tem talento e é um nome a ser observado -assim como seus quatro atores principais, que prometem.
Querer enaltecer mais do que isso é embarcar na onda da crítica americana, que tem sempre vontade de achar qualquer filme inglês "sofisticado".
"Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" é só entretenimento. Principalmente quando Tarantino está na entressafra. (TM)


Avaliação:   

Título: Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes Diretor: Guy Ritchie Produção: Inglaterra, 1998 Com: Jason Flemyng, Dexter Fletcher, Nick Moran, Jason Statham Quando: a partir de hoje, nos cines SP Market 10, Belas Artes Oscar Niemeyer e Lumière 1

Texto Anterior: "No final, deu lucro", diz diretor
Próximo Texto: Canadá Capital São Paulo: Edição 99 começa hoje no Teatro Alfa
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.