São Paulo, Sexta-feira, 10 de Setembro de 1999
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"OS AMANTES DO CÍRCULO POLAR"
Filme mostra voltas de um amor predestinado

BERNARDO CARVALHO
Colunista da Folha

"Os Amantes do Círculo Polar", do espanhol Julio Medem, é um filme sobre o amor romântico como predestinação, como sinal de uma comunicação divina, mágica ou sobrenatural, o que o mantém na fronteira entre o comovente e o artificioso.
Otto e Ana se conhecem aos 8 anos. Ana está inconformada com a morte do pai. Ao mesmo tempo, o pai de Otto e a mãe de Ana se encontram à saída do colégio, enquanto esperam os filhos, e passam a viver juntos.
Otto está apaixonado por Ana, mas de início ela só consegue ver nele uma possibilidade fantasiosa de comunicação com o pai, como se o menino fosse um intermediário para as palavras do morto.
Anos depois, quando os dois já se tornaram amantes secretos e Ana descobriu a paixão por Otto, ele também vai projetar nela, ao sobreviver a um acidente suicida, a mãe recentemente morta.
Tudo aqui é circular, a começar pelos nomes anagramáticos dos dois protagonistas, Otto e Ana. Como as crianças do filme, todos querem acreditar que o amor é uma comunicação circular, que nunca termina, prevalecendo à morte. E o círculo polar é a metáfora desse infinito idealizado: um lugar exótico e mítico onde o sol nunca se põe, mas avança sempre em linha horizontal.
O círculo polar é esse lugar que os dois amantes, em sua inocência infantil, elegem como a representação ideal do amor romântico, e é onde o filme termina, com um reencontro que é também um desencontro, no norte da Finlândia.
A idéia por trás dessa mitologia romântica e inocente é que todos estão ligados pelo amor, como se fossem parte de um único corpo que as casualidades dão a ilusão de estar separado, cindido.
Uma série de coincidências entre pessoas e momentos do passado e do presente faz com que haja uma conversão de tudo para os dois amantes, confirmando sua ligação predestinada, quase cósmica.
Ainda menina, Ana vai se apaixonar por Otto no instante em que ele lhe revelar a origem do seu nome, uma homenagem a um piloto alemão que o avô do garoto havia salvado durante a guerra.
A partir daí, não haverá mais lugar para o acaso, nem mesmo quando a mãe de Ana se apaixona pelo filho de um piloto alemão chamado Otto, nem quando Otto decide se tornar piloto de uma companhia que faz entregas no círculo polar.
Se "Os Amantes do Círculo Polar" pode parecer às vezes muito artificial, é por ser narrado como uma fábula. Porque no mundo que o filme retrata, regido pela crença no amor romântico, tudo acontece por predestinação, e é sóno encontro dos amantes que o círculo se fecha e as coisas passam a fazer sentido.


Avaliação:    


Filme: Os Amantes do Círculo Polar Produção: Espanha, 1998 Direção: Julio Medem Com: Najwa Nimri, Fele Martínez e Nancho Novo
Onde: a partir de hoje, nos cines Metrô Tatuapé 6, Espaço Unibanco 1 e SP Market 6


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