São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pinóquio ganha versão para o cinema, com o italiano Roberto Benigni, e exposição em São Paulo

Século de mentiras

LUCIA HELENA ISSA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DA ITÁLIA

Cavalos azuis, fadas, borboletas gigantes, construções surreais. Uma cidade cenográfica está nascendo em Papigno, Úmbria, a 150 km de Roma, em uma das regiões medievais mais mágicas da Itália. No local, o cineasta italiano Roberto Benigni, 48, do premiado "A Vida É Bela", está construindo o mundo de "Pinocchio", uma das maiores produções da história do cinema italiano.
"Pinóquio", a fábula escrita por Collodi em 1882, conquistou várias gerações de crianças, com a saga do menino feito com pedaços de madeira pelo carpinteiro Geppetto. Um menino irreverente, inteligente, cujo nariz crescia a cada vez que ele omitia a verdade ou uma parte dela. O que talvez poucos saibam é que a história se transformou em uma das maiores obras da literatura universal e no livro mais vendido no mundo depois da Bíblia e do Corão. O texto de Collodi foi traduzido em 150 países, da China a El Salvador.
""Pinóquio" é uma obra de puro fundamentalismo, mas um fundamentalismo da alegria. É um personagem que sempre sonhei interpretar, mas somente agora, que tenho quase a idade de Gepeto, posso fazer o Pinóquio... O personagem fascina porque é contraditório, uma mistura de Dom Quixote, Fausto, Hamlet e Édipo. É como um bombardeio de alegria, mas também de dor, perdas, buscas e de todos os ingredientes da vida... É até engraçado, pois a idéia de produzir "Pinocchio" vem sendo alimentada há tempos, mas só ganhou forma agora, em um momento nada afetuoso para a humanidade", diz Roberto Benigni, radiante, enquanto caminha pelo set com jornalistas de todo o mundo.
O filme, escrito por Roberto Benigni e Vincenzo Cerami, é uma produção da Melampo Cinematográfica, a produtora independente fundada por Benigni e sua mulher, Nicoletta Braschi.
Para construir o universo de "Pinocchio" foram construídas três cidades cenográficas, com 3.000 mē cada uma.
Papigno, a cidadezinha umbra localizada no chamado "cuore verde di Itália", parece ter entrado em total simbiose com o cinema italiano e, por aqui, cada morador orgulha-se de abrigar o maior complexo cinematográfico da Europa. A simbiose procede. Segundo o produtor-executivo de "Pinocchio", o romano Mario Cotone, "o filme é uma produção inteiramente italiana, desde os 250 artesãos que trabalham na cenografia, passando pelo diretor de fotografia, Dante Spinnoti, até chegar aos protagonistas: Benigni (Pinocchio), Carlo Giuffrè (Geppetto), Peppe Barra (Grilo Falante) e Nicoletta Braschi (Fada)".
"Pinóquio carrega dentro de si todas as contradições do mundo. Reler o livro foi quase como redescobrir um hino à vida. Além disso, o filme quer resgatar o olhar infantil no imaginário coletivo", completa Benigni.
No set, chama a atenção o nome de Danilo Donati, 75, um dos grandes magos da cenografia italiana, que trabalhou com Federico Fellini e Franco Zefirelli nos anos 60 e foi o criador do cenário de filmes como "Romeu e Julieta". O cenógrafo, que descobriu o cinema aos 17 anos, afirma que hoje tem que "aceitar compulsoriamente os efeitos especiais realizados pelo computador".
"Pinocchio", produção cujo valor total gira em torno de 40 milhões de dólares, chega aos cinemas no próximo Natal (no Brasil, estréia 24 de janeiro). Até lá, os artesãos do senhor Donati estarão trabalhando em plena harmonia com a face high-tech, dando cores e formas aos sonhos de Benigni.


Texto Anterior: Aos 120 anos, Pinóquio nasce mais uma vez
Próximo Texto: "Walt Disney traiu Pinóquio", diz cartunista italiano Sergio Staino
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.