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Pinóquio ganha versão para o cinema, com o italiano Roberto Benigni, e exposição em São Paulo
Século de mentiras
LUCIA HELENA ISSA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DA ITÁLIA
Cavalos azuis, fadas, borboletas
gigantes, construções surreais.
Uma cidade cenográfica está nascendo em Papigno, Úmbria, a 150
km de Roma, em uma das regiões
medievais mais mágicas da Itália.
No local, o cineasta italiano Roberto Benigni, 48, do premiado
"A Vida É Bela", está construindo
o mundo de "Pinocchio", uma
das maiores produções da história do cinema italiano.
"Pinóquio", a fábula escrita por
Collodi em 1882, conquistou várias gerações de crianças, com a
saga do menino feito com pedaços de madeira pelo carpinteiro
Geppetto. Um menino irreverente, inteligente, cujo nariz crescia a
cada vez que ele omitia a verdade
ou uma parte dela. O que talvez
poucos saibam é que a história se
transformou em uma das maiores
obras da literatura universal e no
livro mais vendido no mundo depois da Bíblia e do Corão. O texto
de Collodi foi traduzido em 150
países, da China a El Salvador.
""Pinóquio" é uma obra de puro
fundamentalismo, mas um fundamentalismo da alegria. É um
personagem que sempre sonhei
interpretar, mas somente agora,
que tenho quase a idade de Gepeto, posso fazer o Pinóquio... O
personagem fascina porque é
contraditório, uma mistura de
Dom Quixote, Fausto, Hamlet e
Édipo. É como um bombardeio
de alegria, mas também de dor,
perdas, buscas e de todos os ingredientes da vida... É até engraçado, pois a idéia de produzir "Pinocchio" vem sendo alimentada
há tempos, mas só ganhou forma
agora, em um momento nada afetuoso para a humanidade", diz
Roberto Benigni, radiante, enquanto caminha pelo set com jornalistas de todo o mundo.
O filme, escrito por Roberto Benigni e Vincenzo Cerami, é uma
produção da Melampo Cinematográfica, a produtora independente fundada por Benigni e sua
mulher, Nicoletta Braschi.
Para construir o universo de
"Pinocchio" foram construídas
três cidades cenográficas, com
3.000 mē cada uma.
Papigno, a cidadezinha umbra
localizada no chamado "cuore
verde di Itália", parece ter entrado
em total simbiose com o cinema
italiano e, por aqui, cada morador
orgulha-se de abrigar o maior
complexo cinematográfico da Europa. A simbiose procede. Segundo o produtor-executivo de "Pinocchio", o romano Mario Cotone, "o filme é uma produção inteiramente italiana, desde os 250 artesãos que trabalham na cenografia, passando pelo diretor de fotografia, Dante Spinnoti, até chegar
aos protagonistas: Benigni (Pinocchio), Carlo Giuffrè (Geppetto), Peppe Barra (Grilo Falante) e
Nicoletta Braschi (Fada)".
"Pinóquio carrega dentro de si
todas as contradições do mundo.
Reler o livro foi quase como redescobrir um hino à vida. Além
disso, o filme quer resgatar o
olhar infantil no imaginário coletivo", completa Benigni.
No set, chama a atenção o nome
de Danilo Donati, 75, um dos
grandes magos da cenografia italiana, que trabalhou com Federico Fellini e Franco Zefirelli nos
anos 60 e foi o criador do cenário
de filmes como "Romeu e Julieta". O cenógrafo, que descobriu o
cinema aos 17 anos, afirma que
hoje tem que "aceitar compulsoriamente os efeitos especiais realizados pelo computador".
"Pinocchio", produção cujo valor total gira em torno de 40 milhões de dólares, chega aos cinemas no próximo Natal (no Brasil,
estréia 24 de janeiro). Até lá, os artesãos do senhor Donati estarão
trabalhando em plena harmonia
com a face high-tech, dando cores
e formas aos sonhos de Benigni.
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